Novos artigos de segunda #51
![]() |
| Fonte da imagem: arquivo do autor |
SOBRE OS CONTOS DE DESAMOR
José Neres
Certa vez, Vinícius de Moraes afirmou que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. É verdade, pelo menos em parte. No somatório geral entre encontros e desencontros dificilmente saberemos o resultado geral de nossa equação. Não importa! Recorrendo a outro grande artista brasileiro, podemos nos consolar dizendo, de forma adaptada, que se ganhei ou se perdi, “o importante é que emoções eu vivi.”
Escritora experiente e atenta observadora das realidades circundantes, a professora, pesquisadora, contista e cronista Ceres Costa Fernandes há muito tempo já vem percebendo que esses encontros e desencontros tão comuns no dia a dia podem dar margens à elaboração de boas histórias. Desse modo, após recolher diversos textos escritos em momentos variados, acaba de chegar às mãos dos leitores o livro “Contos de Desamor” (Edições AML, 2025, 168 páginas).
Dona de um estilo leve e que mescla observações da realidade com refinados e sutis toques de humor, Ceres Costa Fernandes demonstra com seus textos que é possível construir personagens que chamem a atenção do leitor sem a necessidade de recorrer a baixarias, aos exageros das diversas violências ou a desnecessários detalhes escatológicos. Os contos do livro podem ser lidos sem reservas por pessoas das mais variadas faixas etárias.
As trinta narrativas que compõem o livro dialogam entre si pelo aspecto da temática que remete à incompletude das relações amorosas, mas não à ausência do Amor. Afinal só podemos falar em desamor se antes houver pelo menos a insinuação de um amor, mesmo que incerto ou mal compreendido. É o que ocorre, por exemplo, no conto “Amigo”, no qual os gostos e desejos das personagens vão se modificando e mostrando quão complexas podem ser as diversas facetas de uma relação amorosa.
As desconfianças, frutos dos desamores que um dia se travestiram de amor, estão presentes em todo o livro, mostrando que as chamadas normalidades dependem muito da situação em que os casais e possíveis desafetos estão inseridos. Voltando literariamente no tempo, é possível divertir-se com a tentativa frustrada de duas damas da alta sociedade em imiscuir-se fantasiadas em um baile carnavalesco onde tudo poderia acontecer.
Por falar em carnaval, é nesse momento momesco que Candinho, personagem de “Amor no Carnaval” vive uma marcante, rápida e quase sobrenatural aventura amorosa e que o icônico Cardosinho se vê em maus lençois ao ser flagrado pela feroz esposa fantasiado de fofão em plena folia Ludovicense.
Além de narrar histórias, Ceres Costa Fernandes também aproveita seus textos para levar o leitor para diversos passeios no tempo e na paisagem histórica da cidade, promovendo um resgate literário de um tempo que já se foi, mas que pode voltar diversas vezes nas páginas de uma ficção fluida e agradável.
No meio de tantos desencontros, marcar um encontro com a límpida prosa de Ceres Costa Fernandes pode ser um alento para enfrentar esses tempos modernos e difíceis. E, depois de alguns minutos mergulhado nos contos de desamor, certamente o amor pela literatura tenderá a se tornar eterno.
![]() |
| Os escritores Ceres Costa Fernandes e José Ewerton Neto, na noite do lançamento do livro |


Obrigada por mostar "Contos de Desamor". A descrição é belíssima.
ResponderExcluir