segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

PROMESSAS QUE NAO CUMPRIREI

 Artigo de Segunda #14



PROMESSAS QUE NÃO CUMPRIREI 

José Neres 


Nas passagens ano, as pessoas costumam, física ou mentalmente, fazer uma lista de planos que desejam cumprir no ano seguinte. Essa lista aparece logo depois da constatação de que o rol de projetos do ano que se finda ficou apenas na promessa mesmo. Então, diante de uma ligeira crise de arrependimento, a pessoa decide fazer uma nova lista e prometer: “Desta vez vai dar certo!”

Não sou muito fã de listas, mas como às vezes tento parecer normal, decidi enumerar alguns objetivos que não cumprirei. Podem me cobrar no final de 2025. Se alguém até lá se lembrar do que digo hoje.

Vamos à lista:

domingo, 29 de dezembro de 2024

24 - UBIRATAN TEIXEIRA

 Ubiratan Teixeira foi o primeiro escritor maranhense que li depois que voltei para minha terra natal. Até hoje me lembro do dia em que peguei emprestado, na biblioteca da antiga Escola Técnica Federal do Maranhão ( hoje IFMA), o livro O Banquete. Eu era ainda um garoto, mas fiquei impressionado com a força narrativa daquele escritor a quem anos depois iria conhecer pessoalmente e com quem trocaria várias ideias 

Sua coluna era uma das minhas preferidas no Jornal O Estado do Maranhão. Suas crônicas, contos e novelas são exemplos de boa prosa e de excelente uso da linguagem escrita. 

Faz uma década que esse escritor fantástico partiu. Mas sua vasta obra continuará para sempre entre nós, sempre trazendo uma lição de estética 




UBIRATAN TEIXEIRA 
José Neres 
(Para Eduardo Teixeira)

A vida não é peça de único ato,
Nem um mero levantar de bandeira,
Nela jamais assinamos contrato 
Que garanta felicidade inteira…

A vida cheira a labirinto nato
Ou a ilha toda cercada de sujeira.
A vida tem na parede um retrato 
De banquete, pecado e de fogueira.

Há, nos bastidores da vida, um trato
Que faz de cada pessoa uma herdeira
Deste nosso pequeno mundo abstrato…

Nos palcos da vida, uma cena inteira
Lembra que, mesmo em silêncio ingrato:
Sempre "é dia de Ubiratan Teixeira”.




José Neres e Ubiratan Teixeira em um evento na Academia Maranhense de Letras 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

23 - RAIMUNDO CORREIA

 Raimundo Correia (1859-1911) é um dos mais importantes poetas parnasianos da literatura brasileira. Seus versos geralmente conduzem o leitor para um olhar pessimista sobre a vida, contudo sua poesia aborda diversas outras temáticas.



RAIMUNDO CORREIA
José Neres 

(Para Claunísio Amorim)

Já sem revoada, a última pomba
Revela nosso mal mais secreto.
E nosso coração, como uma bomba,
Finge ser tão puro, leal, discreto…

Uma imagem de cavalgada tomba
Na floresta, bem longe do concreto,
Mas aquele som ainda ribomba
E ecoa enquanto leio ou interpreto…

Um só raio no mar ao mundo assombra
Quando habita em verso tão correto
Vindo de uma parnasiana sombra,

Esculpido em correia a traço reto,
Como se a palavra fosse alfombra
Onde descansam pai, filho e neto.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

22 - JOSUÉ MONTELLO

 O homenageado de hoje é o grande polígrafo Josué Montello (1917-2006), autor de mais de uma centena de obras, entre elas "Os tambores de São Luís", "Cais da Sagração" e "Noite sobre Alcântara"



JOSUÉ MONTELLO
José Neres 
(Para Joseane Souza)

Não importa se é abril, março, agosto…
Os tambores tornam tudo mais belo…
Ventos e brisas dedilham o rosto
Da menina sob o sol amarelo.

