Faz um bom tempo que conheço a professora e escritora Arlete Nogueira da Cruz e tenho muita admiração por ela como pessoa e como intelectual.
Segue abaixo uma tentativa de texto que fiz em homenagem a essa grande dama de nossa literatura.
O autor do texto, com Nauro Machado e Arlete Nogueira da Cruz. Fonte: Arquivo pessoal do autor |
ARLETE - DAMA DA LITERATURA
José Neres
Vou puxar o meu banquinho,
Temperar minha garganta,
Vestir meu terno de linho,
Deixar pra depois a janta,
Pedir com todo carinho
Um favor a minha Santa.
Pois preciso de talento,
De muito talento essa hora,
Para falar a contento
De uma nobre senhora
De um olhar sempre atento
Ontem, amanhã e agora.
Como eu não sou um poeta
Cada verso meu é um parto
Minha rima é sempre incerta
Cada estrofe, um sobressalto
Mas uma coisa é bem certa:
Nossa língua não maltrato.
Essa senhora merece
Toda consideração,
Pois de ninguém ela esquece
Dá a todos muita atenção.
Sua presença enobrece
Qualquer festa, ato ou salão.
O nome dela é Arlete
Nogueira da Cruz Machado,
Nome que o povo repete
Quase sempre admirado
E de quem a nós compete
Lembrar presente e passado.
Foi numa estação de trem
Que ela ao mundo chegou.
Em Cantanhede também
Ela jovem estudou,
Nas igrejas disse amém,
Nas ruas,ela brincou.
Sua mãe - dona Enói - tinha
Muita poesia na veia.
Ela nunca se continha
E tecia uma grande teia
De versos que leu sozinha
Em noites de lua cheia.
Raimundo Nogueira Cruz,
Seu bom pai muito estimado,
Era homem que fazia jus
A seu honesto ordenado
De agente cheio de luz
Com estrada a seu cuidado.
Estudou Filosofia
Em um centro federal
Estudava a noite e dia
Os autores em geral
De tudo ela conhecia
Tinha talento anormal.
Foi uma professora
Muito bem conceituada,
Jamais ela foi opressora,
Sempre foi tão dedicada,
Que houve turma transgressora
Por ela sempre encantada.
Sobre Walter Benjamin
Defendeu dissertação
Na PUC do Rio e assim
Obteve mestrado então
Com todo louvor, enfim,
Voltou a seu Maranhão.
Sempre foi tão estudiosa,
Sempre foi tão exemplar
Que mesmo sendo graciosa
Evitava namorar.
Recebia tanta rosa,
Mas sem se impressionar.
Um dia, ela conheceu
Belo príncipe encantado…
Coração amoleceu…
E foi marcado o noivado
O casamento ocorreu…
Foi festa pra todo lado!
O marido era poeta.
Era por todos respeitado.
Dono de obra correta,
Entendia do riscado
Dizia de forma aberta:
“Sou Nauro Diniz Machado”
Um belo casal formava,
Viviam de namorico
Quando a lua se deitava,
O sol ficava mais rico
Logo, logo ali chegava
O pequeno Frederico.
Logo o menino cresceu
Bom artista se tornou
Para o cinema verteu
Muitas obras que assinou
Da mãe, litania leu,
Do pai, poemas filmou.
Litania, por sinal,
É um poema maior.
Uma velha passa mal
A cidade vira pó.
Tudo parece normal
De nada o mundo tem dó.
A obra de Arlete é bem vasta
Tem começo e bom final
Não é prosa que se arrasta
De um modo tão banal
Para sabê-la ler basta
O “Trabalho Manual”.
Esse livro é composto
De três obras em prosa:
“As cartas” - livro com gosto
De uma mastigada rosa,
Tem um mundo de desgosto,
Também vida gloriosa.
Já no “Compasso Binário”,
Um romance magistral,
O tema nada ordinário
É um abuso sexual
Que teve como cenário
Esta nossa capital.
Nosso mundo interior
Tem a estrutura abalada
Quando “A parede” o leitor
Pega na mão espalmada
E percebe tanto primor
Numa história bem narrada.
Esse livro encantou
Nosso Josué Montello
Que logo se encarregou
De mandá-lo para o prelo.
Bem assim Cínzia ganhou
A vida sem paralelo.
Também para a criançada
Dona Arlete escreveu.
Essa obra foi lançada
E muita gente já a leu.
Nova edição é esperada,
Já que não empresto o meu.
Eram “contos inocentes”
Buscando novos ouvidos.
Eram histórias dolentes
De tempos tão bem vividos.
