segunda-feira, 8 de setembro de 2025

SÃO LUIS POR SEUS POETAS

 Novos Artigos de Segunda #48


Fonte da Imagem: Arquivo do autor


SÃO LUÍS POR SEUS POETAS

José Neres

 

Ilha que transpira poesia, São Luís, em seus 413 anos de existência, já recebeu inúmeras declarações poéticas. Algumas exalam o mais puro lirismo ufanista, outras trazem marcas de uma saudade infrene, outras ainda trazem uma visão clínica dos males sociais da musa urbana. Todas elas, no entanto, são marcadas por pelo menos um ponto em comum: um amor atávico pela Cidade.

Vista antanhamente apenas como uma “terra das palmeiras, onde canta o Sabiá”, Ilha do Amor, Cidade dos azulejos, Porcelana Brasileira e Presépio de Porcelana, São Luís recebe atualmente outros apodos bem menos poéticos. Mas, no estro de seus vates, continua merecendo valorosas e criativas homenagens. Nonato Pires tem a Urbe como “a serpente mais formosa”; para Ivan Sarney, “a cidade são as lendas e a memória das pessoas”; Bandeira Tribuzi, além de pedir “Oh, minha cidade, deixa-me viver, diz que ela “parece um presépio levantado por mãos puras”; Luiz Alfredo Neto Guterres diz que a capital maranhense é “um paraíso perdido por entre os braços do mar”.

Sandra Regina Alves Ramos diz que a cidade é “uma ilha, estremecida, calada, silenciosa. É uma ilha, mas ao longe, avista-se um poeta tentando rimar, uma palmeira... e um sabiá”. Outra poetisa, Dagmar Destêrro, acreditando que sua cidade “é sala antiga, é retrato da saudade, desafio da esperança transformado em realidade”. Odylo Costa, filho declara seu amor através de gotas nostálgicas ao dizer: “Eras, minha São Luís, estranho pássaro, com as asas amarradas pelas cordas movediças prata de teus rios”. E tantos outros poetas já brindaram sua musa urbana dos mais diversos modos.

Assim como são diversas as metaforizações com relação à cidade, múltiplas também são as visões do poeta na hora de retratá-la em versos. Uns agem de forma lírica, ressaltando a essência poética da Ilha Verde, vendo “a Cidade vestida a rigor, vestida à colonial, meu mundo, meu porta-joias, meu cartão postal, como escreveu Manuel Lopes. Ou ainda, como no poetar de Clóvis Ramos, para quem “São Luís é a cidade da ternura... em cada canto um sonho meu perdura. Outros, no entanto, preferem pôr seus versos pisando firmemente as pedras de cantaria e fazendo um périplo por ruas, becos e escadarias da Atenas Brasileira. É o caso de Ferreira Gullar, que transformou sua saudade de exilado político em canto de dor e lamento coletivo em seu famosíssimo Poema Sujo, no qual a cidade se desnuda para o leitor, mostrando tanto suas curvas sinuosas/sensuais e seu ventre de mãe como suas marcas dos quase quatro séculos de sevícias, pois “a noite não é a mesma em todos os pontos da cidade”,

Seguindo os passos de Gullar, temos também a acidez cortante dos versos de Luís Augusto Cassas que, em sua Ópera Barroca, afirmou que “as ruas de São Luís têm cada de munição, pesados pombos-sem-asa arrebentam a solidão”, uma vez que “a cidade acorda cedo, despida de segredos”. José Maria Nascimento, outro poeta bastante ligado a sua terra, deixa claro que, em seu ponto de vista, “esta cidade é a sombra de um deserto” e ao mesmo tempo parabeniza a “amada Ilha, pelas tuas maravilhosas e doces primaveras”. Ainda na vertente crítico-social, temos os livros de Alex Brasil, que não vê a cidade apenas como uma esplendorosa Ilha Verde, mas também como um “cemitério de crianças apodrecidas” e um lixeiro que cresce “plantando miséria sobre o verde”.

No eterno flanar sobre a cidade, alguns poetas optam por destacar seu valor histórico-artístico-social, como sói acontecer com José Chagas, poeta que prega que os poemas estão espalhados pela cidade, bastando que sejam apanhados do chão, já que o “chão de São Luís [é] poeira de história, pedra que é raiz fincada em memória”. Ou ainda como José Sarney, que, além de sua Meditação sobre o Bacanga, faz um longo passeio pela cidade e conclui que as Carrancas do Ribeirão “são pedras, são desnavios que choram na eternidade”.

Os poetas acima (e muitos outros que não foram citados), em seus poemas, não importando a abordagem feita, acabam, nos ecos de suas palavras poéticas, coadunando com os famosos versos do compositor César Nascimento em sua Ilha Magnética, quando diz que “se um dia eu for embora, pra bem longe desse chão, eu jamais te esquecerei, São Luís do Maranhão”. Afinal é preciso aproveitar cada minuto dentro da Ilha, antes que, como alerta ironicamente Luís Augusto Cassas, “antes que a Unesco tombe o último camarão seco”.

(Artigo inicialmente publicado no Jornal O Estado do Maranhão, em 29 de agosto de 1998, com pequenas adaptações)

Para baixar nosso livro-homenagem a São Luís, basta clicar aqui

3 comentários:

  1. FRANCISCO MOREIRA DE SOUSA FILHO8 de setembro de 2025 às 09:17

    Parabéns meu nobre poeta escritor imortal e professor Dr. José Neres pelo texto impecável sobre a nossa São Luís em sua homenagem dos seus 413 anos de idade oficial de fundação francesa.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, amigo Francisco Moreira. Nossa São Luís merece todas as homenagens!

    ResponderExcluir
  3. Caro amigo, Neres, foi uma sensata homenagem à São Luís. Lembramos da beleza e dos fatos. Seu empenho comove nossos corações.

    ResponderExcluir

SOBRE TEXTOS E LIVROS

 Novos artigos de segunda #49 Imagem criada com auxílio de Inteligência Artificial SOBRE TEXTOS E LIVROS José Neres   Quando te sentir...