segunda-feira, 28 de outubro de 2024

A MARATONA

 Novos artigos de segunda #09


A MARATONA 

José Neres 

Todo início de ano letivo digo a meus alunos da última série do ensino médio que a preparação para a prova do Exame Nacional do Ensino Médio equivale ao treinamento para uma maratona. É preciso muito esforço próprio e treinamento para se chegar ao momento da decisão com boas chances de atravessar a linha de chegada ainda com fôlego. Nem precisamos pensar em ser o primeiro colocado. Chegar bem já é uma grande vitória.

Mas, infelizmente, nem todo mundo se prepara adequadamente para essa exaustiva prova de conhecimento e de resistência física e emocional. Há quem pense que basta estudar nas últimas semanas, fazer uma boa revisão em um dos inúmeros cursos preparatórios ou perder algumas noites de sono para alcançar a vitória. Em alguns casos até que essa estratégia dá certo, mas esses são casos raros, raríssimos.

Certa vez, tive uma aluna que foi considerada um fenômeno - foi antes do advento do ENEM, mas serve para exemplificar. Ela praticamente não tinha vida social, vivia com o rosto enfurnado em livros e apostilas, escrevia duas redações por semana, não faltava às aulas, anotava tudo e não perdia um plantão de tira-dúvidas. Resultado: foi aprovada em primeiro lugar em diversas universidades, alcançando inclusive nota máxima em redação. 

Porém, para minha surpresa, durante uma entrevista a um canal de televisão, ela afirmou à repórter que levava uma vida normal e sem estresse, que não perdia a oportunidade de interagir com os colegas e que o vestibular não deveria interferir nas relações pessoais. Como as pessoas mentem para receberem elogios! Não vou dizer que assim há muitos, pois estaria mentindo… a dedicação daquela jovem à concretização de seus objetivos é louvável. Mas a vaidade de querer esconder as marcas de seus sacrifícios talvez tenha desvalorizado muitas de suas vitórias.

Há também o caso de dois outros alunos - um casal - que superaram diversos obstáculos e conseguiram excelentes notas e alcançaram seus objetivos. Lembro-me de que eles não perdiam aula e que, na hora dos intervalos, tomavam todo o tempo dos professores que encontravam diante de si para solucionarem suas dúvidas. Muitos colegas ficaram sem lanche e sem descanso para que tudo desse certo. Eles até que mereciam. 

Mas…

Mas, logo depois do resultado final - parece combinado - os dois disseram que estudaram sozinhos o tempo todo e que não tiveram apoio da família, da escola, dos colegas e nem dos professores. “Essa vitória eu devo a mim mesma” disse a garota em uma de suas redes sociais. O rapaz, por sua vez, declarou que “é possível passar no vestibular usando apenas a própria inteligência e o esforço próprio”. Lindo! Lindo mesmo! Pena que não é verdade.

 Ninguém chega ao final de uma maratona como o ENEM sem os cuidados de uma família, o apoio de amigos, o financiamento de alguém e sem as lições ministradas pelos professores. 

Está chegando a hora de mais uma maratona do conhecimento. Espero que você tenha se preparado bem. Quem sabe assim você conquiste o direito de ser aplaudido por suas mentiras e bravatas! 

Torço por seu sucesso! Nem precisa agradecer!





sábado, 26 de outubro de 2024

16 - INÁCIO XAVIER DE CARVALHO

 Chegamos a mais uma homenagem aos escritores maranhenses que mereciam melhor acolhida por parte do público leitor. O poeta de hoje é Inácio Xavier de Carvalho (1871-1944), um dos fundadores da AML e autor do belo livro Missas Negras 



INÁCIO XAVIER DE CARVALHO

José Neres 

(Para Hilmar Hortegal)


Foi aquele gordo cão tão ingrato

Que chamou minha atenção para ti,

Ó poeta tão descrente de si,

Mas tão galante em teu próprio retrato.


Foste nobre poeta de bom trato

Teus “frutos selvagens” li e reli…

Em tuas “missas negras”, me perdi 

E só de ruínas enchi meu prato.


Ao jogador, ao coveiro, ao devasso

E a um ladrão bem fora de compasso

Dedicaste sempre um belo soneto…


Em cada quarteto, em cada terceto

Que de tua ácida pena brotou

Há mil lágrimas que alguém derramou.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

SERIA BOM SE FOSSE APENAS FICÇÃO...

 Esta semana, meu amigo Mhario Lincoln trouxe de volta em seu portal Facetubes este texto que foi publicado inicialmente em 2009.

