sábado, 20 de setembro de 2025

UM TESOURO ESQUECIDO

 Novos artigos de segunda #50

Fonte da imagem: internet 


ELY CARLOS - UM TESOURO ESQUECIDO

José Neres 


O Começo…


Há cerca de um ano, postei aqui neste blog um artigo comentando sobre aquelas músicas que teimam em invadir nossa mente (leia aqui o artigo) e que nos acompanham por todos os lugares, mesmo contra a nossa vontade.

Volto, então, para um passado muito mais distante que alguns meses. De repente, vejo-me criança, com uns oito anos de idade, em Brasília, esperando o retorno de meu padrinho e pai de criação, que, pelo uma vez por mês trazia para nossa casa um LP (os leitores mais jovens talvez tenham dificuldade para compreender isso) e algum livro.

Mesmo distante de minha terra natal, sempre estive ligado a ela pela música de nossos artistas e pelas palavras de nossos escritores. 

Devia ser 1978 ou 1979 quando meu Padrinho chegou com o disco de um cantor e compositor maranhense. Com apenas quatro faixas, o compact disc saltou da embalagem e começou a rodar no aparelho de som. Algumas músicas eram mais românticas e uma delas era mais ritmada, com uma letra bastante interessante e que desde aquela época vez ou outra sai do subconsciente e passa a me acompanhar em alguns momentos de reflexão. Na capa do disco estava estampada uma foto do autor e seu nome Ely Carlos.


As Buscas


Confesso que desde que voltei para minha terra tenho procurado alguma informação sobre esse cantor, mas parece que até mesmo as pessoas que trabalham com música (pelo menos as com quem conversei) haviam esquecido dele. Cheguei mesmo a acreditar que aquelas músicas que martelavam minhas memórias de infância eram fruto de minha imaginação.

Hoje pela manhã, aquela letra voltou à minha mente:


Mamãe, eu quero, eu quero

Viver meu sonho infantil

Cantar com a juventude 

O progresso do Brasil…


Logo depois, outros versos pediram passagem e começaram a ecoar:


Meu bem, minha linda flor,

Vives à espera de alguém 

Que não gosta de ti

E nem te quer bem 

Enquanto esperas por ele

Eu vou caminhando

À procura de alguém…

Não sei o que pensar de mim

Porque me maltratas assim

Se o meu coração é só teu

E de mais ninguém…


Claro que a letra pode estar incorreta, pois saltou das memórias de criança para a consciência de um adulto já cansado de tantos anos de trabalho. Mas fica assim mesmo.


A Inquietude


Chegando a minha casa comecei a vasculhar a internet em busca de informações sobre o autor. Nada. Convoquei as diversas Inteligências Artificiais que agora povoam nosso cotidiano e elas declararam que eu poderia ter-me equivocado quanto ao nome ou quanto à letra da música procurada, pois se tratava de um tema muito revisitado ao longo do tempo. 

Não desisti. Refinei a busca consegui localizar a capa do livro, algumas músicas do cantor, um canal de vídeos do próprio artista, outro da esposa do cantor, uma homenagem feita para ele em uma emissora de rádio em 2014 e algumas informações biográficas.

Não era minha imaginação. Aquele cantor e aquela música agora estavam ali diante de mim.


Quem é Ely Carlos?


Filho do casal Serapião Marcelo Santos e Helena Machado Santos, Elisabeto Machado dos Santos nasceu em São Luís, em 04 de julho de 1947, estudou na Escola Luiz Viana e desde a juventude demonstrou muito interesse pela música. Ainda bastante Jovem, adotou o nome artístico de Ely Carlos e participou da Banda M Som 7, com a qual viajou por praticamente todos os municípios maranhenses, principalmente durante o período carnavalesco. Fez parte também da Banda Os Intocáveis e depois investiu na carreira solo, percorrendo diversos estados do Brasil.  Casou-se com Maria do Espirito Santo Reis dos Santos, com quem teve dois filhos: Diego e Dayse. Gravou diversos discos e fez bastante sucesso se apresentando nos principais clubes da capital maranhense e em muitas cidades interioranas.

