quarta-feira, 28 de agosto de 2024

2 - HEMETÉRIO DOS SANTOS

 

Prosseguindo com nosso intuito de homenagear alguns escritores maranhenses que, por algum motivo, caíram no esquecimento, trazemos hoje o professor e poeta Hemetério José dos Santos, um dos grandes nomes da Educação brasileira.

HEMETÉRIO DOS SANTOS 

José Neres 


Para Helena Mendes


Doutor Hemetério José dos Santos,

Professor de inúmeras gerações,

Enfrentou risos e provocações,

Reagiu fazendo versos e cantos.


Foi de gramática bom professor,

Corrigia demônios e até santos

Jamais encobria falha com mantos…

Fez de suas aulas cântico de amor. 


Mas não pôde fazer tudo o que quis …

Cedo deixou Codó - terra raiz -

E, brilhante, até o rei encantou


Na terra pela qual se apaixonou, 

Porém ali teve atrito infeliz

Ao confrontar o Machado de Assis.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Firmina - Música

 


Utilizando a Inteligência Artificial, já que a minha é naturalmente problemática para as questões musicais, transformei o poema "Firmina" em um reggae.

Vejam o resultado no link abaixo 



domingo, 25 de agosto de 2024

1 - Laura Rosa

 


Laura Rosa 

(Para Natan Campos)

   

Em um campo laureado de rosas

Uma violeta desabrochou.

Quando criança, um dia chorou

Falta de pai, de frases carinhosas.


Mãe afetiva pra escola a levou

Ali encheu cadernos de leve prosa

Construiu castelos no ar, airosa,

“Promessas” em ondas do mar gravou.


Boa prosa, refinados versos criou.

A ensinar, toda a vida dedicou.

Escreveu para adulto e pra crianças…


Ao partir, deixou rastros de esperanças

Plantados em nulo mar de esquecimento

Em versos de sal, cal e cimento.


(José Neres - 24.08.2024)



Instado pelo professor e poeta Natan Campos, escreverei uma série de "Sonetos" sobre escritores maranhenses que caíram no esquecimento. Temos acima o primeiro texto.

sábado, 24 de agosto de 2024

artigo 2 - AS ÚLTIMAS LINHAS DE JOÃO UBALDO RIBEIRO

 

AS ÚLTIMAS LINHAS DE JOÃO UBALDO RIBEIRO

José Neres

(Professor, Membro da AML, ALL, APB e da Sobrames-MA)

 



                Acredito que todas as pessoas apaixonadas pela literatura devam passar por inúmeros momentos de infidelidade literária, ou seja, apaixonamo-nos hoje pela obra de um escritor ou de uma escritora, pensamos que ali naquelas páginas está nosso par perfeito. Porém, dias, semanas, meses ou mesmo horas depois, somos apresentados a outros livros, a outros estilos, a outros escritores e mergulhamos em uma nova paixão, muitas vezes avassaladora.

                Ao longo de minhas tantas décadas de leitura já me vi encantado por dezenas de autores e autoras que acabaram fazendo parte de minha vida, já que, no caso das infidelidades literárias, não é possível abandonar a paixão antiga só por estarmos flertado com um novo alvo de atenções. Nada disso! Sempre é possível dividir-se entre várias paixões sem prejuízo para nenhuma delas. Talvez apenas nosso bolso sinta os impactos dessas visitinhas às muitas estantes de nossas poucas livrarias.

                Clarice Lispector, Fernando Sabino, Assis Brasil, Ferreira Gullar, Carolina Maria de Jesus, Mario Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes Telles, Laura Esquivel, Umberto Eco, Ítalo Calvino, Antonio Buero Vallejo, Franz Kafka, Aluísio Azevedo, Chimamanda Ngozi Adichie, Josué Montello, José Chagas, Pepetela, Cecília Meireles, João Guimarães Rosa, Tolstoi, Bram Stoker, Lima Barreto, Machado de Assis, Isabel Allende, Waldemiro Viana, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Patativa do Assaré, Mia Couto, Agatha Christie, Graciliano Ramos, Jorge Luis Borges, Nelson Rodrigues, Rachel de Queirós, Humberto de Campos, Murilo Rubião e Rubem Fonseca são algumas das inúmeras e silenciosas testemunhas desses muitos momentos em que foi impossível aceitar ter apenas uma companhia.