Mesmo que os suportes tecnológicos citados estejam hoje obsoletos, em sala de aula pouca coisa mudou. Infelizmente. 

Adoraria que quem viesse a ler texto hoje, uma década e meia depois, considerasse  autor um louco que apenas tivesse inventado as situações, não é bem assim. 



SERIA BOM SE FOSSE APENAS FICÇÃO...

José Neres

É totalmente visível o depauperamento da educação em nossa sociedade. Isso permite ao professor imaginar o que todos gostaríamos que fosse somente ficção. Desse modo, temos abaixo a angústia de um profissional da educação diante de uma sala que quer tudo, menos estudar.

 A aula começa. 

O professor ensaia as primeiras palavras relativas ao assunto a ser trabalhado. Desatenção quase que total. Toca um celular. Uma revista da Avon passa de mão em mão. As conversas são postas em dia. Um rapazinho conecta o fone de ouvido a seu mp4 e relaxa ao som de sua música preferida. Uma senhorita retoca a maquiagem diante do espelhinho. O rapaz metido a conquistador derrama seu olhar para a colega do lado... Tudo é tão importante! Tudo é tão mais importante que o assunto da aula!... Tudo é tão mais importante que o conhecimento!... 

Diante da turma apática para o saber, o professor, num monólogo sem interlocutores derrama seu tão suado conhecimento para dois ou três Seres Estranhos que teimam em aprender. Já foi feita a chamada? Dezenas de olhos seguem atentamente os ponteiros do relógio. Uma mensagem é enviada para o namorado: “Vou dar um jeito de sair mais cedo. Vem me buscar. Te amo”.

 O professor eleva o volume da voz, na vã tentativa de abafar os murmúrios das conversas paralelas. Para prazer do mestre, as duas ou três Figuras Estranhas fazem algumas perguntas pertinentes ao assunto. Algumas questões são bem inteligentes, outras nem tanto, mas pelo menos serviram para tirar do ar aquele ranço de monólogo. O ônibus vai passar... A chamada ainda não foi feita... Acho que minha namorada já está lá embaixo me esperando... Bateu uma fome... E essa aula que nunca acaba!

 O pobre professor, com o olhar perdido, busca o brilho do entendimento nos olhos dos alunos, mas só encontra o opaco cinza da indiferença. O professor respira fundo. Olha para o relógio e vê que o tempo passou. Olha para a turma e sente que seu tempo passou. Olha para o mundo e vê que os tempos mudaram... Uma pergunta invade a consciência do já combalido professor: “O que eu estou fazendo aqui?” Ele respira fundo e tenta sintetizar o assunto do modo mais prático possível. “Alguma dúvida?” O ar de indiferença é a mais pungente resposta. 

De repente, um aluno sonolento levanta a mão. O mestre acredita que finalmente conseguiu atrair a atenção da turma. Será que virá uma pergunta que inoculará naqueles jovens o interesse pelo conhecimento? Posso ir ao banheiro? Decepção total. Aquelas duas ou três Figuras Estranhas acenam levemente com a cabeça. Eis a recompensa.

 É hora da chamada. Todos querem ser chamados em primeiro lugar. Alguns respondem com um “presente”, outros se limitam a levantar a mão. A maioria nem isso faz. Prefere sobraçar os livros e os cadernos quase virgens e se retiram de modo barulhento.

 Fim de horário. Metade da turma já está longe. A outra metade se prepara para não utilizar aquilo que não quis aprender. Todos nadam contra a correnteza do saber, buscando como tábua de salvação um diploma inflado com a certeza do nada ser.

 Na sala agora quase vazia, resta o que sobrou do mestre. Olhar vazio perdido em si mesmo. A consciência tranquila por ter ensinado trava uma feroz luta com a certeza de que quase nada foi aprendido. 

É hora de tomar um copo d’água e preparar-se para enfrentar outra turma apática. 

Uma nova aula começa...


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*Este artigo de foi publicado, em sua primeira versão no Jornal Pequeno, em 30 de abril de 2009. Após reformulações e acréscimos foi publicado na revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa, nº 22, em março de 2010.

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

A ÚLTIMA VIAGEM...

 NOVOS ARTIGOS DE SEGUNDA #08

A ÚLTIMA VIAGEM...

José Neres 



Faz um bom tempo que não comento algum livro por aqui. Não é por falta de vontade, de interesse ou por extremo cansaço. Na verdade, nem imagino a razão. Simplesmente outros temas e assuntos atravessaram meu caminho e foram priorizados.