Lá no Cais da Sagração, em seu posto,
Grande pescador amola o cutelo…
Tantas marcas no rosto de desgosto,
Tantos sonhos em desfeito castelo…

Andando, aquele velho sente o gosto
De tão longo viver sem paralelo
E vê proibido amor pagando imposto

Por serem moças em um proibido elo…
Eis, então, quadro muito bem composto
Pela pena de Josué Montello.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

SOBRE A GPTIZAÇÃO DO PSEUDO CONHECIMENTO

 Artigo de segunda #13


SOBRE A GPTIZAÇÃO DO (PSEUDO)CONHECIMENTO 

Imagem criada por Inteligência Artificial - só para provocar 


José Neres 


Nossos pais e avós geralmente nos diziam: “Estude, meu filho, que o conhecimento é a única coisa que ninguém irá tirar de você.” Eram verdadeiros sábios…

No entanto, hoje, quando muitas pessoas acalentam a ilusão de que todo o conhecimento do universo esteja nas pontas dos dedos ou na palma de uma das mãos, torna-se uma tarefa bastante complexa convencer alguém alimentar o cérebro a partir de leituras e de outras atividades mentais.

Deseja “escrever” um projeto para concorrer a uma vaga em um curso de pós-graduação? Aparentemente você nem precisa mais estudar. Basta digitar os comandos corretos e esperar que o texto venha prontinho para colar e copiar, com todas as referências necessárias, claro!

O professor pediu para ler um livro? Nada de perder tempo. Basta jogar o PDF em um aplicativo e extrair um resumo, quem sabe até com os slides que serão usados durante a apresentação do trabalho que não fiz sobre o texto que não li. 

Deseja “criar” um poema, um conto, um livro de auto-ajuda ou mesmo um romance para impressionar as pessoas com seu vasto “conhecimento”? Nada de ser criativo ou de gastar horas e mais horas diante de um teclado. Basta pedir com jeitinho que a Inteligência artificial lhe entregará tudo devidamente organizado e formatado, com capa e tudo, conforme prometem os anúncios propalados nas redes sociais.

Se o objetivo for impressionar alguém durante uma conversa informal, basta - disfarçadamente (ou não) - acionar um dos motores de busca e lá está a informação necessária.

O professor passou aquela atividade, mas você acha que tem coisa mais importante a fazer? Basta apontar seu aparelho para o problema e, rapidamente, a resposta estará diante de seus olhos. Na hora da prova, basta esperar a distração de quem estiver fiscalizando e… zaz… eis a resposta prontinha. Basta copiar.

Até parece mágica… Mas é a tecnologia pronta para poupar seu tempo e seu cérebro, que, por sinal, parece que só tem espaço para decorar a coreografia de algumas dancinhas de poucos segundos e para mandar uma ordem automática para seus dedos correrem sobre a tela de seu dispositivo móvel.

Mas - pelo menos acredito - a culpa não é das inovações tecnologias ou da avalanche de aplicativos e sites que disponibilizam acesso às chamadas Inteligências Artificiais. As tecnologias deveriam ser vistas como elementos facilitadores de execução de algumas algumas tarefas, mas estão sendo utilizadas como substitutas até mesmo das questões mais simples. Mais do que nunca, as máquinas deixaram de ser apenas uma extensão de nossos corpos e passaram a ser os substitutos ideais de nosso cérebro e até de nosso comportamento.

Temos hoje a impressão de que não precisamos mais aprender as tarefas corriqueiras. A convivência diária está sendo substituída pelas curtidas e compartilhamentos daquilo que nos interessa. Mesmo que nem sempre o que postamos esteja pautado no que realmente vivemos. Vendemos para nossos “seguidores” uma imagem que não corresponde ao que realmente somos. Curtimos uma vida que queríamos ter. Aplaudidos e somos influenciados por pessoas que veremos pelo brilho de uma tela.

Há um aplicativo para todas as nossas necessidades, informa a chamada que passa rapidamente por nossos olhos e ouvidos. Criamos ídolos que - depois de mil edições - falam perfeitamente, sabem de tudo, dão as melhores respostas para nossos problemas, pensam por nós, tiram nossas dúvidas, pedem curtidas, compartilhamento, dinheiro e até nossa vida.

Olhamos mais para as coloridas telas dos aparelhos do que para as cores da natureza. Sorrimos mais para uma placa de led ou de plasma do que para as pessoas que cruzam nossos caminhos diariamente. Ouvimos mais os conselhos de nossos “influenciadores” do que a voz de nossos pais, de nossas mães. Nós nos comunicamos mais e melhor com quem está fisicamente distante do que com quem está ao nosso lado, às vezes esperando um sorriso ou uma palavra - que dificilmente virão, já que estamos sempre ocupados e nem temos tempo para nós mesmos. Imagine para os outros. 

