Novos Artigos de Segunda #48
![]() |
Fonte da Imagem: Arquivo do autor |
SÃO LUÍS POR SEUS POETAS
José Neres
Ilha que transpira poesia, São
Luís, em seus 413 anos de existência, já recebeu inúmeras declarações poéticas.
Algumas exalam o mais puro lirismo ufanista, outras trazem marcas de uma
saudade infrene, outras ainda trazem uma visão clínica dos males sociais da
musa urbana. Todas elas, no entanto, são marcadas por pelo menos um ponto em
comum: um amor atávico pela Cidade.
Vista antanhamente apenas como
uma “terra das palmeiras, onde canta o Sabiá”, Ilha do Amor, Cidade dos
azulejos, Porcelana Brasileira e Presépio de Porcelana, São Luís recebe
atualmente outros apodos bem menos poéticos. Mas, no estro de seus vates,
continua merecendo valorosas e criativas homenagens. Nonato Pires tem a Urbe
como “a serpente mais formosa”; para Ivan Sarney, “a cidade são as lendas e a
memória das pessoas”; Bandeira Tribuzi, além de pedir “Oh, minha cidade, deixa-me
viver, diz que ela “parece um presépio levantado por mãos puras”; Luiz Alfredo Neto
Guterres diz que a capital maranhense é “um paraíso perdido por entre os braços
do mar”.
Já Sandra Regina Alves Ramos diz
que a cidade é “uma ilha, estremecida, calada, silenciosa. É uma ilha, mas ao
longe, avista-se um poeta tentando rimar, uma palmeira... e um sabiá”. Outra
poetisa, Dagmar Destêrro, acreditando que sua cidade “é sala antiga, é retrato
da saudade, desafio da esperança transformado em realidade”. Odylo Costa, filho
declara seu amor através de gotas nostálgicas ao dizer: “Eras, minha São Luís,
estranho pássaro, com as asas amarradas pelas cordas movediças prata de teus
rios”. E tantos outros poetas já brindaram sua musa urbana dos mais diversos modos.
Assim como são diversas as
metaforizações com relação à cidade, múltiplas também são as visões do poeta na
hora de retratá-la em versos. Uns agem de forma lírica, ressaltando a essência
poética da Ilha Verde, vendo “a Cidade vestida a rigor, vestida à colonial, meu
mundo, meu porta-joias, meu cartão postal, como escreveu Manuel Lopes. Ou ainda,
como no poetar de Clóvis Ramos, para quem “São Luís é a cidade da ternura... em
cada canto um sonho meu perdura. Outros, no entanto, preferem pôr seus versos
pisando firmemente as pedras de cantaria e fazendo um périplo por ruas, becos e
escadarias da Atenas Brasileira. É o caso de Ferreira Gullar, que transformou
sua saudade de exilado político em canto de dor e lamento coletivo em seu
famosíssimo Poema Sujo, no qual a cidade se desnuda para o leitor, mostrando
tanto suas curvas sinuosas/sensuais e seu ventre de mãe como suas marcas dos
quase quatro séculos de sevícias, pois “a noite não é a mesma em todos os
pontos da cidade”,
Seguindo os passos de Gullar,
temos também a acidez cortante dos versos de Luís Augusto Cassas que, em sua Ópera
Barroca, afirmou que “as ruas de São Luís têm cada de munição, pesados pombos-sem-asa
arrebentam a solidão”, uma vez que “a cidade acorda cedo, despida de segredos”.
José Maria Nascimento, outro poeta bastante ligado a sua terra, deixa claro
que, em seu ponto de vista, “esta cidade é a sombra de um deserto” e ao mesmo
tempo parabeniza a “amada Ilha, pelas tuas maravilhosas e doces primaveras”.
Ainda na vertente crítico-social, temos os livros de Alex Brasil, que não vê a
cidade apenas como uma esplendorosa Ilha Verde, mas também como um “cemitério
de crianças apodrecidas” e um lixeiro que cresce “plantando miséria sobre o
verde”.
No eterno flanar sobre a cidade,
alguns poetas optam por destacar seu valor histórico-artístico-social, como sói
acontecer com José Chagas, poeta que prega que os poemas estão espalhados pela
cidade, bastando que sejam apanhados do chão, já que o “chão de São Luís [é]
poeira de história, pedra que é raiz fincada em memória”. Ou ainda como José
Sarney, que, além de sua Meditação sobre o Bacanga, faz um longo passeio pela
cidade e conclui que as Carrancas do Ribeirão “são pedras, são desnavios que
choram na eternidade”.
Os poetas acima (e muitos outros
que não foram citados), em seus poemas, não importando a abordagem feita,
acabam, nos ecos de suas palavras poéticas, coadunando com os famosos versos do
compositor César Nascimento em sua Ilha Magnética, quando diz que “se um dia eu
for embora, pra bem longe desse chão, eu jamais te esquecerei, São Luís do
Maranhão”. Afinal é preciso aproveitar cada minuto dentro da Ilha, antes que,
como alerta ironicamente Luís Augusto Cassas, “antes que a Unesco tombe o último
camarão seco”.
(Artigo inicialmente publicado no
Jornal O Estado do Maranhão, em 29 de agosto de 1998, com pequenas adaptações)
Parabéns meu nobre poeta escritor imortal e professor Dr. José Neres pelo texto impecável sobre a nossa São Luís em sua homenagem dos seus 413 anos de idade oficial de fundação francesa.
ResponderExcluirObrigado, amigo Francisco Moreira. Nossa São Luís merece todas as homenagens!
ResponderExcluirCaro amigo, Neres, foi uma sensata homenagem à São Luís. Lembramos da beleza e dos fatos. Seu empenho comove nossos corações.
ResponderExcluir