Seu trabalho de maior sucesso foi possivelmente a canção “Progresso do Brasil”, (composição de Ely Carlos, Carlos Endrigo e Nelson Coelho) na qual - em uma mescla de forró, carimbó e Soul Music -  faz  um périplo musical por vários estados, desmistificando poeticamente alguns estereótipos sobre a população dos lugares citados e mostrando a riqueza cultural do País.


Os Múltiplos estilos do Cantor 


Dono de uma voz tranquila, melodiosa e potente ao mesmo tempo, Ely Carlos, além de bom intérprete é também um criativo compositor. Ao longo de sua carreira, ele  passeou por diversos ritmos e estilos musicais. É possível encontrá-lo cantando toadas de bumba-meu-boi, como é o caso de “Aconteceu”, uma composição feita em parceria com o mestre Francisco Naiva, o grande nome do Boi de Axixá. Mas ele fez também incursões pelo reggae, marchinhas de carnaval, MPB, brega e muitos outros estilos.

Em seus vídeos postados na internet, é possível vê-lo acompanhado de sua banda cantando forró e outros ritmos populares em diversas apresentações. Contudo ele também já interpretou músicas românticas, ao estilo da Jovem Guarda, como é o caso de “à Procura de Alguém” (composição de Geraldo Gonçalves e Lima do Norte)  e “O Tesouro perdido” (composta por Ely Carlos, José Branco e Valtinho),  abaixo transcrita:


Eu estava sentado e uma estrela caiu

Senti no meu corpo e pra cima eu olhei

E aí desejei fazer o pedido

E aí desejei fazer o pedido

Achar um tesouro foi o meu pedido

Eu fiz o pedido e não fui atendido


Eu preciso encontrar o tesouro que eu pedi

Pra matar a saudade que invade o meu coração

Eu preciso encontrar, encontrar, encontrar

eu preciso encontrar, encontrar, encontrar


Últimas notas…


Em uma pesquisa rápida como esta, realizada em pouco mais de duas horas de mergulhos nas páginas da internet e nos labirintos da memória, não foi possível fazer uma atualização sobre como está hoje esse talentoso intérprete e compositor maranhense que fez sua voz ecoar por todo o Brasil. As postagens mais recentes de seus vídeos datam de um a dois anos atrás (2023/2024), geralmente em festas populares onde ele e sua banda se apresentaram. Percebe-se que não são filmagens profissionais, mas elas trazem a seus fãs a imagem de um senhor com seus  setenta e tantos anos cantando, tocando e animando o ambiente com a voz que lhe é característica.

De qualquer forma, espero que o cantor esteja bem e que continue levando sua voz a todos os seus admiradores. Este singelo texto é muito mais que uma homenagem ao cantor. É também um agradecimento por ele fazer parte da minha infância. 

Quase fechando o texto, localizei o CD “Hei de te encontrar”, com dezenove composições que mostram a variedade musical desse talentoso cantor. Vale a pena ouvir!!!

Afinal, um tesouro musical como esse não pode ser perdido ou cair no esquecimento. 


Tomara que alguém possa trazer novas notícias sobre ele!





7 comentários:

  1. Uma bela lembrança. As músicas marcam as nossas vidas e funcionam muito bem para lembrar do passado junto à família e amigos. Obrigada.

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    1. Muito obrigado. As memórias são parte importante de nossa vida e merecem ser preservadas. Abraços!

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  2. Professor, importante homenagem. Eu nao tive oportunidade de ouvir esse CD, procurei na Plataforma Spotify e no Google, mas não encontrei. Suas memórias são uma.bonita homenagem. 😘

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    1. Encontrei o CD em um site alternativo que tem arquivos pouco conhecidos. Vou enviar para você, Abraços!

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  3. Artigo excelente Professor Neres!
    Muito obrigada por compartilhar!
    Parabéns para você e para o cantor, pela fisionomia sei que já encontrei ele pessoalmente mas não lembro quando nem onde.

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  4. Obrigado pelo comentário, querida Raimunda Frazão!

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  5. Lembro-me bem de ter ouvido na minha adolescência. Grata por essa lembrança!

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