Hoje, quando tanta informação está a um clique, parece que as pessoas não sabem o que fazer com os dados que recebem. Difícil guardar tudo em um cérebro já cansado de ser bombardeado com tanto conteúdo. Então, para muitas pessoas, é mais fácil e cômodo poupar as energias e pedir ajuda até para as tarefas mais simples e usuais. 

Possivelmente, daqui a pouco, os pais aconselharão seus filhos da seguinte maneira: “Não estude, meu filho. Não perca seu precioso tempo. Tudo está em suas mãos. Mas cuidado para não perder seu celular, seu tablet ou seu computador. Alguém pode roubar todo esse vasto conhecimento que você (não) tem, mas que é seu”.

Ao desligar o aparelho e tentar olhar para dentro de nós mesmos, iremos conhecer a vastidão do nosso próprio vazio. Mas parece que nem saberemos o que é isso… possivelmente, seremos o próprio vazio sem uma conexão.

Tomara que eu esteja errado!

sábado, 21 de dezembro de 2024

RUA DO VIEIRA

 

Fonte da imagem: Arquivo pessoal do autor 

Nasci na Rua do Vieira, em São José de Ribamar. Embora tenha passado poucos meses por lá e visitando apenas raramente o local, sei que ali estão minhas raízes e as ramificações de minha família 

Deixo então essa pequena homenagem a esse chão que me viu nascer.


RUA DO VIEIRA

José Neres

(Para minhas avós - Maria Paula, materna;
e Maria Isabel, paterna)

I

Aquela rua parecia estanque
As notícias corriam devagar
Ali em São José de Ribamar:
Santo-Cidade de amor e de sangue.

Foi ali que nasci, um menino exangue,
Perto da lama, do céu e do mar.
Era pleno Carnaval. Era noite de luar…
Primeiro cheiro que senti foi do mangue.

Foi na tímida rua do Vieira,
Onde canta o Sabiá sem palmeira
Que derramei meu primeiro chorar.

Com tantas lágrimas por derramar,
Deixei aquela íngreme ladeira
Onde está minha lágrima primeira.


II

E Depois, ainda na infância minha,
Ao Vieira voltei para visitar…
A rua parecia outro lugar
Só então conheci minha madrinha

Primos, tios e uma doce vozinha
Com brancos cabelos a pentear…
Na sala, outra vovó estava a cantar,
Orando, uma singela ladainha.

Era janeiro, a rua a toda em festa
Vida e saúde agradecia a Deus…
Só pessoa boa e muito honesta…

Ali estão tantos parentes meus,
Com calos nas mãos e suor na testa
Sobrevivendo dos trabalhos seus.


III

Diante da casa de piso rude
Existe um muro feito de memória 
Onde, por mais que viaje ou se estude,
Está enterrada nossa bela história.

Seja na doença, seja na saúde,
Nosso passado é nossa maior glória,
Foi nele que fiz tudo o que pude 
Foi nele que plantei minha vitória.

Todo passado é indelével açude 
Onde afogar-se é cena obrigatória
E perde-se pode até ser virtude.

O que digo não é peça de oratória:
Meu passado cola em mim como grude
Mas não me vejo preso em rotatória.


IV

Após dobrar o canto do Cruzeiro
Com a Vieira logo se depara,
Pode ser o ponto verdadeiro
Onde todo bom coração dispara.

Lá no final há um porto pioneiro 
Onde o vulto de meu pai me prepara
Uma pescada assada no braseiro,
Com o sal da saudade misturada.

Ali mamãe conta o pouco dinheiro
De toda uma vida sempre regrada 
Seja em dezembro, seja outro janeiro…

Se toda rua pode ser sagrada,
Nosso lugar deve ser o primeiro 
Pois ali teve origem nossa estrada…


sábado, 14 de dezembro de 2024

SALAS VAZIAS

 


Todo professor tem que conviver com as inevitáveis despedidas. Cada fim de ano marca o final de uma convivência que nem sempre foi amistosa, mas que, obrigatoriamente, deve ter sido marcada pela aprendizagem mútua. 

Cada vez que um professor entra em uma sala de aula ele não apenas ensina, ele também aprende. Muitas vezes, aprende mais que ensina. Cada aluno ou aluna é um ser humano único. E, da convivência quase diária com cada um deles, nasce uma lição de vida, uma aprendizagem que valerá para a vida inteira.

