segunda-feira, 7 de outubro de 2024

ESCORAS

Novos artigos de segunda #06

ESCORAS

José Neres 


Chegamos ao fim de mais um período eleitoral. Depois das comemorações, os municípios talvez voltem ao estágio de normalidade. Talvez!

Neste exato momento, todos nós já sabemos o nome de cada um dos eleitos. Não sei se algum dos vencedores voltou às ruas para agradecer pelos votos. Muitos já descobriram que as promessas recebidas nada mais eram do que palavras jogadas ao vento da enrolação. Mas enrolão que enrola enrolão, merece cem anos de perdão. Ou mais! Às vezes, alguém pensa que irá buscar lã e sai de seu hipotético curral eleitoral todo tosquiado. Sem dinheiro, sem votos e como motivo de chacotas. Muitas vezes nem mesmo é convidado para tomar um copo daquela cerveja que ele mesmo pagou.

Não foi nada bonito ver nossas ruas coloridas com os milhares de “santinhos” que foram jogados durante a madrugada. Contudo toda essa sujeira pode dar ao eleitor a agradável sensação de poder pisar na cara daqueles inoportunos sujões que só voltarão a caminhar entre nós no decurso do próximo período eleitoral.

Outro caso interessante é observar como diversos candidatos se escoravam (em alguns casos deu certo!) em pomposos sobrenomes já clássicos nos cenários políticos. Outros se escoravam no poder econômico e na certeza de que aquele voto comprado não seria motivo de veto a seu já encardido nome. 

Houve também quem se escorasse nas sombras de pessoas de renome local, regional, nacional ou até internacional. Os eleitores mais ingênuos chegaram até mesmo a acreditar que aquela personalidade tão conhecida tenha parado por alguns momentos para posar para aquela foto notadamente modificada por algum programa de computador ou, como ocorre hoje, pela Inteligência Artificial. Há quem acredite em tudo!

Claro que houve quem se escorasse em um certo sucesso midiático. “Todo mundo me conhece…”, pensava o inocente candidato (existe essa categoria?) que descobriu, ao ler o relatório final, que não passa de um mero desconhecido com certa mania de grandeza. Megalomania pura ou impura.

Alguns candidatos se escoraram em (in)certas pesquisas sem o menor critério científico e que escondiam a falta de conteúdo com alguns nomes bonitos e palavreado cheio de indecifráveis termos técnicos. “Vi. Não entendi, mas, para não parecer burro, finjo que entendi”.

Principalmente houve quem se escorasse em polpudos fundos partidários, dinheiro coletado em impostos e que virou fumaça ou bens materiais. Já imaginaram se todos esses recursos fossem alocados de forma eficiente para combater a fome, a pobreza, o analfabetismo, as arboviroses, a mortalidade infantil, o abandono dos idosos, a falta de segurança?... Mas isso é um sonho… 

Mas ontem, com a divulgação dos resultados, muitas escoras caíram. E, quando as frágeis escoras caem, surge uma breve oportunidade de o povo observar as escórias que se escondiam por trás delas. 

Agora é respirar fundo e esperar. Daqui a dois anos, muitos desses grandes descobridores de solução para tudo estarão de volta. Beijarão crianças sujas, abraçarão idosos, beberão em copos de plástico, comerão em locais populares e estamparão aquele belo e ensaiado sorriso.

E nós - talvez - estaremos aqui, observando tudo com um sorriso cínico e vendo novas e velhas escoras ruírem ao som de irritantes musiquinhas de gosto duvidoso .

Só esperar!




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