Porém há momentos em que um livro nos puxa pelo braço e praticamente exige que registremos algo sobre ele. Esse é o caso de A última viagem de Gonçalves Dias e outros contos ( Edições AML, 2024, 152 páginas), o mais recente lançamento do experiente e talentoso José Ewerton Neto, escritor que há muitos anos vem brindando seu público com bons poemas, excelentes crônicas, criativos contos e bem elaborados romances.

O livro é composto de quatro contos - três deles já publicados em outros trabalhos e um inédito. Em cada um dos contos, José Ewerton deixa para os leitores uma sutil lição de escrita e de vida.

No primeiro texto - A última viagem de Gonçalves Dias - fica claro que a construção do texto (muitas vezes) é mais importante que seu desfecho. De modo bastante lírico, mas sem apelar para as facilidades e armadilhas da pieguice, ele traz à tona um hipotético diário no qual um dos marinheiros do navio Ville de Boulogne narra os momentos finais da vida do poeta Gonçalves Dias.

Em uma narrativa ágil, comovente e cheia de detalhes, o contista recorre à busca da verossimilhança para fazer o leitor acreditar que aquele diário realmente existe e que ali há um depoimento histórico. Mas é possível perceber que por trás da narrativa ficcional existe uma grande e minuciosa pesquisa sobre a época em que se passa a história, sobre a linguagem marítima e sobre a vida e a obra Gonçalves Dias. No final, o desfecho é o esperado e já conhecido do público, pois o autor não deseja alterar a história, mas sim preencher as lacunas com sua imaginação e sensibilidade.

No segundo texto do livro - Pequeno dicionário das paixões cruzadas - José Ewerton Neto dá lições de como um acontecimento pode ser narrado de forma criativa. Um caso passional aparentemente corriqueiro e que poderia ilustrar as páginas policiais de um jornal é narrado não apenas a partir de uma ordem cronológica que serve para elucidar a questão, mas também seguindo uma ordem alfabética. O resultado é um envolvente trabalho com a linguagem e com a tessitura de uma trama repleta de peripécias e reviravoltas.

Em Viagem tão longa, o escritor investiu na construção de um impactante desfecho capaz de levar os leitores a uma reflexão acerca das relações parentais e suas fraturas sociais e emocionais, muitas vezes relegadas ao plano de um esquecimento que pode acabar favorecendo a todos os envolvidos. 

Partindo da narração de um passeio de moto entre um filho e um pai, e da conversa que se estabelece entre eles, o conto descamba para uma experiência fantástica na qual as queixas e descasos perdem o sentido diante da inefabilidade das inevitáveis despedidas. É um conto para ler liberando sorrisos e segurando lágrimas.

Finalmente, temos o conto intitulado Volte ao meu romance, um texto escrito em forma de jogo de encaixes no qual histórias paralelas se entrecruzam formando um todo orgânico e muito bem estruturado, com disputas intelectuais, amorosas e um complexo entremear de narrativas que se completam. 

Esse novo livro vem comprovar que José Ewerton Neto é um dos mais criativos prosadores da literatura brasileira contemporânea. Mas é importante também que, no que se relaciona com a literatura, essa criatividade venha sempre acompanhada de um exaustivo trabalho estético na busca da melhor solução possível para cada desafio apresentado pelas personagens e pela história em si. E Ewerton sabe vencer cada um desses desafios.


José Ewerton Neto, Gabriela Lages Veloso e José Neres, na noite do lançamento do livro.


domingo, 20 de outubro de 2024

15. SOUSÂNDRADE

 Neste Dia do Poeta, homenageamos um dos ícones de nossa poesia, o escritor Joaquim de Souza Andrade, qua assinava seus textos como Sousândrade, autor do clássico poema épico Guesa.
Fonte da imagem: Internet 


SOUSÂNDRADE

José Neres 

(Para Sebastião Moreira Duarte)


Sua vida foi um trânsito errante…
Foi ao triste som de selvagens harpas
Que releu Shakespeare, Göethe e Dante,
Em verso digladiou, trocou farpas…

Fez de todo o mundo sua morada
E, em cada viagem, teve rompante
De gênio em busca da frase sagrada
Que eternizasse o tempo num instante.

Sabia de seu lugar no futuro, 
Sabia que o presente é inconstante
Ácido, cruel, estranho e bem duro,

Capaz de fazer Vate delirante 
Comer as pedras de seu próprio muro,
Na condição de mero mendicante.

sábado, 12 de outubro de 2024

14. CONCEIÇÃO NEVES ABOUD

Mais uma homenagem a uma escritora que muito contribuiu para nossa cultura, mas que agora está meio esquecida.


