NOVOS ARTIGOS DE SEGUNDA #01
O PRÓPRIO NOME PRÓPRIO
José Neres
Não
consigo parar de admirar quem, mesmo diante das adversidades, não deixa de se
preocupar com seu próprio nome. Não falo aqui do nome como sequência de letras
e sílabas, nem como forma regimental de apresentação ou de preenchimento de
fichas e documentos. Falo do nome como algo que vai além das palavras, que vai
até mesmo além da própria pessoa representada por aquela complexa cadeia
fonêmica. Falo do nome como fonte de história e de orgulho de ser aquilo que tanto
lutamos para ser.
Em
muitos momentos de nossa conturbada vida, tudo o que temos para nos proteger das
intempéries sociais é o nosso próprio nome. A certeza de que ele é limpo e
capaz de nos elevar à condição de semideuses, mesmo que nossos bolsos e bolsas
estejam vazios e sem perspectiva de receberem algum centavo nos próximos dias. A
sensação de dormir bem, sem a preocupação de ser acordado às seis da manhã sob
a ameaça de um mandado de busca e apreensão ou sob acusações difamatórias, faz
a pele ficar mais suave e rejuvenesce até mesmo um corpo cansado das lides
diárias em busca da sobrevivência.
Há
quem, talvez movido por questões estéticas, não goste do próprio nome. Mas é
sempre bom lembrar que nosso nome foi um presente carinhosamente oferecido por
nossos pais ou por alguém que nos amava de verdade e que, naquele momento,
achou aquele nome bonito, sonoro e perfeito para oferecer para uma criança que
acabava de chegar ao mundo. A nosso nome, bonito ou feio, estão as marcas de
uma história que, si-len-ci-o-sa-men-te, se repete cada vez que somos chamados.
Você
ainda se lembra do frio na espinha quando nossa mãe nos chamava pelo nome
completo? Geralmente, ela o pronunciava pausadamente, sílaba por sílaba. Uma coisa
era certa: Havíamos aprontado alguma coisa. E – pior! – ela havia descoberto algum
de nossos deslizes. Garanto... Se você já não pode ter esses entes queridos a
seu lado... como seria bom tê-los novamente pronunciando aquele nome e dando
aquela bronca caprichada. Mas... nem sempre isso é possível. Infelizmente...
Nomes
são perigosos. Na escola, entre os meninos principalmente, quando o nome da mãe
de um deles era descoberto, tinha início uma série de brincadeiras (quase todas
de mau gosto) que na época eram tidas como algo grave, mas que hoje talvez
arranque belas gargalhadas quando aqueles colegas de escola se encontram já com
cabelos brancos ou, quem sabe, já sem cabelos a ostentar.
Por
falar em escola, nem sempre nos lembrávamos do nome dos professores na hora de
preencher o cabeçalho das provas. Ali não havia João, Maria, Juarez, Paula,
Francisco... Todos eram nominados como o professor de Matemática, a professora
de Português, o professor de Inglês... e assim por diante. Por outro lado, em
muitas escolas, a chamada era feita por número. Número 01 – presente; Número 02
– Número 03 – faltou; Número 04... Dessa forma, quando um professor ou
professora nos chamava pelo nome, isso poderia indicar a glória: - “Ele sabe
quem eu sou!!!” Ou o fim de uma carreira de bagunça: -“Meu Deus, ele já sabe
meu nome, estou frito!!!”
De
alguma forma, tudo começava com um nome. Com um nome que precisa ser preservado
das más influências e dos usos inadequados. Fizeram bem em, na hora da eleição,
deixar apenas um número frio e opaco. Porém, digitado o número, antes da
confirmação, o que temos ali na tela é uma imagem e um nome. Às vezes dá
vontade de chorar: Por trás de um nome tão pomposo se esconde tanta sujeira!
Será que você se lembrará daquele nome daqui a dois, quatro ou seis anos? Talvez
sim, talvez não. Será que nas próximas eleições o seu nome, hipotético (a)leitor
ou (e)leitora, ainda continuará puro e limpo? Ou ele estará contribuindo para
sujar ainda mais nossa cidade ao ser impresso e distribuído em forma de abjetos
“santinhos”, que de santo nada tem.
Não consigo parar de admirar quem, mesmo diante de adversidades, sabe que seu nome não pode ser arrastado pela lama da perdição, da corrupção ou de um mau uso. Nosso nome é parte de nossa história. Falo de nosso nome, um tesouro que não pode ser corrompido.
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