                Nesse rol posso adicionar o nome do baiano João Ubaldo Ribeiro (1941-2014), escritor que chamou minha atenção desde 1999, quando li A Casa dos Budas Ditosos, que à época fazia parte da Coleção Plenos Pecados. (Nota triste: Uma antiga aluna pediu esse livro emprestado e nunca mais apareceu em sala de aula. Dizem as más línguas que ela fugiu com o namorado para outro estado. O amor é lindo, mas bem que poderia ter devolvido aquele belo livrinho de capa vermelha e o nome luxúria em alto-relevo). Possivelmente como forma de me livrar desses traumas, recentemente comprei esse livro em nova edição, mas não tem o charme da edição original. Acho que o trauma continua.

                Alguns anos depois, em um dos meus aniversários, a querida amiga Geusiléia Silveira me presenteou com um exemplar de O Conselheiro Come, um belo livro de crônicas de João Ubaldo Ribeiro e que leva o leitor a refletir sobre como o intelectual é tratado em nossa sociedade. Reli esse livro diversas vezes e sempre o recomendo para quem gosta de entrar em contato com um estilo ágil, bem-humorado e carregado de ácidas ironias.

                A partir desse momento, esse escritor começou a ter lugar garantido em minha sempre abarrotada mesa e em minhas estantes. Vez ou outra revisito, limpo e folheio A arte e a ciência de roubar galinha, O rei da noite (que tenho, mas confesso que não li ainda),  Setembro não tem sentido (livro de estreia de Ubaldo), Viva o povo brasileiro (um clássico!), O sorriso do lagarto (que fez sucesso também em sua adaptação para a TV), Sargento Getúlio (sucesso também nos cinemas), Miséria e grandeza do amor de Benedita (esquecido e até mal falado, mas que é meu preferido),  Diário do Farol (gostei bastante!), Vencecavalo e o outro povo (maravilhosa alegoria sobre os tempos e a política atual), livros que dificilmente serão emprestados!

                Recentemente, fiquei sabendo que à época de seu falecimento, o escritor baiano preparava um livro que traria diversos contos ambientados no Leblon, bairro onde o autor de O Feitiço da Ilha do Pavão morou por cerca de duas décadas e que ele conhecia profundamente. Desses contos, apenas dois haviam sido completados e foram publicados sob o título de Noites Lebroninas (Editora Objetiva, 2018, 103 páginas). Não pensei duas vezes, pedi o livro e quando o gentil rapaz dos Correios tocou a campainha e entregou a encomenda, iniciei a leitura.

                Claro que não irei aqui contar detalhes dos dois contos que compõem o livro, não irei fazer os chamados spoilers, como dizem os jovens de hoje. Irei apenas contar alguns breves detalhes para conduzir quem nunca leu esse autor pelas veredas de sua prosa bem articulada. Mas posso afirmar que nesse livro João Ubaldo Ribeiro continuou fazendo o que sempre fez de melhor: destacou em cores vivas tipos comuns que poderiam passar despercebidos em uma saga, mas que mereceram a atenção de um escritor que dominava a técnica da construção de personagens.

                Nesse livro infelizmente incompleto, o leitor irá encontrar, no conto que dá nome ao livro, um porteiro que frequenta uma festa de pessoas ricas, um médico que ganha dinheiro apostando sobre a sobrevivência ou não de seus pacientes, além de muitas outras peripécias. No segundo texto – intitulado O Cachorro Falafina e seu Dono Dagoberto (um dos melhores contos que li recentemente) – temos um cachorro que tem a capacidade de escolher os parceiros de seu dono e que é capaz de tudo para proteger aquele que considera como grande amigo. O enredo é interessante e a execução foi primorosa.

