domingo, 31 de agosto de 2025

UMA ENTREVISTA, TALVEZ

  Novos artigos de segunda #47

Crédito da imagem: Linda Barros


UMA ENTREVISTA (?)

Claro que ninguém me entrevistou. Mas por falta do que fazer em uma tarde de domingo, resolvi colocar no papel um pouco de minha vida e de minhas ideias.

Se tiver alguma pergunta, deixe nos comentários e talvez eu responda e acrescente aqui.

Boa semana para todos!


Onde e quando você nasceu? Quem são seus pais?

Nasci em São José de Ribamar,
Sou filho de José e de Maria
Anos setenta me viram chegar
Entre choros de dor e de alegria
.


Que recordações você tem dessa época?

Da época não consigo recordar,
Mas lembro-me da cidade vazia,
Da rua, da lua e do belo mar
Que viraram saudade e poesia.


Como foram os primeiros anos de sua vida

Minha cidade não foi meu lar.
Para Brasília fui com minha tia
E meu padrinho para me criar 

E depois para um Goiás que crescia
E lá logo comecei a estudar
E ler tudo que na mão me caía.

Fale-nos um pouco de sua formação acadêmica 

Eu creio que tenha mil corações…
Até acho isso algo muito natural
Cursei técnico em Edificações 
E concluí Design Editorial…

Em Letras e História vivi emoções…
Jornalismo foi algo bem legal,
Pedagogia me ensinou mil lições 
E sou gerontólogo bem normal.

Fiz várias especializações,
Como em Educação Ambiental,
Literatura e comunicações.

Desenvolvimento Regional
E suas duas mil aplicações 
Estão na minha tese doutoral.


Qual o primeiro livro que você leu? Ainda se lembra?

Eu leio quase tudo que me dão 
Mas o primeiro livro que li inteiro 
Foi A Tulipa Negra, um romanção
devorado de modo bem ligeiro.


Diga três livros que valem a pena reler

Gosto de Cem anos de Solidão 
E do Poema Sujo por inteiro
Quando li Na Ardente Escuridão,
Reconheci teatro verdadeiro.


Que livros você recomendaria para quem pensa em se apaixonar pela literatura?

Édipo Rei é potente emoção,
Um belo e perfeito o livro pioneiro;
Cyrano de Bergerac é paixão 

A deixar o coração prisioneiro;
Drácula é obra de perfeição,
Vale qualquer investido dinheiro.


Que autores você gosta de ler?

Assis Brasil, Montello e Gullar,
Chagas, Rubião, Clarice, Monteiro,
Buero Vallejo, Sabino, Duras,
Calvino, Cervantes, Rosa, Louzeiro,

Cunha, Machado de Assis e Yourcenar,
Eco, Márquez e Tribuzi Pinheiro;
Barreto, Shakespeare,Scliar,
Quintana e nosso Catulo violeiro…

Bandeira, Tolstói, Fonseca, Dumas -
Tanto segundo como do primeiro,
Aquele Kafka sempre a ensinar

Como amar todo livro por inteiro,
Agatha, pra mistério decifrar…
Todo escritor será sempre um guerreiro…


Fale um pouco sobre sua obra

Escrevo tanto em verso quanto em prosa
Mas para a verdade sempre falar
O primeiro livro foi Negra Rosa
Depois veio a Mulher de Potifar,

Restos de Vidas… é uma dolorosa
Forma que um dia achei para falar
De uma sociedade caprichosa
Que passou a vida a nos explorar.

Numa escrita bem vaga e vaporosa
Pelos microcontos fui passear,
Já narrei inclusive traição airosa

E faço críticas bem devagar
Numa escrita nada milagrosa
Peno pra alguma página salvar.


Que você acha da educação de nosso país atualmente?

Para nosso país a solução 
É algo que soa bem urgente…
Ela está na caneta, fé e na mão 
De quem, acho, talvez nem seja gente…

É preciso investir na educação 
De modo justo, honesto e coerente
Não dar trégua para essa corrupção 
Que devora até mesmo a vã semente…

Não se pode esperar nova eleição 
Ou surgir algum anjo reluzente
Que venha pra salvar nossa nação 

Educar nosso povo é a solução…
Falar isso soa até meio indecente,
Se quem nos rouba nos chama de irmão…

São Luís, 31 de agosto de 2025.


Algumas respostas


Resposta 1 - Por que foram para Brasília/Goiás? 

Aproveito instante de calmaria
Para responder quatro indagações 
Dessa gentil amiga Ana Maria,
A quem dispenso minhas atenções.