CONCEIÇÃO NEVES ABOUD

José Neres 

(para Inaldo Lisboa)


Por entre seus dedos, um rio fluía…

O “rio vivo” da imaginação.

Ela todos os dias coloria

O mundo com a tinta da ficção.


Belo dia, na Ilha, soprou um vento

E ela, brincando em “ciranda da vida”

Criou as linhas que tecem o tempo

Em obra muito bem desenvolvida.


“Galhos de cedro”, “grades e azulejos

São outros romances seus publicados,

Mas, por falta de verba e de desejos,


Livros como “o preço” foram deixados

À espera de outros melhores ensejos,

Seguindo até esta hora ignorados.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

13 - HUMBERTO DE CAMPOS

 Não me canso de homenagear os grandes escritores de nossa terra. Desta vez, trago o cronista, poeta, jornalista e contista Humberto de Campos, um escritor que marcou uma geração com a força de seus escritos.





HUMBERTO DE CAMPOS

José Neres 

(Para Rinaldo de Fernandes)


As memórias não cabem num diário.

Elas são múltiplas e inacabadas,

São poeiras de vidas relembradas,

São crônicas em busca de um salário.


Tais memórias são lutas reprisadas,

É monstro esperando único sinal

Do tímido garoto Catimbau,

A esperar beijo em faces degoladas.


As memórias são frutos de cajueiro 

Rodando o mundo em latas de conserva,

Revivendo de janeiro a janeiro


Tudo o que vivi em extrema reserva.

Mas eis que tive um sonho derradeiro:

Morrer tendo a verdade como serva.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

12 - CATULO DA PAIXÃO CEARENSE

 Hoje, no dia das comemorações do 161⁰ ano do nascimento de Catulo da Paixão Cearense, deixamos aqui nossa homenagem a esse incrível escritor. 



CATULO DA PAIXÃO CEARENSE 

José Neres 

(Para Vavá Melo)


Da cidade, ele cantou o sertão,

Dormiu e acordou ao som do luar,

Disse às moças as belezas do amar,

Usando apenas a voz e um violão.


Era Catulo da Paixão Cearense 

Grande poeta de imenso talento 

Para criar versos era um portento -

Grande orgulho do povo maranhense…


Catulo foi só poesia e paixão,

Sua obra hoje é livro, peça e canção,

É bom exemplo de boa poesia


Catulo - caso lido todo dia -

Mostra que o mundo é uma explosão

Que toca fundo mente e coração.

segunda-feira, 7 de outubro de 2024

ESCORAS

Novos artigos de segunda #06

ESCORAS

José Neres 


Chegamos ao fim de mais um período eleitoral. Depois das comemorações, os municípios talvez voltem ao estágio de normalidade. Talvez!

Neste exato momento, todos nós já sabemos o nome de cada um dos eleitos. Não sei se algum dos vencedores voltou às ruas para agradecer pelos votos. Muitos já descobriram que as promessas recebidas nada mais eram do que palavras jogadas ao vento da enrolação. Mas enrolão que enrola enrolão, merece cem anos de perdão. Ou mais! Às vezes, alguém pensa que irá buscar lã e sai de seu hipotético curral eleitoral todo tosquiado. Sem dinheiro, sem votos e como motivo de chacotas. Muitas vezes nem mesmo é convidado para tomar um copo daquela cerveja que ele mesmo pagou.

Não foi nada bonito ver nossas ruas coloridas com os milhares de “santinhos” que foram jogados durante a madrugada. Contudo toda essa sujeira pode dar ao eleitor a agradável sensação de poder pisar na cara daqueles inoportunos sujões que só voltarão a caminhar entre nós no decurso do próximo período eleitoral.

Outro caso interessante é observar como diversos candidatos se escoravam (em alguns casos deu certo!) em pomposos sobrenomes já clássicos nos cenários políticos. Outros se escoravam no poder econômico e na certeza de que aquele voto comprado não seria motivo de veto a seu já encardido nome. 

Houve também quem se escorasse nas sombras de pessoas de renome local, regional, nacional ou até internacional. Os eleitores mais ingênuos chegaram até mesmo a acreditar que aquela personalidade tão conhecida tenha parado por alguns momentos para posar para aquela foto notadamente modificada por algum programa de computador ou, como ocorre hoje, pela Inteligência Artificial. Há quem acredite em tudo!

Claro que houve quem se escorasse em um certo sucesso midiático. “Todo mundo me conhece…”, pensava o inocente candidato (existe essa categoria?) que descobriu, ao ler o relatório final, que não passa de um mero desconhecido com certa mania de grandeza. Megalomania pura ou impura.