Deixo o texto abaixo para agradecer a cada um de vocês pelos momentos de aprendizagem. No próximo ano, na carteira que vocês ocuparam até agora, haverá um outro aluno, uma outra aluna, mas, mesmo distantes, vocês permanecerão vivos na história de nossa Escola. 

Desejo sucesso para cada um de vocês!

FELICIDADES! 🎈 


SALA VAZIA

(José Neres)

Para todos os alunos do 
Centro de Ensino Jackson Lago)


E quem disse que a sala está vazia?
Não! Ali habitam as recordações…
Ali ainda pulsam mil corações 
Ali mora eterno mar de alegria…

Em silêncio, ela sempre traduzia 
Dúvidas, anseios, medos, ilusões…
Imprimia no quadro as mil lições 
Que vocês receberam cada dia…

Hoje, a luz apagada não esconde
A saudade jogada em cada canto
E pede que o sucesso sempre ronde

E que proteja, com seu lindo manto,
Seja tão perto, seja bem distante,
Essa moçada que mereceu tanto!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

CORDEL - O MENINO DE CUJUPE

O MENINO DE CUJUPE

José Neres

(Uma homenagem a Dino Cavalcante)




1

Preste atenção, minha gente 
Que uma história vou contar
De um menino inteligente
Que nasceu pra ensinar,
Que enfrentou chuva e enchente
Para poder estudar.

2
De boa família veio,
De um lar edificante, 
E viveu sempre no meio
Duma alegria pujante,
Pois derivou bem do seio
Da família Cavalcante.

3
Filho de Alinice e Francisco,
Do Cujupe é herdeiro,
Ali é menino arisco
À sombra do cajueiro
Sem jamais correr o risco
De só pensar em dinheiro.

4
De família numerosa,
Da terra é senhor feudal,
Ama poesia e prosa,
E nada faz de ilegal.
Ali colhe uma rosa,
Nasce ideia genial.

5
Sua terra ele deixou
Para poder estudar.
Para lá sempre voltou,
Ali deseja ficar.
Coração ali plantou,
Bem ali renascerá.

6
Como aluno dedicado,
Logo ele se destacou. 
Era muito elogiado
Por colega e professor
Belo dia, instigado,
O magistério abraçou.

7
E sendo bom professor 
Pras escolas é convidado, 
Sempre dá aula com amor:
Reino, educator e Estado…
Por ali ele passou
E sempre será lembrado.

8
De sua pena brotou
Currículo exemplar
Que inveja sempre causou 
Em quem não soube estudar
Em quem sempre acreditou
Sorte ser tudo alcançar.

9
"Canto selvagem" chegou;
Uma "Reflexão" surgiu,
Tanto artigo publicou
Por todo nosso Brasil,
Tanto livro organizou,
Tanta prosa corrigiu.

10
Se formou na Federal 
Em Letras, mas não para.
Força de vontade sem igual,
Segue para Araraquara,
Defende tese doutoral,
Ainda mais se prepara.

11
Mas, ainda no mestrado,
De Arthur Azevedo tudo
Leu em caderno anotado,
Tornou paixão em estudo,
Em estudo organizado
De veludo encadernado.

12
Da Uema foi concursado
E ali, com coração a mil,
Em um gesto bem ousado,
Publicou seu "Bar Brasil",
Em momento complicado 
Deste país varonil.

13
E daquela Federal
Onde antes se formou,
Após concurso normal,
Que com mérito passou,
Assumiu em tom formal
E tornou-se professor.

14
Uma bela serenata
Pra Idenir um dia fez
Sob a lua cor de prata.
E ela, por sua vez, 
Deu-lhe a menina Renata, 
Princesa com altivez.

15
Um belo dia reuniu
Um grupo pesquisador,
Assim o GELMA surgiu
No meio do esplendor,
Em verso e prosa “buliu”
Por prosa e verso andou.

16
Quem será esse menino
Lá no Cujupe criado?
Que desde bem pequenino
Em ler se viu viciado?
Que enfrentou o destino
Para ser homem formado?

17
Para ser mestre e doutor?
Conhecer livros a fundo?
Bom filho, pai, professor.
Deixar as marcas no mundo
Calcadas por onde for
De modo sempre profundo.

18
Como talento faz falta
Nem vou seguir mais avante
Como a noite já vai alta
E o dia é velho infante
Seu nome lavrado em ata
Lê-se: Dino Cavalcante.

