segunda-feira, 23 de setembro de 2024

TUDO PASSA...

 

NOVOS ARTIGOS DE SEGUNDA #04

TUDO PASSA...

José Neres

 


                Tchau!

                Até Logo!

                Adeus!

                Não importa qual seja a palavra ou expressão escolhida, a hora da despedida é sempre dolorosa. Tão dolorosa que algumas pessoas preferem evitar as despedidas e saem discretamente, sem espalhafato, como se nunca tivessem passado por ali.

                Contudo, de alguma forma, estamos sempre nos despedindo de algo. Seja de uma pessoa, seja de um lugar, ou até de nós mesmos. O sábio Heráclito de Éfeso, o pai da Dialética, certa vez disse que nós não temos a possibilidade de entrar duas vezes no mesmo rio, pois, ao entrarmos novamente, já seremos outros, já seremos alguém com uma nova experiência, as águas do rio também já serão outras e, consequentemente, o rio já não será também mais o mesmo. Ou seja, nessa metáfora, ao mergulharmos nos rios da vida, deixamos para trás um pouco do que éramos e passamos a ser outra pessoa sem deixarmos que ser o que um dia fomos, como deixou gravado a escritora Cecilia Meireles em sue poema “O 4º Motivo da Rosa”, abaixo reproduzido:

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verás, só de cinza franzida,
mortas intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que me vão lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

 

                Mas, voltando às despedidas, somos seres etéreos dentro de uma ilusão de perenidade. Um dia estamos aqui, dias depois estamos ali, e um dia estaremos longe daqueles que amamos, daqueles a quem admiramos, daqueles que queríamos que fossem eternos. Mas se nem a saudade é eterna, que dizer das pessoas. Somos “nuvem passageira” vagando em um infinito céu...

                Todos os dias, ocupamos lugares deixados por alguém, sentamo-nos em cadeiras que já foram ocupadas por tantas outras pessoas que talvez nem mesmo estejam neste mundo terrenos. Porém, em nosso tolo egoísmo, pensamos que somos os primeiros e até últimos a estar em algum lugar, a falar determinada frase, a amar, a ser amado, a odiar, a ser odiado... Mas, na verdade, estamos sempre em um ato de despedida. Até que a despedida se torne definitiva. Até que o “adeus” tome o lugar do “tchau” e do “até logo”. Estamos preparados para isso?

                Nem sempre. Nem sempre. Sempre queremos ficar um pouco mais. Nem que seja um pouquinho mais. Também queremos que nossos entes queridos permaneçam mais tempo conosco. Mas como cantava, com sua potente voz, o magistral Nelson Ned, “tudo passa, tudo passará e nada fica, nada ficará...” resta saber quando. Ou melhor, é bom nem saber quando...

                Fica então o consolo de saber que assim como os bons momentos passam, os maus também passarão. Também um dia se tornarão apenas uma vaga lembrança em um resquício de memória...

                Então o que fazer enquanto a despedida final não vem? Difícil responder...

                Mas que tal aproveitar os momentos presentes. Dar e receber aquele abraço carinhoso? Retribuir aquele sorriso singelo? Dizer eu te amo para as pessoas amadas? Fazer o bem até para quem achamos que não merece? Utópico? Claro que sim. Mas como um dia talvez nem tenhamos chance de dizer “adeus!”, as birras de hoje serão apenas um detalhe de um passado que nem deveria acontecer.

                Claro que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há”. Pois, depois do adeus definitivo, os versos de Raul Seixas – “tente outra vez” – Não terão mais a menor chance de aplicabilidade. Então... Carpe Diem... Se tudo passará, deixemos para o futuro pelo menos nossos bons exemplos.

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