Novos artigos de segunda #41
Hoje trago de volta um artigo que publiquei há alguns anos, quando era colaborador assíduo do Jornal O Estado do Maranhão. Era lá que meus textos eram acolhidos e publicados. Mas, um dia tudo muda... Eis mais uma homenagem à minha querida Cidade.
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Fonte da Imagem: Arquivo do autor |
UM PASSEIO PELAS PÁGINAS DA CIDADE
José Neres
São Luís, ao longo de seus quase 413 anos, sempre serviu como musa inspiradora para inúmeros artistas. A Cidade é uma inesgotável fonte de inspiração para poetas, fotógrafos, cronistas, pintores, escultores, pesquisadores, contistas, compositores, romancistas... Suas ruas, fontes, becos e casarões, que testemunharam inúmeros crimes, conluios, amores contrariados ou bem resolvidos, também serviram de cenário para inúmeras obras literárias que podem inclusive servir como guia para um passeio literário pela Cidade.
São Luís é tão rica em aspectos culturais que a pessoa interessada pode inclusive escolher as credenciais do cicerone que descortinará os véus do tempo e da história para olhos, ouvidos, olfatos, tatos e paladares ávidos por tantas informações que circulam pelo ar em forma de narrativas, poemas, músicas, imagens e tantas outras nuances artísticas. Hoje, nesta data tão especial, circularemos pela cidade acompanhados de seus prosadores, homens e mulheres que se apaixonaram pela Ilha e derramam esse encantamento em contos, novelas e romances que têm a Cidade como cenário.
Comecemos nosso passeio sentindo o calor abafadiço da capital maranhense, narrado pelo talento de Aluísio Azevedo em seu “O Mulato”. Passeemos por ruas, casas, praças e igrejas e atentemos para o amor entre Ana Rosa e Raimundo e nos assustemos com as tramas perpetradas por Dona Bárbara e o Padre Diogo. A seguir continuemos nosso caminho ouvindo os gritos de liberdade que ecoaram da notícia da libertação dos escravos e que foram tão bem descritos, de forma ácida e crítica, por Nascimento Morais em seu “Vencidos e Degenerados”.
Sob um sol escaldante, nada melhor que parar um pouco na casa da professora de Inglês Miss Maude, a doce e reclusa protagonista de “Teias do Tempo”, romance de Conceição Aboud. Podemos subir pela “Rua do Sol”, livro de Origenes Lessa, escritor paulista que viveu parte da infância na capital maranhense e daqui tirou parte de sua inspiração. Nesse périplo, podemos conviver com os dramas de Bárbara de Sena, mais conhecida como “Maria da Tempestade”, que, pelas mãos de João Mohana, viveu uma tórrida e trágica história de amor com o jovem Guilherme e teve seu destino cruzado com o da enigmática Cora Mendes.
Nessa jornada pela Cidade, é quase impossível em algum momento não cruzarmos com Cínzia e Luíza, personagens do Romance “A Parede”, de Arlete Nogueira da Cruz, ou mesmo cruzar os passos com uma senhora idosa a pedir esmolas pelas ruas do Centro Histórico, em sua eterna litania. É bom passar pelo Lira/Belira e conhecer “Maria Arcângela”, protagonista de Erasmo Dias, em novela homônima. Sem dúvida, iremos tentar dar alguns passos de bumba meu boi inspirados por essa bela e sofrida moça.
É importante não se assustar quando, em uma noite de chuva, um cachorro-quente se transformar no “Monstro Souza”, interessante criação de Bruno Azevêdo, nem com o horrível crime do Desembargador Pontes Visgueiro, que assassinou a jovem Mariquinhas e escondeu o corpo da garota em uma caixa, como conta o saudoso Waldemimo Viana em “A Tara e a Toga”. Quase ao fim de nossa caminhada, ainda dá tempo de conhecer a história de “Ana Jansen”, narrada por Rita Ribeiro e de passear pelo Baixo Meretrício na prosa de Wilson Martins, em “Candelabro de Deus”. Sobra pouco tempo, mas ainda o suficiente para ouvir “O Entrevistador de Lendas” na voz e na pena de José Ewerton Neto.
Finalmente, façamos uma parada no “Cais da Sagração”, sigamos até o “Largo do Desterro”, e ali esperemos Damião, que nos guiará por toda a Cidade ao som de “Os Tambores de São Luís”, tendo sem suas mãos um mapa cuidadosamente desenhado por Josué Montello.
Com um pouco mais de vontade esse passeio-trajeto pode ser feito também com base na inspiração de poetas, cronista, compositores... Basta tentar e seguir a rota das artes...
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Fonte da imagem: Arquivo do autor |
Muito bom o texto!
ResponderExcluirÉ uma viagem pela cidade e pela literatura.
Parabéns!
Foi reconfortante relembrar os momentos de leitura das obras e escritores de São Luís. Obrigada pelo seu zelo em manter a memória.
ResponderExcluirParabéns, prof. Neres! Sua escrita poética sobre outros escritores é incrível.
ResponderExcluirA cultura literária traz uma das melhores miradas sobre a nossa história.
ResponderExcluirParabéns,
ResponderExcluirJosé Neres e a todos os escritores Maranhense.