Ir pra Brasília era quase mania
Em setenta, pra gente dos sertões 
Que buscava um pouco de alegria,
Um bom emprego e talvez uns tostões.

Mas depois esse sonho se esvazia,
Pois era o fim das grandes construções 
E diante da escassa alvenaria 

Chegava a hora de buscar soluções 
Então uma meia-noite ou meio-dia 
Goiás virava uma das opções…

Resposta 2 - No Goiás, onde morou? 

A sessenta quilômetros dali
Estava uma cidade muito bela:
De cujo nome jamais esqueci:
Luziânia é o lindo nome dela.

Eu muitos anos e anos lá vivi 
Fui pioneiro na zona rural dela
Ali plantei e ali também colhi 
Flores e saudades na janela…

Resposta 3 - Sobre o livro Drácula, o que há de especial? 

Dos muitos e bons livros que já li,
Drácula um belo texto nos atropela…
O que mais me chama atenção ali

É a forma bastante crua e singela
Que Bram Stocker consegue imprimir
Enquanto o Drácula a nós se revela…


domingo, 24 de agosto de 2025

UM CORDEL PARA GULLAR

Novos artigos de segunda #46

Fonte da imagem: arquivo do autor



Em 10 de setembro de 2025, o poeta Ferreira Gullar completaria seus 95 anos de vida. 
Adianto aqui minhas homenagens a esse grande escritor brasileiro com o singelo texto em versos que apresento abaixo.



FERREIRA GULLAR
José Neres 

Amigo, pare um pouco,
Quero com você falar…
Não. Não se faça de mouco
Para o que vou lhe contar.
Mesmo estando eu muito rouco,
Ainda posso narrar

A história de um poeta 
Nascido em nossa São Luís,
Terra boa e bem discreta,
Com gente boa e feliz,
Mas dita, à boca secreta,
Como grande meretriz.

 
Numa bela quarta-feira,
Um vagido de verdade,
Cancelou a gafieira…
O nome da novidade?
José Ribamar Ferreira…

Era setembro de trinta
Do século que engrenava
Sob pouco pão, muita cinta
Que do governo chegava.
Com uma demão de tinta,
Todo povo se enVargava.

Foi garoto bem franzino 
Dono de boa memória,
Que carregava um destino
Prenhe de tão bela história 
E que desde pequenino
Sonhava já com a glória.

José Ribamar Ferreira
Virou Ferreira Gullar,
Enfrentou tanta barreira
E teve que se mudar
De sua terra primeira 
Para no Rio morar.

E no Rio de Janeiro 
Logo ele se destacou.
Com texto leve e certeiro, 
Em uns jornais trabalhou.
Não ganhou muito dinheiro,
Muitos textos publicou…

Porém, antes de partir
Do seu grande Maranhão,
Começou a produzir 
Seus versos em profusão,
Conseguindo imprimir 
“Um pouco acima do chão”.

Foi esse livro primeiro
Por bom tempo renegado,
Mas hoje está por inteiro
Como parte do legado
Do poeta brasileiro
De cabelo prateado.

Com “A luta corporal”
Ganhou notoriedade
Em nível nacional,
Tornando-se autoridade
Em verso experimental
Com enorme densidade.

Perseguido no País,
O Poeta foi exilado.
Não podia ser feliz
Sem a família a seu lado.
Não fez tudo o que ele quis
E se via abandonado.

Se escondeu em meio mundo
Do Regime de Terror,
Foi com um pesar profundo
Que ele encarou o pavor
Estampado no olhar fundo
Da senhora e do senhor.

Em tempos de ditadura 
Poetar é perigoso
Mas, paciente, ele atura
O perigo tenebroso.
Teve uma vida tão dura
Por não ter sido medroso.

Na Argentina exilado,
Triste qual um caramujo,
Pela dor foi assaltado
Numa noite de escabujo,
Sendo ali logo gestado
O nosso “Poema Sujo”...

O poema genial
Pelo mundo viajou
E serviu como canal
Por onde logo passou
Pra liberdade formal
De quem o idealizou.

De volta ao país amado
Não deixou de produzir,
Sendo muito procurado 
Por quem queria ouvir
Sobre o regime nublado
Que começava a ruir.

Dentro da noite veloz 
Mora nossa solidão 
Que, como chicote atroz,
Levanta o pó do chão ,
Ecoando nossa voz
Para além da escuridão.

