Novos artigos de segunda #20
MEDO DE ESCREVER
(José Neres)
Vez ou outra escuto a seguinte pergunta: “Que eu faço para perder o medo de escrever?”
Honestamente, não tenho resposta satisfatória, mas há anos convivo com diversas desconfianças. Algumas delas aparecem comentadas nos parágrafos abaixo.
1) Não treinamos nossa escrita - De alguma forma, almejamos que nossos textos saiam perfeitos logo na primeira versão escrita. Mas não é bem assim. É preciso escrever, escrever e escrever, para que possamos escolher a versão mais completa e que satisfaça as necessidades de nossa imaginação. Não adianta se apegar a um texto como se ele fosse algo sagrado e que não pode ser alterado em sua forma ou em sua essência.
2) Não suportamos ouvir críticas - Quando alguém aponta uma falha em nosso texto, o mais lógico seria agradecer e ver se a crítica tem fundamento. Caso tenha, nada custa reescrever o trecho ou mesmo o texto inteiro em busca de frases e estruturas mais apropriadas e que traduzam melhor as nossas ideias. Porém, indo na contramão do senso lógico, muitas pessoas preferem ignorar os alertas e acreditam que são verdadeiros gênios da escrita, mesmo que quase ninguém consiga compreender as ideias que permeiam o texto.
3) Ignoramos os mestres da escrita - Um dos melhores remédios para aprimorar nossa escrita é estabelecer uma convivência duradoura e séria com os grandes escritores. São essas pessoas iluminadas que guiam nossos passos rumo a uma escrita mais eficiente. É um exercício interessante atentar para as soluções encontradas pelos bons autores em seus textos e fazer anotações (físicas e/ou mentais) dos recursos estilísticos que os fizeram notáveis.
4) Tratamos a gramática como inimiga - Ninguém precisa decorar toda a nomenclatura gramatical de um idioma para melhorar seu processo de escrita, contudo é bom observar os preceitos gramaticais que podem tornar um texto mais leve ou mais denso, mais palatável ou intragável. É importante transformar a gramática em uma aliada e lembrar sempre que uma ideia perdida talvez nunca mais retorne à nossa mente, porém a frase escrita pode ser revisada diversas vezes.
5) Não pesquisamos tanto quanto deveríamos - Antes de colocar palavras no papel ou na tela de algum dispositivo, é preciso empreender uma pesquisa sobre o tema sobre o qual se vai escrever. Nunca sabemos tudo. Somos eternos aprendizes e o mundo pode ser visto como um enorme laboratório. Antes de traçar as primeiras linhas de um texto, é importante ler sobre o assunto, ruminar as ideias e manter uma conversa franca com nosso outro eu em busca de respostas. Se elas forem satisfatórias, podem (e devem) ser buriladas e transformadas em texto. Caso contrário, pode valer a pena continuar no terreno da pesquisa.
6) Não escrevo apenas para mim - Mesmo que você acredite que ninguém jamais irá ler seus textos, escreva-os como se fossem dirigidos a alguém que talvez nem você mesmo conheça. Se possível, leia seus textos em voz alta e você perceberá as dissonâncias que poderiam atrapalhar a leitura de uma outra pessoa. E, honestamente, se nem você consegue compreender as próprias ideias fixadas em uma folha de papel, como poder querer que outra pessoa venha a entender o que você “quis dizer”? Ou disse ou não disse…
Talvez um dia eu volte a este assunto. O importante é não ter medo de escrever. É a prática que nos faz melhorar. Talento é importante, mas é preciso levá-lo a sério e praticar sempre que possível.
Possivelmente alguém irá discordar, mas é nas discordâncias que crescemos!
Bem, para alguém se "atrever" a escrever, se faz necessário o conhecimento linguístico e do tema em pauta. A língua portuguesa é "cheia" de nuances e é muito comum a gente "cair" em escorregadios desfiladeiros. De fato, muitas pessoas não gostam da crítica e as vezes se negam a reeditar algo escrito, com o receio de ser chamado de inculto. São recorrentes erros gráficos, tendo em vista a pressa no vocabulário fácil das plataformas. O que tenho a dizer, para finalizar, é que temos a obrigação de revisar o que escrevemos. Assim, zelamos por nós (que escrevemos) e pelos outros (que lêem).
ResponderExcluirEm resumo, você nos ensina uma lição de humildade em relação ao processo da escrita, pois não somos autossuficientes e escrevemos sempre nessa relação com o outro - outras pessoas e a própria linguagem.
ResponderExcluirAntonio Aílton...
ExcluirBelíssimo texto com comentários esclarecedores a respeito do ato de escrever e reescrever textos. Parabéns!!!!👍👏👏
ResponderExcluirBelíssimo texto nobre José Neres, acredito escrever deve ser espontâneo e sem medo de ser criticado negativamente. Toda escrita literária é alguém que está falando de si ou alguém. Parabéns pela magnífica aula.
ResponderExcluirDisse tudo! O que mais me encanta nas escritas do mestre José Neres é a maneira fiel e verdadeira que ele coloca nos seus textos. Belíssima reflexão.
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