Novos Artigos de segunda #56
ESTRELAS DE UMA INFINITA CONSTELAÇÃO –
PARTE III
José Neres

Fonte da imagem: Arquivo do autor
Em 2022, quando
era ainda colaborador semanal do site Região Tocantina (que atualmente se
encontra em pausa), iniciei uma série de artigos comentado a produção literária
de escritoras maranhenses contemporâneas. Compromisso e mais compromissos
fizeram com que eu adiasse a publicação dos outros textos da série.
Durante esse período,
escrevi sobre a obra de diversas escritoras, mas somente agora, pouco mais de
três anos depois de haver publicado a parte II, decidi dar continuidade a esse
tipo mais geral de estudo.
Uma autora que chamou
minha atenção foi LILA MAIA, uma maranhense radicada no Rio de Janeiro, que vem
produzindo uma obra de grande densidade poética e cuja obra recentemente foi
condensada na antologia “De porta em porta abro janelas”, publicada pela
Academia Maranhense de Letras. A poética de Lila Maia apresenta certa contenção
verbal impregnada de trechos com grande profundidade imagética. Ela tem consciência
de que a poesia vai além das palavras e que os silêncios podem ser eloquentes. Percebe-se
em seus poemas um meticuloso trabalho com as escolhas lexicais, conforme pode
ser visto em “Amadurecimento”, no qual deixa para o leitor a oportunidade de
destrinçar inclusive o não-dito
Solidão é uma
China
O país mais populoso do
mundo
Recentemente eleita
para a Academia Maranhense de Letras, a escritora CERES MURAD é mais conhecida
por suas atividades nos campos educacionais, porém é também uma hábil cronista
e uma poetisa com bons recursos estilísticos, conforme pode ser visto em seu
livro “A Raposa Surda” (2024) , um trabalho que pode atingir leituras das mais
diversas faixas etárias e que pode ser lido em palimpsesto, de acordo com a
camada que deseja ser atingida. Bastante preocupada com a formação e inclusão
do Ser Humano na sociedade, Ceres Murad, ao escrever em prosa ou em verso, não deixa
de lado sua condição profissional de educadora e acaba transformando em lições
de vida cada parágrafo e cada estrofe, lembrando também que cada momento da
vida pode ter um significado para quem aproveita as oportunidades que são
colocadas em nossos inúmeros caminhos, como pode ser visto no exemplo abaixo:
Dançar
Melodia que invade
a rigidez do corpo.
Palavra que invade
a rigidez da mente.
Fantasia que
invade e faz voar a alma.
Inútil, fútil,
banal?
E daí?
A construção
poética de MARUSCHKA DE MELLO E SILVA, autora de “Tábua Etrusca” (2022) é
carregada de intenções de mostrar que as temáticas poéticas podem emergir das fissuras
existenciais e dos incômodos que permeiam a vida das pessoas. Seus versos são
sintéticos e carregados de questionamentos que não se contentam com respostas
simples, fáceis e diretas. Em muitos casos, os questionamentos levantados são
mais significativos do que suas possíveis soluções. Na poesia de Maruschka de
Mello e Silva, o ser humano se mostra fendido, mas tais fendas não são frutos
de defeitos ou de heranças sociais, demonstram ser efeitos das relações do Ser
com a sociedade e, muitas vezes, resultados dos encontros com as próprias
experiências. “Tábua Etrusca” é um livro que exige uma leitura atenta e reflexiva.
PROCURO POR TUDO
Em cada secular
castigo
rejeito sonhos
em arredia vigília
o azul da lua rouba
a noite
sem complacência
procuro meu
quinhão
em tuas dádivas
procuro por tudo
que nunca tive
RAY BRANDÃO,
autora de “Penélope – Uma odisseia interior”, aposta na sensibilidade e no
mergulho na alma do Ser Humano, principalmente pelo olhar feminino. Sua obra
aposta em uma aparente simplicidade tanto na forma quanto na temática. Contudo
essa “simplicidade” pode ser enganosa, pois está ancorada na complexidade humana em
suas diversas nuances e necessidades. A ênfase verbal na primeira pessoa do plural
remete a um pacto autobiográfico, contudo, sem muito esforço, os frames
suscitados nos versos podem ser colocados nas cotas das experiências humanas
que se repetem geração após geração, com os devidos filtros das singularidades
e dos aspectos culturais das pessoas ao longo dos tempos. Leia o poema abaixo,
no qual a escrita investe nos jogos antitéticos e na subjetividade do eu
lírico.
Há um enigma no ar.
Os sentidos percebem
O silêncio da escuridão
E o frio do deserto.
O vazio surpreende.
Ele é o mistério.
Nada há nele
Mas ele preenche tudo.
Em seu livro de
estreia – “Miscelânia Poética” (2022), – a professora e poetisa ERLINDA MIRANDA
investe nas relações humanas e educacionais que são traduzidas em forma de
poemas. Seus versos são simples e isentos de preocupações com a forma, seja com
relação à rima, seja a respeito da metrificação. Os versos livres oferecem ao
leitor diversas possibilidades rítmicas e interpretativas. De qualquer modo, a
escritora Erlinda Miranda revela certo didatismo filosófico em seus textos,
tentado atingir o lado mais sensível das pessoas, como ocorre no poema abaixo,
intitulado “Vamos... Antes”.
Antes que o mar se assanhe
Antes que vire onda
Antes que o dia acabe
Vamos sentir a brisa.
Brevemente voltaremos
com a quarta parte desta série. Até a próxima.
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