Eram segredos urgentes
De nossos povos sofridos.
Mas há um livro esquecido
Sobre a poesia atual
Do Maranhão oprimido
Que só sorria em jornal.
Livro que anda sumido,
Mas aqui isso é normal.
Memórias brotam do sal
E do sol brotam também…
É esse livro magistral
Que tanto artigo contém
Sobre um tempo sem igual
Que já foi e não mais vem.
E que dizer d’O Quintal
Pleno de recordações?
Uma obra sentimental
Recheada de emoções
Em cada verso um sinal
Vários mundos, mil lições.
Arlete é tão generosa,
Pessoa quase perfeita
Seu nome não é de rosa
Mas começa a virar seita
De forma tão glamourosa
Me citou em sua “Colheita”.
Esse livro nos condensa
Toda a obra de uma vida,
Foi uma batalha imensa
Jamais antes resolvida.
É livro para quem pensa
Que a alma pode ser ferida.
Da crítica tem o dom,
Embora seja discreta.
Reconhece pelo som
A verve de um bom poeta.
Nada diz fora do tom,
Mas ao falar sempre acerta.
A palestra com mil Nomes
E nuvens livro virou
Lá, de Assis a Gomes
Dona Arlete analisou.
Peço que esse livro tomes
Pra saber o que passou.
No caminho tinha um Rio
Rio de prosa e poesia
Um Rio cheio e vazio
Rio de dor e alegria
Rio de leito macio
Rio que não esvazia.
Além de muito escrever,
De publicar sua obra,
Arlete soube viver
Tudo o que a vida nos cobra.
Cumpre com cada dever,
Não comunga com manobra.
Sua obra já foi estudada
Até em vestibulares,
Teve tese dedicada
Para ela em vários lugares.
Sua leitura é indicada
Pra escolas e vários lares.
Depois que Nauro partiu
Para a sua eternidade,
Outra missão ela assumiu:
Levar pra posteridade
Tudo o que ele produziu
E hoje é grande novidade.
Desde então já publicou
Muitos livros do marido
Também sempre divulgou
Para o leitor tão querido
Tudo o que já encontrou
Sobre o bom Nauro perdido.
Caso queiras mais saber,
Sobre a vida dessa dama
E seu jeito de escrever,
Não carece tanto drama,
Recomendo logo ler:
Aquele livro te chama.
De dona Arlete eu sou fã,
Eu tenho até carteirinha.
Hoje mesmo, de manhã,
Rezando, só, na igrejinha
Pedi a Deus com todo afã:
“Proteja nossa amiguinha!”
Eu tinha muito a dizer,
Mas meu tempo chega ao fim.
Só me resta agradecer
Por ter paciência assim
De ouvir este pobre ser
Todo cheio de conversinha.
Para essa mulher tão calma
E de tão bom coração
Com toda a nobreza da alma,
Peço-lhes muita atenção
E cinco salvas de palma
Vamos lá, caro irmão!
Muitas palmas ela merece.
De tudo é merecedora.
Sua voz é uma prece,
Na vida, é vencedora.
Todo o mundo ela conhece,
Tem nobre alma sonhadora.
Agora saio de fininho.
Já terminei meu trabalho.
Daqui levo meu banquinho,
O caminho não atrapalho.
Meu verso é bem fraquinho,
Mas é meu, embora falho.
São Luís, 17 de novembro de 2024.
Caríssimo poeta, não é um cordel fraco... Bem construido e com divisão nas estrofes. Trata-se de um excelente poema. Fraterno abraço.
ResponderExcluirObrigado, nobre amigo.
ExcluirSimplesmente Maravilhosos, a musa e o poeta! 👏👏👏👏👏
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirAdorei o cordel, professor! Além de ser gostoso de recitar e de ouvir (como convém a um cordel), é didático! Fiquei com muita vontade de ler as obras em prosa citadas. Grande abraço!
ResponderExcluirObrigado. Vale a pena ler as obras da professora Arlete!
ExcluirAmei, professor! Como sempre você incrível com as letras.👏👏👏👏👏
ResponderExcluirMuito obrigado!
ExcluirEspetacular! Foi uma honra tê-lo como professor na época de CMV.
ResponderExcluirValeu, Vilson!
ExcluirVERDADE É UM POEMA PERFEITO EM TODAS AS EXIGÊNCIAS. 0 MESTRE NERES É AUTENTICO MESTRE COM TODA SUA MODÉSTIA..ABRAÇOS
ResponderExcluirMuito obrigado pelas carinhosas palavras.
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