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domingo, 3 de agosto de 2025

REVISTA TIJUBINA

 Novos artigos de segunda #43

REVISTA TIJUBINA 

José Neres 

Imagem criada com auxílio de Inteligência artificial 


Sempre foi grande a reclamação de que não tínhamos publicações voltadas exclusivamente para a literatura local. As poucas que existiam estavam vinculadas a veículos de comunicação e apareciam ou desapareciam de acordo com as situações econômicas dos órgãos às quais estavam ligadas. Ou seja, tinham de alguma forma um viés político e pecuniário.

Foi pensando nisso que, em 2011, resolvi publicar o informativo Ilhavirtualpontocom, que era inteiramente dedicado a tratar das letras maranhenses, incentivando a produção local. No início, pensei que seria uma empreitada fácil, afinal de contas eu estava cercado de pessoas que escreviam e receber textos para publicar seria uma tarefa simples. Mas não foi bem assim…

Era uma verdadeira batalha conseguir textos para o informativo. Mas isso foi solucionado de modo relativamente simples: eu mesmo escrevia, revisava, editava, diagramava e colocava no ar a maioria das matérias. As demais, eu conseguia graças à colaboração de alguns alunos da faculdade onde eu ministrava aulas ou às carinhosas colaborações literárias de alguns amigos.

Sempre que saía uma edição, eu a enviava por e-mail a pessoas que possivelmente teriam interesse no assunto. Aproximadamente 500 contatos recebiam a publicação em PDF. Desse montante, cinco ou seis acusavam o recebimento e davam uma dose de incentivo em forma de palavras afetuosas e encorajadoras. As demais postagens ecoavam um total silêncio.

Rapidamente, percebi que as mesmas pessoas que clamavam por material sobre literatura ignoravam quando esse material chegava a suas mãos. Parece que o bom sempre foi reclamar, reclamar e reclamar. 

Não desisti e cheguei a publicar mais de quarenta números do Ilhavirtualpontocom.

Apenas uma pessoa demonstrava total interesse pela publicação, ligava perguntando quando sairia o próximo número, comentava cada uma das edições, dava sugestão de pauta e chegou mesmo a conceder uma entrevista: era o poeta e amigo Carvalho Junior 

No final de março de 2021, todos os amantes da literatura maranhense sentiram-se abalados com a precoce partida daquele grande poeta com alma de menino. Em sua homenagem, no mesmo dia de seu falecimento, coloquei no ar uma edição em sua homenagem e decidi fechar o projeto. Tinha certeza de que ninguém sentiria falta daquele informativo de oito, dez, doze ou dezesseis páginas que só divulgava o que praticamente ninguém tinha interesse em ler ou ouvir.

Dito e feito. Apenas duas ou três pessoas sentiram a ausência do Ilhavirtualpontocom, que circulou durante dez anos e deixou poucos rastros, mas que ainda está aí pela internet, para quem quiser consultá-lo.


Capa do primeiro número da Revista Tijubina 


Não. Não estou fugindo do tema. Fiz todo esse histórico para dizer como surgiu a ideia de publicar a Revista Tijubina. 

Após o falecimento de Carvalho Junior, um incansável divulgador cultural, repassei alguns áudios e notas nos quais ele reconhecia a importância do Ilha… e pedia para não deixar de publicar aquele material pelo qual ele tinha muito carinho. Mas o Informativo já estava encerrado. 

Foi então que comecei a pensar em alguma forma de homenagear aquele amigo tão querido. Veio a ideia de editar uma revista. Como ele mesmo se denominava o Homem-Tijubina, que era o título de um de seus livros, não tive dúvida: a publicação se chamaria Revista Tijubina, mas não seria dedicada apenas às letras e a cultura do Maranhão. Teria um escopo um pouco mais amplo. Falaria de literatura e de outras artes, e não apenas voltadas para o Maranhão.

Como não poderia deixar de ser, o número de estreia foi dedicado ao poeta Carvalho Junior, que está sempre presente, de alguma forma, em todas as edições.

Claro que as dificuldades continuam as mesmas. Porém os colegas não são mais incomodados por e-mail. Coloco um link nas minhas redes sociais e em grupos de comunicação instantânea voltados para as letras e as artes. Quem tiver interesse acessa o material e pode baixar, ler ou arquivar a Revista. 

Mas desconfio que o efeito é o mesmo dos e-mails. Assim como acontecia com o Ilhavirtualpontocom, raramente recebo algum retorno, e os relatórios mostram que o interesse das pessoas por esse tipo de assunto é baixo.

Como alguns amigos me autorizaram - sem ônus - a utilizar seus textos, fico mais tranquilo e aos poucos vou reduzindo a presença de meus próprios artigos na Revista. O bom de tudo é que posso seguir uma linha editorial sem amarras e conotações políticas, financeiras ou ideológicas. 

