JOSÉ CHAGAS, 101 ANOS
José Neres
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| Breve conversa com José Chagas, em 2006 Fonte: arquivo do autor |
Hoje, 29 de outubro de 2025, lembramos a passagem do 101° ano do nascimento de José Chagas, o poeta e cronista paraibano que adotou o Maranhão como segunda terra e que escreveu inúmeros textos - em prosa e em verso - sobre o Estado no qual viveu por décadas.
Aproveito a data para lembrar alguns episódios que de alguma forma interligam minha história de vida com a trajetória do grandioso José Chagas, de quem sou admirador.
1 - Hoje é dia de…
Sempre acordei cedo. Mas, durante muitos anos, despertar aos sábado tinha um sabor especial. Era o dia em que saía, no jornal O Estado do Maranhão, a coluna Hoje é dia de José Chagas. Todos os ocupantes da coluna nos demais dias eram muito bons. Mas os textos de Chagas tinham algo de diferente. Ele, despretensiosamente, fazia o leitor ter a doce ilusão de imaginar que escrever era fácil. Sua crônicas traziam uma mescla bem equilibrada de crítica social e poeticidade.
Acredito que muitas pessoas também comungavam desse “vício” de ler Chagas aos sábados.
2 - Chagas em pessoa
Em 2005, ganhei, no Concurso Cidade de São Luís, o Prêmio Odylo Costa, filho, com o livro Restos de Vidas Perdidas. Como parte da premiação havia a publicação do livro e o lançamento coletivo das obras.
Na tarde/noite do lançamento, lá estava José Chagas quase ao meu lado, na área destinada aos escritores Félix Alberto Lima e Manoel dos Santos Neto, que venceram o Prêmio De Jornalismo com o livro-reportagem “Chagas em Pessoa”.
Foi também, naquele momento, meu primeiro contato com Félix, que hoje é meu amigo e confrade na AML.
3 - O primeiro contato
A primeira vez que estive frente a frente com José Chagas foi no lançamento de de um livro do poeta Luís Augusto Cassas.
Ao ser apresentado a ele, comentei que admirava sua obra e que o considerava um dos grandes poetas do Brasil. Ele deu um leve sorriso e comentou: “Não sou bem um poeta. Sempre fui um lavrador. Na Paraíba, eu lavrava a terra para sobreviver. No Maranhão encontrei uma terra boa. Deixei de lavrar a terra e comecei a lavrar palavras. Hoje não sou mais um lavrador. Tornei-me um pa-lavrador”.
Era realmente um sábio e um grande cultor das palavras.
4 - Após uma palestra
Fui convidado, pela Academia Maranhense de Letras, a proferir a palestra sobre o centenário de José Chagas. Diante se uma Casa lotada, falei por mais de uma hora sobre a vida e abra do auto de “Os Canhões do Silêncio”
Após a sessão de perguntas, um cidadão chegou para mim e disse que estava impressionado com a qualidade literária de Chagas, a quem admirava desde muito tempo. A pessoa só não sabia que Chagas também escrevia livros. Só conhecia suas toadas de bumba-meu-boi. Claramente aquele “fã” havia confundido o poeta Chagas, com o também grandioso cantador Chagas.
Acontece!
5 - Na qualificação…
Minha tese de doutorado trata sobre dois aspectos pouco explorados da poesia de José Chagas: sua relação com a sustentabilidade e com o meio ambiente.
Um dos membros da banca de qualificação - que não conhecia a poesia de Chagas, assim como todos os demais - encheu o poeta de elogios e disse: “Em determinado momento, após acabar de ler seu trabalho, fiquei com minha esposa na varanda da casa e ficamos até tarde lendo os poemas de José Chagas e nos impressionamos com a sensibilidade poética dele”. O professor, após um longo suspiro, concluiu: “Como é que o Brasil ainda não conhece esse poeta?”
Confesso que também não sei… mas tenho minhas suspeitas…
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Hoje, depois de mais de uma década de seu falecimento, sempre que leio as crônicas e os poemas de Chagas fico com uma dúvida: como ele retrataria os dias atuais em sua obra?
Mais uma questão sem resposta.

Como é bom ter boas lembranças. Nota-se que José Chagas foi uma importante influência em sua vida. Tenho um sincero apreço pela sua dedicação em manter viva a lembrança dos seus queridos.
ResponderExcluirSempre bom ler um texto do prof Neres. Especialmente, esses episódios históricos e, sobretudo, de existência , que celebram os 101 anos do poeta.
ResponderExcluirQue belo texto para celebrar José Chagas, escritor que me encanta com poesias repletas de uma intensa sensibilidade sobre tudo que escreve!Obrigada, Neres. Seus textos nos trazem sempre ótimos conteúdos literários.
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