Alguns candidatos se escoraram em (in)certas pesquisas sem o menor critério científico e que escondiam a falta de conteúdo com alguns nomes bonitos e palavreado cheio de indecifráveis termos técnicos. “Vi. Não entendi, mas, para não parecer burro, finjo que entendi”.

Principalmente houve quem se escorasse em polpudos fundos partidários, dinheiro coletado em impostos e que virou fumaça ou bens materiais. Já imaginaram se todos esses recursos fossem alocados de forma eficiente para combater a fome, a pobreza, o analfabetismo, as arboviroses, a mortalidade infantil, o abandono dos idosos, a falta de segurança?... Mas isso é um sonho… 

Mas ontem, com a divulgação dos resultados, muitas escoras caíram. E, quando as frágeis escoras caem, surge uma breve oportunidade de o povo observar as escórias que se escondiam por trás delas. 

Agora é respirar fundo e esperar. Daqui a dois anos, muitos desses grandes descobridores de solução para tudo estarão de volta. Beijarão crianças sujas, abraçarão idosos, beberão em copos de plástico, comerão em locais populares e estamparão aquele belo e ensaiado sorriso.

E nós - talvez - estaremos aqui, observando tudo com um sorriso cínico e vendo novas e velhas escoras ruírem ao som de irritantes musiquinhas de gosto duvidoso .

Só esperar!




sexta-feira, 4 de outubro de 2024

LEVI, DOIS ANOS...

 Dia sei deste mês de outubro, comemoramos os dois anos da chegada do Levi. Eis nosso singelo presente, do qual ele só terá noção daqui a alguns anos.

Parabéns, Levi!!!!! 






LEVI

José Neres 

(Para Laura e Thomas)


Bolinho de carne. Toquinho de gente…

Como pode um ser tão pequenino,

Uma breve luz de sopro divino,

Alterar tantas vidas de repente?


Era madrugada, o mundo dormia,

Então a virgem lua empalideceu…

No céu, um anjo disse: “Levi nasceu!”

Outro gritou: “ Hoje é festa…Alegria!”


Ele olhou para um e para o outro lado…

“Papai? Mamãe?” - então, logo pensou:

“Estou protegido, ó Deus, Obrigado!”


Da criança aquele sono pesado

É de confiança em quem a gerou,

Certeza de que a alegria chegou.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

DONA GENY

 Ela não deixou uma linha escrita, mas deixou exemplos de amor e de solidariedade. Sem nenhum gerar, criou vários filhos com todo carinho.

Dois dias antes do Dia das Mães, prestes a completar seu 95⁰ aniversário, ela, discreta como sempre foi, partiu rumo ao o finito.

Fica aqui nossa homenagem 





DONA GENY 

José Neres


Agora que já estás longe das dores,

Deitada em eterno sono profundo,

Encoberta por mil ramos de flores,

Sabes a falta que fazes ao mundo.


A cadeira permanece vazia,

E nosso olhar na parede também…

E nossos risos não têm alegria

E nossos lábios só dizem “Amém!”


Tão bem soubeste ler nosso mundo 

Sem recorrer ao alfabeto mundano 

Sem transformar ser sacro em ser profano.


Cicatrizes saram no corpo humano,

Mas, em nossa alma, a dor, em tom profundo,

Nos seguirá até um outro eterno mundo.

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

11 - BANDEIRA TRIBUZI

 Sempre no propósito de homenagear nossos escritores, hoje trazemos Bandeira Tribuzi, um dos mais representativos nomes de nossa literatura. 

São Luís, a natureza humana e as reflexões do dia a dia estão no centro da produção literária de Bandeira Tribuzi, um poeta sempre atual.

fonte da imagem: internet 




BANDEIRA TRIBUZI

José Neres 

(Para Flaviano Menezes)


Ó, minha cidade, como viver

Vendo todo dia tua agonia?

Como irei tuas fontes esquecer,

Se elas são minhas fontes de alegria?


Plantaste uma rosa cheia de esperança,

Um dia, à sombra de belo pinheiro,

A safra não teve aquela pujança 

Com que tanto sonhaste o ano inteiro.


Hoje aqueles sonhos pele e ossos são…

Hoje, nossa velha-nova cidade

Nos ensina uma grande lição:


Viver é também ter capacidade 

De fingir não morrer só de saudade,

De sufocar dores no coração.

25 - FERREIRA GULLAR

 Fim de ano e também fim de projeto. Ao longo de vários meses, homenageamos duas dezenas e meia de escritores maranhenses.  Tudo começou qua...