Gullar jamais se calava.
Se podia protestar,
Logo um verso rabiscava
Pra poder denunciar
O crime que ameaçava 
Seu povo aprisionar.

Em seus versos de cordel
Muitas coisas criticou.
Não aceitava o bordel
Que o Brasil se tornou.
Seus versos eram tropel
Que o marasmo atropelou.

Foi poeta de vanguarda,
E foi com todo otimismo
Que ajudou na salvaguarda
Das ideias do Concretismo, 
Que não quis vestir a farda
De caro e mero modismo.

Gullar, poeta de luta,
De Poesia verdadeira,
Tecia arte com labuta,
Lutava contra a bandeira
Que tratava como puta
“A miséria brasileira”.

Mesmo sabedor de que
Dois e dois são sempre quatro
Nunca admitiu o porquê 
De faltar feijão no prato
E do pobre pertencer
Sempre ao mais cruel estrato.

Homem de muito talento,
Gullar foi compositor.
Rimou dor e sofrimento,
Seja do jeito que for,
A traduzir sentimento
Numa borbulha de amor.

Fez cantiga “Bela, Bela”,
Onde sempre se respira
Um cheiro de barco à vela
Em tanta nota que inspira 
Viajar de caravela
No “Trenzinho do Caipira”.

Foi pensando na criança,
Que já não lê mais como antes,
Que tão pleno de esperança 
adaptou nosso Cervantes -
Quixote com sua andança,
Tornando perto o distante.

Carregado de carinho,
Transformou seu companheiro -
Gato chamado Gatinho -
Em personagem inteiro.
Em tão formoso livrinho.
Eternizou seu parceiro.

As crônicas de Gullar
Sempre foram apreciadas.
Permitem perambular 
Por épocas variadas 
Deixam-nos deambular
Sem atravessar calçadas.

Também às biografias
Seu Gullar se dedicou.
Antônio Gonçalves Dias 
Ele já biografou,
Vida, obra e poesias
Com precisão analisou.

Sobre Nise da Silveira 
Um belo texto escreveu.
A médica brasileira 
Todo aplausos recebeu 
Por ser uma pioneira
Na ciência que escolheu.

Para não virar joguete
Em bocas impiedosas,
Em um “Rabo de foguete”,
Bem descoberto de rosas,
Ofereceu em banquete
Mil histórias gloriosas.

Numa prosa criativa
Inventou cidades mil.
Em mágica narrativa,
Ele relata o que viu
De forma figurativa 
Dentro e fora do Brasil.

Lírica ou social
A poesia de Gullar
Tem um tom universal.
Está em todo lugar.
É bem viva, seminal,
Rica, bem peculiar.

À ABL pertenceu
Um pouco antes de partir.
Seu fardão mereceu
Para sempre possuir
Pelas obras que escreveu 
Por seu jeito de existir.

Foi grande crítico de arte,
Ensaísta de primeira,
Escreveu por toda parte,
Até quando a fiandeira
O corpo da alma comparte
Naquela hora derradeira.

Em dois mil e dezesseis 
Nosso Gullar se encantou,
Deixando pra nós, talvez,
A bela arte que criou
Onde está mais de uma vez
Dito quem somos… quem sou.

Sua humana poesia
Mostra que dentro de nós 
Crescem dor e alegria 
Cada qual com sua voz,
Que viver é agonia
Atada em dúvida atroz.

Quase a voz eu perdi
Tentando lhe contar
Tudo aquilo que já li
Dele, Ferreira Gullar,
Poeta daqui e dali,
Poeta espetacular.

Gratidão, meu bom amigo,
Uma história lhe contei.
Lamento se não consigo
Lhe contar tudo que sei.
Agora ouça o que lhe digo:
Reler Gullar eu irei.

São Luís, 23 de agosto de 2025.

Leia outra homenagem para GULLAR clicando aqui









segunda-feira, 18 de agosto de 2025

LÍNGUA PORTUGUESA

 Novos artigos de segunda #45

Imagem criada com auxílio de Inteligência artificial 


LÍNGUA MATERNA: UMA FERRAMENTA PROFISSIONAL

José Neres

            O mercado de trabalho está cada dia mais exigente e competitivo. Os aspirantes a uma vaga em uma empresa não têm mais o diploma como único diferencial, precisam de aperfeiçoamento constante, de cursos de atualização e do domínio das novas tecnologias. Quem já conseguiu um emprego também não pode descuidar-se da própria formação e deve investir constantemente na aquisição de novos saberes e na ampliação do domínio de seus conhecimentos profissionais. 