Neste final de julho de 2025, chegamos ao nono número da Tijubina, com capa em homenagem ao padre e escritor João Mohana. Antes tivemos a seguintes capas:

Número 1 - Carvalho Junior 

Número 2 - Gonçalves Dias 

Número 3 - Antônio Carlos Lima

Número 4 - Rogério Rocha

Número 5 - José Chagas

Número 6 - Adélia Prado

Número 7 - Lucy Teixeira 

Número 8 - Josué Montello 


Adianto logo que o próximo número será uma homenagem à escritora Laura Rosa.

Sigamos juntos na luta pela literatura, pois como disse o grande compositor Antônio Vieira, “se tu não quer, tem quem queira”... O importante é não parar. 

Não pararemos!

Capa do oitavo número da Revista Tijubina 


segunda-feira, 28 de julho de 2025

NHOZINHO: O POETA DA ESCULTURA

 Novos artigos de segunda #42

Fonte da Imagem: Arquivo do autor


NHOZINHO: O POETA DA ESCULTURA

José Neres

 

            Geralmente ficamos tão maravilhados com a aparente grandeza das coisas que não percebemos que há beleza também em detalhes às vezes imperceptíveis para os olhos de quem se acostumou a fixar-se apenas no que parece gigantescamente deslumbrante. Da mesma forma, servimos como caixa de ressonância a nomes nacional ou mundialmente conhecidos e silenciamos (ou nem mesmo conhecemos) os valores artísticos e culturais de nossa própria terra.

            Talvez por conta desse incômodo silêncio a respeito dos talentos locais, o nome de Antônio Bruno Pinto Nogueira, mais conhecido como Nhozinho, seja pouco lembrado, embora figure entre os mais originais e importantes escultores da arte brasileira do século XX.

            Nascido em Cururupu, no dia 17 de maio de 1904, Nhozinho, desde a infância, demonstrou inclinação para as artes que exigiam atenção, perícia, precisão e habilidade manuais.  Mal começava a entrar na adolescência, porém, começou a lutar contra uma doença degenerativa que deixaria seus membros superiores e inferiores deformados e que, posteriormente, após a amputação de ambas as pernas, iria condená-lo a locomover-se em um carrinho de madeira por ele mesmo projetado e construído, mas que atendia às suas necessidades. Para completar seu rol de provações, o artista ainda perdeu a visão do olho direito.

            Mas essas tantas dificuldades não impediram Antônio Bruno de produzir uma obra ímpar na história do artesanato brasileiro. Na verdade, parece que as extremas dificuldades serviram como impulso para que o artista maranhense se superasse e evoluísse em seus trabalhos, deixando de ser apenas mais um artesão habilidoso e impregnando suas obras de motivos e temas da vida social e folclórica maranhense; saindo também do estaticismo das peças para imprimir ideia de movimento a suas criações.

            Dono de um estilo em que o minimalismo na escolha do tamanho das peças contrastava com a profusão de detalhes, Nhozinho notabilizou-se também por registrar os tipos regionais, em uma busca de reproduzir elementos representativos de seu povo e de sua época. Observando-se atentamente as obras desse artista, muitas vezes com a necessidade de uma lente de aumento, é possível perceber a riqueza de detalhes e o desejo dele em eternizar em suas peças detalhes que passavam despercebidos. De alguma forma, guardadas as proporções e respeitados os estilos, pode-se dizer que Nhozinho registrou e esculpiu em buriti e outros suportes o dia a dia da gente de sua época, tal qual o poeta latino Catullo imortalizou em palavras o próprio cotidiano e as inquietações dos seus contemporâneos romanos. Em Roma, o poeta Catullo decidiu desenhar sua época com palavras em suas famosas “nugaes”. Séculos depois, no Maranhão, Nhozinho optou por narrar em mínimas esculturas as grandezas esquecidas de seu povo.

            O artista faleceu em São Luís poucos dias depois de completar seu septuagésimo aniversário, no dia 23 de maio de 1974. Como a maioria dos artistas populares, Nhozinho também teve seu trabalho relegado ao olvido, mas aos poucos vem sido resgatado graças aos esforços de pesquisadores como Zelinda Lima, que muito lutou pelo reconhecimento desse artista, e de Roldão Lima, autor do livro "Vida e Arte de Nhozinho", publicado cinco anos após o passamento do escultor.

            Mais recentemente o trabalho desse fantástico artista tem despertado o interesse de intelectuais como, por exemplo, Paulo Herkenhoff, Lélia Coelho Frota e Luciana Carvalho, todos reconhecidos nacionalmente como alguns dos mais representativos estudiosos das artes brasileiras.

            Atualmente, boa parte da produção do mestre maranhense pode ser visitada na casa-museu que leva seu nome (Rua Portugal, 185, Centro Histórico).  Sua vida e sua obra também já renderam alguns artigos, exposições e livros, como "Nhozinho: Imensas Miudezas" (vários autores), que reúne trabalho de diversos pesquisadores. Mas ainda há muito a ser descoberto e (re)avaliado na obra desse artista que transformou deficiência em eficiência soube colocar o máximo de seu talento no mínimo espaço necessário à realização de seus sonhos artísticos.


A SAÚDE MENTAL DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO

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