19
Dino, esse amigo dileto,
De todos companheiro,
Professor nobre e experto,
De janeiro a janeiro,
Trabalha no que acha certo,
Em análise é certeiro.

20
Este cordel de pé quebrado,
Que foi escrito sem calma,
Chega a seu fim declarado
Pedindo salva de palma
Para esse homem culpado 
Só de ter essa imensa alma.


São Luís, 02 de abril de 2023.







21 - MARANHÃO SOBRINHO

 Maranhão Sobrinho (1879-1915) é um dos grandes poetas do Simbolismo brasileiro. Sua obra ainda oferece inúmeras possibilidades de leituras e de interpretações. 

É para ele que vai nossa homenagem de hoje.


MARANHÃO SOBRINHO 

José Neres 

(Para Kissyan Castro)


Imenso o nome, o talento também.
Em seu corpo ecoava poesia,
Em símbolos de dor e de alegria,
Na cova de Satã, no Mar, no Além…

Dos papéis velhos novo livro vem
Roto pela traças da alegoria,
Tal estatueta em mesa vazia,
Tal vitória em aposta por vintém…

Em vida não veio régia recompensa.
Apenas um mar repleto de ofensa
E a bocarra aberta da ingratidão.

Neste mundo onde tão pouco se pensa,
Ser Sobrinho pode ser Ser em vão 
A vagar… vagar pelo Maranhão…

domingo, 8 de dezembro de 2024

CAMÕES NO LIMBO DO ESQUECIMENTO

 Novos artigos de segunda #12



CAMÕES NO LIMBO DO ESQUECIMENTO 

José Neres 

Como ocorre sempre, final de ano é momento de reflexões. No âmbito literário, foi um ano de muitas comemorações, muitas efemérides e de muitos esquecimentos.

Uma dessas lastimáveis lacunas foi a falta de comemorações do quinto centenário de nascimento de Luís Vaz de Camões, o mais significativo escritor da língua portuguesa e o símbolo maior de nossas letras. 

Claro que nem mesmo se tem certeza de que o autor de Os Lusíadas tenha nascido em 1524, como aparece na maioria dos textos sobre ele. Claro que, na atual conjuntura, falar em literatura clássica parece algo por demais teratológico e bastante anacrônico. Claro que boa parte das pessoas nem mesmo sabe quem foi Camões e sua importância para a Língua Portuguesa. Mas simplesmente ignorá-lo creio que seja um exagero.

Desde o começo do ano, eu, ingenuamente, esperava que fosse haver algum ciclo de palestras, alguma mesa-redonda, um recital ou pelo menos um bate-papo, quem sabe uma “live” sobre nosso poeta. Contudo, se isso aconteceu, não fiquei sabendo. Nossa Athenas não é mais a mesma! As palmeiras foram decepadas e os Sabiás devem estar sem abrigo!

Lógico que fui informado sobre o fato de Camões ser o grande homenageado da FLIM (Feira do Livro de Itapecuru-Mirim). Adorei a ideia. Vi o grande ator Josimael Caldas encarnando o magistral poeta-soldado, mas não fiquei sabendo de outras manifestações. Certamente tenho trabalhado muito e ficado muito desinformado. Fazer o quê? 

Até mesmo nas aulas, quando falei sobre a importância de Camões, o único entusiasmo que senti foi o meu próprio. Os alunos não demonstram o mínimo interesse. Um aluno do último ano do ensino médio chegou mesmo a perguntar: “Camões não era aquele filho duma égua que mentia pra caramba?” Onde será que esse povo aprende isso? Os demais alunos declararam que nunca ouviram falar desse autor. Como? Du-vi-do!

Incomodado, cheguei a sugerir para algumas instituições algum tipo de homenagem ao vate que escreveu brilhantemente tanto em Medida Nova quanto na Medida Velha. Fui solenemente ignorado. Normal. Há tantas coisas mais importantes que falar de uma de nossas referências literárias!!!

Esperei que alguém me convidasse para falar algo em algum lugar sobre nosso poeta. Recebi apenas um um pedido de sugestão e um desconvite: “Você já falou aqui ano passado, acredito que seja melhor colocar outra pessoa.” Nem sei se a pessoa indicada foi contactada. Adoraria vê-la falando. 

