quarta-feira, 12 de março de 2025

CONTO: TORCEDORA

 

Imagem criada com auxílio de Inteligência artificial 

TORCEDORA 

(José Neres)


Ele apenas esboçou um sorriso cínico quando eu lhe disse que não queria mais nada com ele, pois estava apaixonada por outra pessoa.

Depois ficou sério e perguntou quem era o safado que estava me comendo?

Foi nessa hora que o desespero se apoderou de mim. Quando ele sorria, a situação nunca era boa.

“É o Mosquinha?

“ Não! Tá ficando doido. Mosquinha sempre foi como um irmão para mim…”

“Então é o Pau de Aço…”

“Jamais… ele é. Nojento… Meu Deus!!!...”

“Então só pode ser o Serginho…”

“Não. Não é. Não é ninguém de seu bando… e esses três faz um tempão que nem vejo. Devem estar até presos. Desapareceram e…”

Nesse momento, ele voltou a sorrir, mas dessa vez com sangue injetado nos olhos.

“Porra, sua puta, matei três dos melhores homens que já tive por tua causa e agora vem me dizer que nenhum deles te comeu e que está apaixonada por outro. Quem é? Diz logo. Que vou matar esse filha da puta e depois volto para acertar as contas contigo.”

Nunca tinha visto ele daquele jeito. Estava transtornado. Se eu não contasse, ele me mataria ali mesmo. Acabei confessando.

“É teu pai. Estou ficando com ele. Já ficamos três vezes…”

“Cala tua boca… vou te amarrar. Saio e mato o velho. Depois volto e acerto as contas contigo.”

Só tive tempo de perguntar: “Vai matar teu próprio pai? Tá doido?

“Para quem matou no mesmo dia três irmãos da quebrada, matar um pai escroto é fichinha.”

Saiu. 

Não sei por quanto fiquei ali. Amarrada. Mas, para quem espera, qualquer minuto vira eternidade.

Voltou.

Aquele sorriso cínico não mais estampava seu rosto. 

“Pronto. Acabou. O velho já era. Mas foi macho. Morreu sem confessar nada. Esquece. Acabou. Agora você é só minha e pronto. Mas não me traia mais, pois, da próxima vez…”

Me desamarrou e eu caí a seus pés chorando.

“Para de chorar, porra! Para de chorar, vai tomar um banho. Bota uma roupa transparente e volta cá. O jogo está para começar. Se meu time ganhar, vamos comemorar e esquecer toda essa merda. Mas, se perder…”

Não precisou completar. Tomei o melhor banho da minha vida. Vesti o que ele pediu e me tornei a torcedora mais fiel que existe. 

Ele nunca mais tocou no assunto. Apenas no segundo domingo de agosto é que amanhece meio irritado, mas na hora do jogo geralmente se acalma.


3 comentários:

  1. O famoso e famigerado amor bandido. Tudo pelo poder e pelo sexo.

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  2. Maravilha! Fico grato, nobre amigo.

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  3. Bacana! Bom texto. Um amor fugaz que que cede no jogo

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