            Contudo, no meio de toda essa luta pela sobrevivência e/ou por cargos e salários mais elevados, um dos instrumentos mais importantes para o sucesso profissional vem sendo esquecido ou pelo menos relegado a um segundo plano: o estudo da língua materna. No nosso caso, o da Língua Portuguesa.

            Não é preciso, porém, que todos se tornem experts nos mecanismos do idioma, nem que dominem cada uma das nomenclaturas gramaticais para que consigam um cargo ou uma promoção. Mas é essencial que o profissional ou aspirante à vida profissional tenha certa desenvoltura na expressão oral e escrita, ou seja, que saiba falar dentro de um nível aceitável da linguagem oral e que consiga desenvolver, em uma folha de papel ou na tela do computador, um raciocínio lógico e bem articulado.

            Durante todo o processo seletivo e ao longo da vida profissional, o uso adequado da língua materna é tão importante quanto a roupa e a quantidade de títulos que são postos no currículo. Mas, infelizmente, há quem esteja mais preocupado com a aparência física, acreditando que ela é o verdadeiro passaporte para o pleno desenvolvimento da carreira.

 Saber concordar as palavras, utilizar corretamente pronomes, verbos, substantivos, conjunções, preposições e demais classes de palavras, sem apelar para a ostentação vernacular, pode se tornar um diferencial em um mercado a cada dia mais voltado para a comunicação interna e externa. Saber escrever de forma fluente, evitando os desvios gramaticais mais constrangedores e conseguir expressar-se de modo claro, objetivo e elegante são qualidades valorizadas tanto nos órgãos públicos quanto nas empresas privadas.

Mas como desenvolver essas qualidades? Como usar a língua materna a nosso favor no mundo profissional? As respostas são várias, mas costumam passar todas pelos mesmos caminhos: estudo regular intensivo e leitura de bons textos.

Mesmo as pessoas que têm facilidade na expressão escrita e na oral precisam estar em constante prática de estudo, para que os conteúdos aprendidos não se diluam com a falta de uso e também para que as novidades linguísticas sejam internalizadas. Não se trata apenas de fazer cursos e mais cursos a fim de acumular certificados, mas sim de constante atualização com interesse maior na aprendizagem e na expansão do conhecimento. O contato com textos bem escritos é também primordial para o aumento do vocabulário e para obtenção de estruturas sintáticas menos usuais, porém utilizáveis no dia a dia.

Durante toda a formação escolar, da educação básica ao ensino superior, deve sempre haver espaço para a valorização da língua materna. O profissional deve sair de uma instituição de ensino não apenas com um diploma e com os conhecimentos técnicos, mas também com possibilidade de desenvolver suas ideias oralmente e/ou por escrito. Por isso, causa estranheza que algumas instituições de ensino superior venham retirando as disciplinas relacionadas à Língua Portuguesa de suas estruturas curriculares. Não se sabe se isso ocorre por economia ou por simples desprezo pelo estudo da Língua. Mas de qualquer forma é algo nocivo à formação daqueles que são considerados o futuro de um País.

Negar aos futuros profissionais a possibilidade de desenvolver, de forma sistemática, a expressão oral e escrita pelo estudo da língua materna é negar-lhes também uma importante ferramenta que pode ser decisiva para o desenvolvimento da carreira. E, quando se trata de Educação, o essencial nunca pode ser negado. O futuro cobrará essa dívida.





domingo, 10 de agosto de 2025

A SAÚDE MENTAL DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO

 Novos artigos de segunda #44

Imagem criada com auxílio de Inteligência Artificial

A SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO 

José Neres 


Estou na docência desde 1991. De lá para cá são quase três décadas e meia de sala de aula e algo que sempre me deixou preocupado é a saúde mental das pessoas que trabalham na Educação.

Para quem não vive as rotinas de uma escola, a vida do professor e dos demais atores envolvidos com a Educação parece ser algo fácil: “basta dar a aula ou executar algumas tarefas burocráticas e ir embora”. “Os sortudos ainda contam com duas férias por ano”. Mas a realidade não é bem assim.

Existe toda uma dinâmica invisível, que vai além da sala de aula, dos corredores e dos muros de uma instituição de ensino, e que pode levar esses profissionais a um adoecimento físico e mental. Não se trata apenas do esperado cansaço após uma jornada de trabalho, muita vezes em condições adversas, da exposição a ruídos que extrapolam os limites recomendados, do esforço repetitivo diante de um quadro, da vista cansada após uma exaustiva sessão de correção de provas e trabalho ou da certeza de uma remuneração que está muito aquém do esforço despendido. Há outras situações que nem sempre são percebidas por quem não está a par dessa realidade.

