Novos artigos de segunda # 53
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| Imagem criada com auxílio de Inteligência Artificial |
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A CORAGEM DO SILÊNCIO
José Neres
Gosto sempre de pensar nas
relações humanas e no uso da linguagem como forma de aproximar as pessoas e de
evitar conflitos desnecessários. Acredito que muitas vezes não falar o que
pensamos pode ser um bom recurso para não ferir as pessoas e até de preservar nossa saúde mental.
Mas nem todos pensam assim.
Muitas pessoas acreditam piamente que o livre direito de manifestação é um
passaporte para falar o que quiser e, caso alguém pense de modo contrário, esse
alguém deverá ser combatido e silenciado.
A regra deveria ser pensar em
tudo o que se vai falar e nem sempre falar tudo o que se pensa. Isso ajudaria
muito!!!
Podemos até (às vezes) ter o
controle dos textos produzidos, porém dificilmente teremos como controlar a
recepção de nossas palavras. Quando produzimos uma frase, partimos de nossas concepções
de vida, de nossas ideologias, de nossas sensibilidades momentâneas e de nossos
objetivos preconcebidos. Os receptores, por sua vez, utilizam suas próprias
concepções de mundo e suas singularidades na hora da recepção dos textos. Essa
pode ser uma das origens dos conflitos verbais...
No fundo, pode ser que ninguém esteja
errado, que ninguém tenha má intenção, mas uma confusão pode acabar de ter sido
criada.
Recentemente presenciei uma cena:
Uma pessoa disse que estava a preparar um grande evento e outra se propôs a ajudá-la:
“Não precisa. Você é branca e não quero gente branca por perto nesse evento”. A outra pessoa foi sábia ao silenciar. O silêncio
evitou um possível conflito verbal, mas possivelmente deixou uma chaga aberta. Será
que haverá a mesma disposição para ajudar na próxima vez? Sempre existe uma próxima
vez!
Acompanhando um congresso pela
internet, vi e ouvi as protocolares apresentações dos membros da mesa. Um
professor é apresentado e é mencionado o seu cargo de chefia. Minutos depois,
uma outra participante, ao fazer os cumprimentos aos membros da mesa, fixou o
olhar naquele professor e disse lamentar muito que aquele cargo estivesse sendo
ocupado por um homem e concluiu dizendo que depois iriam conversar sobre isso.
O detalhe é que a mesa discutia a necessidade de respeitar as diferenças... O ato
de flagrante incivilidade para com o colega acabou sendo eclipsado pelas
inteligentes falas das demais pessoas. Creio que algumas nem mesmo chegaram a
perceber a infeliz frase.
Em outro momento, durante uma
reunião, alguém se julgou preterido por não ter sido avisado sobre a hipotética
presença de uma autoridade. De maneira descortês e sem usar filtros, a pessoa
saiu vociferando palavrões e impropérios. Todos na sala baixaram a cabeça e
esperaram os ânimos serenarem. Dias depois, pediu desculpas a todos e lamentou
pelo ocorrido. Todos compactuaram em não mais tocar no assunto. E paz voltou a
reinar no ambiente! Mas será que as ofensas gratuitas não continuam ecoando na
memória das pessoas? Difícil dizer!
Em outro momento, um rapaz
bastante solícito se ofereceu para ajudar uma senhora que estava em dificuldade
com um aparato tecnológico. Ela, no lugar de agradecer, disse: "Esses homens se
aproveitam de todos os momentos para mostrar às pessoas que algumas mulheres
têm dificuldade com as tecnologias". E arrematou: "os homens dizem que são gentis
com as mulheres, mas basta ver os índices de feminicídio para se perceber a
falsidade". Comentários totalmente desnecessários. O rapaz saiu cabisbaixo e sem
silêncio. Mas antes resolveu o problema. Não sei se da próxima vez ele será tão
gentil e solícito.
Calar-se diante de uma situação
constrangedora será um ato de coragem ou de covardia? Acredito que cada pessoa
deva ter sua opinião formada e que todos os problemas podem ser discutidos de forma
civilizada, com base em uma boa conversa.
De minha parte, prefiro ver a
comunicação como ponte que liga duas ou mais pessoas. No entanto, conheço um
monte de gente que faz das palavras uma barreira às vezes intransponível. Tais pessoas
costumam acreditar que ouvir e calar são atitudes covardes.
Para evitar problemas, paro por
aqui e silencio.

Exatamente assim é que muitos conflitos tem sido gerados no convívio social. Tudo virou extremo sem direito a esclarecer as ideias. Muito bom!
ResponderExcluirInfelizmente, os conflitos estão fazendo parte de nosso dia a dia.
ExcluirParo por aqui e silencio” mostra o limite emocional de quem já aprendeu que nem toda discussão vale a energia.
ResponderExcluirObrigado, Erika. É importante estabelecer limites e saber conviver com os desafios que se apresentam.
ResponderExcluirExcelente artigo. Lembra-nos de exercer algo muito simples: colocar-se no lugar do outro. Então perguntaria :será que eu gostaria de ouvir o que tenho a dizer. Textos como os seus nos lembram a dosar as palavras. Muito obrigada.
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