Novos artigos de segunda #31
NOSSA SEMANA
José Neres
HABEMUS PAPAM
Desta vez, a espera não foi tão longa assim. Após dois dias de Conclave, a fumaça branca anunciou que a Igreja Católica já tinha um novo Sumo Pontífice.
Mal a notícia foi divulgada, como que por encanto, boa parte da população mundial se transformou em especialista não apenas em “Papalogia”, mas também em “Achologia” e em “Futurologia”. Nos grupos de mensagem, o que mais e lia era que o novo Papa era isso, era aquilo; que tudo havia sido uma armação mancomunada com certo presidente de certo País. Que o Papa Leão XIV, por haver nascido nos Estados Unidos, era incompetente, capitalista, anti-Cristo e daí por diante.
O mais interessante é que muitas pessoas que vivem pedindo compreensão e que dizem que é desumano julgar as pessoas apenas pelas informações superficiais, que é preciso esperar para poder tomar alguma decisão não apenas estavam julgando, como também condenando um homem que mal havia sido escolhido para um importante cargo e para uma função de grande responsabilidade.
É muita contradição, muita pressa para comentar o que não se sabe, pouco discernimento e muita vontade de aparecer…
CORRUPÇÃO
A notícia de um desvio de seis bilhões e trezentos milhões de reais, depois transformados em cerca de noventa bilhões e depois projetados para cerca de duzentos bilhões foi destacada em todos os veículos de comunicação do Brasil, com repercussão em boa parte da imprensa mundial.
Nós, brasileiros, como não temos boa memória, ainda nos assustamos com os escândalos e com as roubalheiras de nossos representantes. Mas o que causou espanto desta vez foi a condição das vítimas: pessoas aposentadas que lutam mês a mês pela sobrevivência. Idosos deveriam ser acolhidos, protegidos e amados, contudo são alvos fáceis para furtos e abusos.
Novamente, todos os envolvidos na falcatrua juram inocência e prometem investigação rápida, justa e certeira. Porém, pelo que se vê e se escuta, nossos políticos estão mais preocupados em jogar a sujeira na conta de seus respectivos desafetos do que em averiguar a veracidade dos fatos.
Os dois lados agem como se fossem uma torcida organizada ou talvez uma facção tentando eliminar a concorrência: “A culpa é de Fulano!”, “O culpado é Sicrano!”. Até mesmo quem foi roubado toma partido e defende seus ídolos de barro.
Confesso que todo início de semana já fico imaginando qual será o próximo escândalo e quanto tempo essa indignação tão seletiva irá durar.
Nossa sorte é que o Brasil é rico e pode ser sangrado à vontade por todas essas corjas que se penduram nas tetas do Estado ou que devoram os restos que foram deixados para trás. São abutres devorando a carne do povo mesmo antes que a Morte faça seu trabalho…
LANÇAMENTOS
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Fonte da imagem: arquivo do autor |
Quem vive em São Luís não pode reclamar de falta de lançamento de livros. Mas claro que todos aqueles que trabalham com a literatura podem lamentar a falta de público e o descaso com os escritores.
No dia do lançamento de um livro, magicamente quase todo mundo tem algum compromisso inadiável e urgente, urgentíssimo…. mas o bom é que sempre há aquelas pessoas maravilhosas que comparecem e alegram a vida dos escritores.
Semana passada, estive em dois lançamentos. Coincidentemente, de duas mulheres pesquisadores falando sobre duas mulheres que já partiram, mas que deixaram suas marcas em nossa cultura
Na sede da Academia Maranhense de Letras, a professora e pesquisadora Gabriela Santana escreveu mais um capítulo de nossa história literária ao publicar uma aprofundada pesquisa sobre Mariana Luz, uma importante escritora de Itapecuru, cuja obra tem sido resgatada, para a alegria de quem admira a boa prosa e a boa poesia em língua portuguesa.
No dia seguinte, foi a vez da pesquisadora e romancista Miriam Angelim brindar o público presente no auditório da AMEI com o lançamento de “Quando a poesia se fez Violeta do Campo”, um importante e necessário estudo sobre a vida e obra de Laura Rosa.
Meus aplausos a quem continua escrevendo em uma terra onde as letras são desprezadas até mesmo por quem diz (em público) amá-las. Mas acho que esse amor “é da boca pra fora”, conforme podemos ouvir na letra de uma famosa música.
AMIZADES COLORIDAS
Os últimos relatórios sobre os livros mais vendidos no Brasil deixaram bem claro que boa parte das pessoas tem preterido a leitura em prol da atividade de colorir desenhos. Quem observar com atenção, verá que em quase todos os lugares há alguém com um estojo de canetinhas e um livro-caderno com desenhos que serão calma e cuidadosamente coloridos.
Talvez seja apenas mais um hobby, um passatempo inocente para desestressar as pessoas durante ou depois de um exaustivo dia de trabalho. Mas talvez seja algo mais preocupante com seus reflexos em um futuro bem próximo. De qualquer forma, é visível que os livros estão nas mãos das pessoas, porém algumas estão cada dia mais distantes das palavras, das leituras e das outras pessoas.
DESPEDIDAS
Em menos de duas semanas, perdi duas colegas de profissão. Ambas foram boas companheiras de luta pela educação e deixaram suas marcas por onde passaram.
Primeiro, recebi uma mensagem de um colega anunciando falecimento da professora Michelle Bahury, uma flor de candura colhida no momento em que se preparava para realizar um de seus maiores sonhos.
Na véspera do Dia das Mães, ao me atualizar sobre as notícias do dia, encontro a notícia do passamento da professor Zenir Pontes, com quem trabalhei durante vários anos.
Registro aqui meus sentimentos por essas duas professoras que lutaram dia após dia por uma educação melhor. Meus respeitos a elas e meus sentimentos a todos os amigos e familiares.
A Morte não costuma respeitar nossos sonhos e nem sempre deixa tempo para nossas despedidas...