Constantemente, vejo colegas com o olhar perdido no horizonte e com as marcas da desesperança estampadas até mesmo nas mais sutis palavras e nos  movimentos involuntários. A angústia tornou-se  parte do uniforme de muitos educadores.

Esses profissionais vivem em constante estado de insegurança. A violência, que antes era apenas tema de algumas aulas, há muito tempo já invadiu o ambiente escolar e tem deixado marcas físicas e psicológicas em suas vítimas, conforme pode ser visto em reportagens e depoimentos que são compartilhados e reproduzidos à exaustão.

Muitos professores e demais funcionários vivem a angústia de não poderem projetar nem mesmo um futuro próximo, pois trabalham assombrados pelo fantasma da dispensa ou de alguma remoção para um lugar afastado do seu perímetro de atuação.

Praticamente todos já perceberam que não têm voz nem vez, pois as decisões são tomadas sem a participação de significativa parte da comunidade escolar. Resta então obedecer ao que foi determinado, de preferência sem questionamentos, pois questionar nem sempre é interpretado como uma tentativa de ajudar a compor um cenário mais democrático, mas sim como uma afronta a uma ordem de quem se julga superior aos próprios colegas. Muitos, então, optam pelo silenciamento das próprias ideias. E isso não traz bons resultados.

Há ainda o caso dos profissionais que recebem tarefas para as quais não foram preparados. Diante da angústia de não poderem executar as atividades da forma que desejariam e, muitas vezes, pressionadas por todos os lados, essas pessoas acabam substituindo o prazer do trabalho por crises de ansiedade ou mesmo por constantes episódios de Burnout, o que geralmente culmina com picos de estresse, desânimo, esgotamento físico, sensação de fracasso e até alteração nas funções básicas do organismo.

Constantemente, escuto colegas dizendo que estão arrependidos da profissão que escolheram ou, pior ainda, abusando de medicamentos, muitas vezes sem acompanhamento profissional. Há também casos daqueles que se entregam a drogas lícitas e ilícitas e ao vício de jogos, o que acaba piorando a saúde mental desses trabalhadores.

Em 2010 escrevi um artigo intitulado “O Do(c)ente” tratando sobre o assunto. De lá para cá parece que nada mudou, ou melhor dizendo, o pouco mudou parece que foi para pior. De lá para cá, tenho sempre tratado do assunto, buscando compreender as causas e as consequências desse fato incontestável, mas que nem sempre é discutido nas chamadas formações e nas reuniões.

Parece que a saúde mental dos profissionais da Educação é um mais um daqueles assuntos que são constantemente varridos para debaixo de um tapete de ilusões.



Leia outro artigo sobre o assunto clincando aqui


domingo, 3 de agosto de 2025

REVISTA TIJUBINA

 Novos artigos de segunda #43

REVISTA TIJUBINA 

José Neres 

Imagem criada com auxílio de Inteligência artificial 


Sempre foi grande a reclamação de que não tínhamos publicações voltadas exclusivamente para a literatura local. As poucas que existiam estavam vinculadas a veículos de comunicação e apareciam ou desapareciam de acordo com as situações econômicas dos órgãos às quais estavam ligadas. Ou seja, tinham de alguma forma um viés político e pecuniário.

Foi pensando nisso que, em 2011, resolvi publicar o informativo Ilhavirtualpontocom, que era inteiramente dedicado a tratar das letras maranhenses, incentivando a produção local. No início, pensei que seria uma empreitada fácil, afinal de contas eu estava cercado de pessoas que escreviam e receber textos para publicar seria uma tarefa simples. Mas não foi bem assim…

Era uma verdadeira batalha conseguir textos para o informativo. Mas isso foi solucionado de modo relativamente simples: eu mesmo escrevia, revisava, editava, diagramava e colocava no ar a maioria das matérias. As demais, eu conseguia graças à colaboração de alguns alunos da faculdade onde eu ministrava aulas ou às carinhosas colaborações literárias de alguns amigos.

Sempre que saía uma edição, eu a enviava por e-mail a pessoas que possivelmente teriam interesse no assunto. Aproximadamente 500 contatos recebiam a publicação em PDF. Desse montante, cinco ou seis acusavam o recebimento e davam uma dose de incentivo em forma de palavras afetuosas e encorajadoras. As demais postagens ecoavam um total silêncio.