Creio que agora já seja tarde. Estamos quase na metade de dezembro. É tempo de amigos invisíveis, de confraternizações, de tantas festividades. Para que falar de um poeta do século XVI? Falta-nos Engenho e Arte!

Para não dizer que Camões tenha sido totalmente esquecido, uma carinhosa aluna me presenteou - após uma aula sobre o Poeta - com uma bela edição fac-similar de Os Lusíadas. Esse gesto tão carinhoso valeu por todas as comemorações que eu não vi e das quais nem mesmo fiquei sabendo.


#Camoes

#Literatura

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

20 - ROSEMARY RÊGO

 Nossa homenagem de hoje é para uma talentosa escritora e incrível ser humano que teve uma breve, mas poética passagem pela Terra. Rosemary Rêgo era uma escritora sensível e que nos deixou dois livros bastante relevantes para a história de nossa literatura contemporânea 




ROSEMARY RÊGO
José Neres 
(Para Bioque Mesito)

A Morte colhe as flores do jardim.
Todas elas, mais cedo ou mais tarde,
Têm encontro marcado com o fim,
Que vem de modo heroico ou covarde.

Tanto faz se é rosa, cravo ou jasmim,
Um dia nos chegará a doce morte
Tocando tristemente seu clarim,
Tornando-nos seu eterno consorte.

Será nesse dia de desapego
Que ouvirei todo som da Liberdade,
Descerei ao meu eterno sossego,

Então sorverei o cheiro da cidade,
Lerei versos de Rosemary Rêgo,
Escritos à luz de eterna saudade.


#PoesiaMaranhense

#ResemaryRego

domingo, 1 de dezembro de 2024

CINCO SUGESTÕES DE LEITURA

NOVOS ARTIGOS DE SEGUNDA #11

CINCO SUGESTÕES DE LEITURA

José Neres


 

E eis que chega o mês de dezembro. Nossos últimos dias de 2024 se aproximam e é hora de parar um pouquinho para uma reflexão sobre o que fizemos durante todo o ano. Mesmo diante de uma correria que parece não ter fim, algumas pessoas conseguem desacelerar no período natalino e acaba sobrando um tempinho para pôr a leitura em dia ou, quem sabe, escolher um livro para presentear aquela pessoa especial.

Como faço todo final de ano – até hoje não sei se deu algum resultado positivo –, aproveito para indicar alguns livros. Tomara que você se encontre em algum deles:

1 – Caso você seja uma pessoa curiosa e cultive o bom-humor, recomendo “A verdadeira história de tudo e tudo mais” (Edições AML, 2023, 114 páginas), de José Ewerton Neto. Nesse livro, você nem mesmo precisa se preocupar com a ordem em que vai ler as saborosas crônicas de um escritor acostumado a retirar do dia a dia a matéria-prima de seu labor com as palavras. Nas páginas desse livro, você ficará conhecendo algumas curiosidades que vão do futebol (a história do Vasco, do Sampaio Corrêa) até a curiosa origem da calcinha e do chá. Tudo contado de forma divertida e cheia de malemolência. Uma ótima leitura e um ótimo presente para o final de ano!

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

19. COELHO NETO

 Coelho Neto (1864-1934) foi um dos mais importantes ficcionistas da literatura brasileira. Conhecido por seu vocabulário empolado e por sua vasta produção, esse escritor foi por diversas vezes eleito o Príncipe dos Prosadores Brasileiros. Porém sua obra, com o tempo, acabou caindo no esquecimento.





COELHO NETO

José Neres 

( A Alice Moraes)


Ele foi o grande príncipe da prosa,
Dono de rica e invejável cultura,
O último heleno da literatura,
A palavra era seu ramo de rosa.

Tentaram cavar-lhe uma sepultura,
Quiseram colocar sua obra à prova,
E de esquecimento dá-lhe uma sova,
Mas seu gênio resiste à cova escura.

Foi homem de talento sem igual,
Conquistou a Capital Federal…
Vencer um turbilhão foi seu projeto.

Ele, mesmo enfrentando tanto veto,
Provou que a morte não é um final 
E deixou seu nome: Coelho Neto.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

LÍNGUA ESPANHOLA NAS ESCOLAS

 EU DEFENDO O ESTUDO DA LÍNGUA ESPANHOLA NAS ESCOLAS PÚBLICAS 

José Neres


Não sei se já é oficial ou se é apenas mais um desses boatos que infernizam nosso dia a dia, mas vejo com extrema preocupação a notícia de que irão retirar a Língua Espanhola das escolas públicas do Maranhão.