                No prefácio do livro, Geraldo Carneiro lembra que “João Ubaldo Ribeiro é sempre um humorista” e que o escritor baiano “construía seus livros de forma peculiar. Primeiro escolhia o título. Depois, a epígrafe. Por fim, começava a escrever o primeiro parágrafo”, sem ter um plano exato de como chegaria à conclusão de seus textos. Possivelmente ele nem precisasse mesmo desses planos, tinha habilidade suficiente para conduzir suas personagens pelas muitas trilhas pelas quais um escritor menos experiente poderia se perder.

                No final da leitura fica o desejo que jamais será realizado de saber como seriam os demais contos desse livro que marca a despedida de um mestre da literatura brasileira.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

TEMPO

 TEMPO

(José Neres)


O tempo é um rio em minhas veias.

Enfrenta mil pedras e montanhas

Silencia a dor das próprias entranhas

E não se perde nas curvas das teias.


E comemora cada meu suspiro

Com grito silencioso e duro.

Assim, sem ser verde, fico maduro

Chorando para dentro em vão retiro.


O tempo me deu tudo o que não tenho

Por ele só passo, não me detenho…

Ele lembra tudo, de nada olvida,


Para agradá-lo vivo em pleno empenho,

Sendo sabedor de que de onde venho

Brota um rio a devastar minha e vida.

domingo, 18 de agosto de 2024

Firmina

 FIRMINA


Em uma das mãos, triste flor suspensa;

Na outra suspende solitário livro;

A seus pés, toda uma obra imensa

Lembra o tempo usando um eterno crivo.


A praça guarda história intensa:

Dor, olvido, gritos de compaixão…

Uma negra que todo dia pensa 

Em perder seus filhos pra escravidão.


Úrsula e Tancredo bem  ali estão 

Eternizados em suave história 

De dor, morte, desespero e paixão.


Gupeva ali vive em cada memória,

E aves lá cantam todas as manhãs 

Louvando a Firmina de Guimarães.


(José Neres)


domingo, 11 de agosto de 2024

Artigo 1 - UM TRAÇO PECULIAR DE CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

 

ARTIGO DE SEGUNDA #1

 

UM TRAÇO PECULIAR DE CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

José Neres




                Filho do casal formado por Amâncio José da Paixão da Silva, que depois retirou o Silva e adicionou sua alcunha Cearense ao nome, e da senhora Maria Celestina Braga da Paixão, Catulo da Paixão Cearense veio à luz, segundo seu biógrafo mais recente – Luiz Américo Lisboa Junior - em 31 de janeiro de 1866. Sobre sua data de nascimento, é importante lembrar que há informações diversas espalhadas em livros, jornais e em páginas da internet. O poeta do Luar do Sertão, ao falecer em 10 de maio de 1946 – em um domingo de Dia das Mães – era reconhecido, amado pelo público e aclamado pela crítica.

                Autor de obras memoráveis, como Meu Sertão, Sertão em Flor, O Evangelho das Aves, O Sol e a Lua e Um Boêmio no Céu, Catulo da Paixão Cearense, seja com seus poemas em livros, jornais e revista, seja com suas composições musicais, encantou diversas gerações de amantes das letras e até hoje é visto como exemplo de poeta que sabia utilizar com perfeição tanto a escrita gramaticalmente escorreita quanto as variantes sertanejas. Composições suas, como Luar do Sertão, A Flor do Maracujá e Flor Amorosa já foram diversas vezes regravadas por intérpretes dos mais variados estilos musicais.

                Embora tenha sido recorrentemente instado a candidatar-se a uma vaga na Academia Brasileira de Letras, o poeta-compositor por diversas vezes deixou claro que não tinha disposição para pedir votos. No entanto, em 1946, ao ser sondando pelo escritor José Nascimento Morais, que à época estava à frente da Academia Maranhense de Letras, o autor de O Boêmio no Céu aceitou fazer parte da Casa de Antônio Lobo, sendo eleito para a Cadeira nº 9, em sucessão ao poeta Inácio Xavier de Carvalho, mas não chegou a tomar posse fisicamente, pois, mesmo tendo elaborado um singelo discurso, faleceu antes da cerimônia, sendo reconhecido postumamente como membro da AML.