Rapidamente, percebi que as mesmas pessoas que clamavam por material sobre literatura ignoravam quando esse material chegava a suas mãos. Parece que o bom sempre foi reclamar, reclamar e reclamar. 

Não desisti e cheguei a publicar mais de quarenta números do Ilhavirtualpontocom.

Apenas uma pessoa demonstrava total interesse pela publicação, ligava perguntando quando sairia o próximo número, comentava cada uma das edições, dava sugestão de pauta e chegou mesmo a conceder uma entrevista: era o poeta e amigo Carvalho Junior 

No final de março de 2021, todos os amantes da literatura maranhense sentiram-se abalados com a precoce partida daquele grande poeta com alma de menino. Em sua homenagem, no mesmo dia de seu falecimento, coloquei no ar uma edição em sua homenagem e decidi fechar o projeto. Tinha certeza de que ninguém sentiria falta daquele informativo de oito, dez, doze ou dezesseis páginas que só divulgava o que praticamente ninguém tinha interesse em ler ou ouvir.

Dito e feito. Apenas duas ou três pessoas sentiram a ausência do Ilhavirtualpontocom, que circulou durante dez anos e deixou poucos rastros, mas que ainda está aí pela internet, para quem quiser consultá-lo.


Capa do primeiro número da Revista Tijubina 


Não. Não estou fugindo do tema. Fiz todo esse histórico para dizer como surgiu a ideia de publicar a Revista Tijubina. 

Após o falecimento de Carvalho Junior, um incansável divulgador cultural, repassei alguns áudios e notas nos quais ele reconhecia a importância do Ilha… e pedia para não deixar de publicar aquele material pelo qual ele tinha muito carinho. Mas o Informativo já estava encerrado. 

Foi então que comecei a pensar em alguma forma de homenagear aquele amigo tão querido. Veio a ideia de editar uma revista. Como ele mesmo se denominava o Homem-Tijubina, que era o título de um de seus livros, não tive dúvida: a publicação se chamaria Revista Tijubina, mas não seria dedicada apenas às letras e a cultura do Maranhão. Teria um escopo um pouco mais amplo. Falaria de literatura e de outras artes, e não apenas voltadas para o Maranhão.

Como não poderia deixar de ser, o número de estreia foi dedicado ao poeta Carvalho Junior, que está sempre presente, de alguma forma, em todas as edições.

Claro que as dificuldades continuam as mesmas. Porém os colegas não são mais incomodados por e-mail. Coloco um link nas minhas redes sociais e em grupos de comunicação instantânea voltados para as letras e as artes. Quem tiver interesse acessa o material e pode baixar, ler ou arquivar a Revista. 

Mas desconfio que o efeito é o mesmo dos e-mails. Assim como acontecia com o Ilhavirtualpontocom, raramente recebo algum retorno, e os relatórios mostram que o interesse das pessoas por esse tipo de assunto é baixo.

Como alguns amigos me autorizaram - sem ônus - a utilizar seus textos, fico mais tranquilo e aos poucos vou reduzindo a presença de meus próprios artigos na Revista. O bom de tudo é que posso seguir uma linha editorial sem amarras e conotações políticas, financeiras ou ideológicas. 

Neste final de julho de 2025, chegamos ao nono número da Tijubina, com capa em homenagem ao padre e escritor João Mohana. Antes tivemos a seguintes capas:

Número 1 - Carvalho Junior 

Número 2 - Gonçalves Dias 

Número 3 - Antônio Carlos Lima

Número 4 - Rogério Rocha

Número 5 - José Chagas

Número 6 - Adélia Prado

Número 7 - Lucy Teixeira 

Número 8 - Josué Montello 


Adianto logo que o próximo número será uma homenagem à escritora Laura Rosa.

Sigamos juntos na luta pela literatura, pois como disse o grande compositor Antônio Vieira, “se tu não quer, tem quem queira”... O importante é não parar. 

Não pararemos!

Capa do oitavo número da Revista Tijubina 


sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Aventuras proibidas de Annie Sthephanie

 As aventuras proibidas de Annie Sthephanie






Desculpe, mas


Aqui não tem aventuras proibidas.

Falamos apenas de arte, educação, cultura e outras curiosidades.

Agradecemos pela visita.

SOBRE TEXTOS E LIVROS

 Novos artigos de segunda #49 Imagem criada com auxílio de Inteligência Artificial SOBRE TEXTOS E LIVROS José Neres   Quando te sentir...