Primeiro, não conheço algum estudo sério acerca da educação que comprove que retirar uma disciplina que pode levar o estudante a vislumbrar novos horizontes linguísticos e culturais seja bom para o alunado. A bem da verdade devo confessar que não tenho visto/lido estudos sérios sobre a educação em nosso Estado ou em nosso país.

Já cometeram o primeiro equívoco ao converter a disciplina Língua Espanhola em Cultura Hispânica/Espanhola e, por um motivo desconhecido e sem a menor base científica, retirarem do conteúdo programático os elementos linguísticos que compõem a essência da Língua Espanhola, já que o elemento básico da transmissão cultural de um povo perpassa pelo conhecimento da língua.

Já cometeram o equívoco de lotear esse componente curricular para professores que não tiveram formação acadêmica para trabalhar a disciplina. Será que em Educação vale tudo? Será que em Educação professores, alunos e toda a comunidade podem servir como instrumentos para experiências que visivelmente não darão certo?

Mas parece que não se contentaram com os equívocos anteriores e resolveram que eliminar tais falhas daria muito trabalho. Então é muito mais fácil eliminar a aparente fonte primária do problema: “Elimine-se a disciplina como um todo!”

Mas, em um caso desse porte, esses pensadores da educação não estão tirando da estrutura oficial apenas um componente curricular. Estão, sim, eliminando o sonho de uma gigantesca quantidade de pessoas.

Para que, então, milhares de professores sentaram anos e mais anos em um banco de uma universidade/faculdade a fim obterem uma formação sólida que lhes permitisse exercer sua profissão com toda a dignidade necessária para fazer cada aluno aprender da melhor forma possível? Onde ficam os sonhos de tantos graduando e graduados que sonham em exercer a profissão para a qual tanto estudaram?

Já sei! O sistema administrativo não se preocupa com os sonhos e problemas individuais… o mais importante é o bem coletivo… surge então outra dúvida: a coletividade foi ouvida? Foi feita uma pesquisa? E se tal pesquisa foi feita, quais os critérios e métricas foram utilizados? Ah, pode ser algo apenas interno… tudo bem, mas, então, por onde anda a transparência que é tão alardeada quando os interesses imperam?

E se o discente tiver o sonho de aprender a Língua Espanhola na escola, onde fica então o tão propalado projeto de vida? Onde fica a busca do protagonismo? 

E se o aluno quiser marcar a opção de Língua Espanhola na hora das provas do Enem e dos vestibulares da vida? Será justo já entrar em um concorrido jogo que define parte de nosso futuro com mais um peso da desigualdade nas costas?

Acredito que já tenha passado da hora de levar a educação a sério. Em um país praticamente cercado por falantes de Língua Espanhola, tirar o direito de alguém ter opção de estudar outro idioma é uma maldade sem limite. É uma violência silenciosa que busca silenciar ainda mais quem nunca teve tantas oportunidades…

Espero que seja apenas um boato… Espero que alguém não tenha dito a infeliz ideia de acreditar que, tirando oportunidades, a formação das pessoas dará um salto de qualidade… Espero que seja apenas boatos… Não quero acreditar que alguém seja capaz de tanta maldade e, ao mesmo tempo, defender a ideia de que esteja lutando pela educação.


#FicaLinguaEspanhola

domingo, 24 de novembro de 2024

VIANA

 




VIANA
José Neres 
(Para Lourival Serejo)

Entre os lagos e o Largo da Matriz
Sobem e descem ladeiras de pedra.
Ali, na história, um segredo medra,
Mistério que o povo ecoando diz.

Ali, o subir e descer das águas
Alterou a geografia das ruas
Deixando-as tantas vezes quase nuas
Com vidas afogadas em mil mágoas.

Em cada esquina uma casa, uma história,
Em cada rosto cansado, uma glória.
Foi ali que ontem e em tempos atuais 

Viveram grandes intelectuais:
Dilu, Edith, Celso, Anica, Mohana,
Dilu e Os Lopes - orgulhos de Viana.

PROMESSAS QUE NAO CUMPRIREI

 Artigo de Segunda #14 PROMESSAS QUE NÃO CUMPRIREI  José Neres  Nas passagens ano, as pessoas costumam, física ou mentalmente, fazer uma lis...