                Em homenagem a toda a trajetória artística de Catulo, a revista A Noite Ilustrada dedicou-lhe uma edição especial com 38 páginas nas quais praticamente todas as facetas da vida e da obra do grande poeta maranhense foram analisadas.

                Porém, mesmo cercado de glórias, admirado por uma multidão e reconhecido como um dos grandes artistas brasileiros, há uma particularidade de Catulo da Paixão Cearense que chamava a atenção de alguns de seus contemporâneos: um narcisismo que beirava a megalomania com relação à sua obra. Até mesmo alguns de seus maiores admiradores se sentiam incomodados com essa característica do autor de Marrueiro, como é o caso do crítico literário Agrippino Grieco e do polígrafo Josué Montello.

                Em um capítulo de seu livro Poetas e Prosadores do Brasil (Conquista, 1968, 288 páginas), Grieco comentou que, quando cantava ou recitava na residência de algum amigo, Catulo exigia silêncio absoluto e não permitia que outro poeta ou cantor fizesse uso da palavra. Exigia exclusividade. O famoso crítico chegou a afirmar que Catulo “colocou seu talento acima da formosura das mulheres, proclamava que neste país nunca viu bardo superior, nem mesmo Castro Alves, que não lhe possuía senso filosófico, e, na língua portuguesa em geral, achava-se superior ao próprio Guerra Junqueiro, dizendo que os Simples deste não valiam o seu Evangelho das Aves” (pág. 57). Agrippino Grieco credita esse narcisismo de Catulo a uma espécie de inocência e de uma cândida vaidade, mas não deixa de lembrar que, caso tivesse poder, Catulo “arranjaria uma nova Inquisição, um auto-de-fé implacável para os demais autores” (pág. 57).

                Um episódio ocorrido em 1937 envolvendo Catulo da Paixão Cearense e Agrippino Grieco é comentado por Josué Montello no livro Baú de Juventude (Edições AML, 1997, 78 páginas). Em seu artigo, que foi inicialmente publicado logo após o passamento do vate maranhense, o autor de Cais da Sagração descreve Catulo como sendo “um velho baixo, de cabeça completamente raspada, metido numa roupa branca malamanhada, [com] o nariz recurvo, aparando o aro de tartaruga dos óculos avantajados” (pág. 35). Segundo Montello, naquele dia, em plena livraria, o autor de A vaquejada tentava convencer o crítico de que ele – Catulo – era o maior poeta do mundo. Como Grieco relutava em aceitar essa imposição, o poeta começou a declamar em voz alta seus versos. Baldadas suas investidas, saiu dali contrariado.

                O narcisismo literário de Catulo era tão visível que tanto Josué Montello quanto Agrippino Grieco recorrem a alegorias semelhantes para demonstrá-la. O primeiro diz que chegando ao céu, o bardo maranhense irá tentar apresentar-se como o maior poeta de todos os tempos. Caso São Pedro não se convença disso, “o poeta recitará seus versos. Se São Pedro mesmo assim contrariar-lhe o julgamento, Catulo apelará para o violão” (Pág.  37). Já Grieco, de modo mais ácido e irônico, escreveu o seguinte em seu artigo: “E estou a vê-lo à entrada do Paraíso, dizendo com a máxima naturalidade ao Padre Eterno: ‘Bom dia, caro colega!’”. Interessante notar que o embate entre o poeta e São Pedro é o mote da excelente peça Um Boêmio no Céu, uma das obras-primas da dramaturgia brasileira, mas que há tempos se tornou uma obra rara e sem reedições.

                Apesar de suas extremadas catulices megalomaníacas, poucos foram o que negaram o talento desse bardo maranhense que fez muito sucesso em vida, mas que, conforme vaticinou Humberto de Campos, acabou caindo no esquecimento, infelizmente. Talento nunca lhe faltou. Quanto à modéstia... deixemos para lá!

25 - FERREIRA GULLAR

 Fim de ano e também fim de projeto. Ao longo de vários meses, homenageamos duas dezenas e meia de escritores maranhenses.  Tudo começou qua...