Novos artigos de segunda #09
MAS… QUEM É LAURA ROSA?
(José Neres)
Ontem, dia 03 de novembro, a convite dos organizadores da 17ª Feira do Livro de São Luís, tive o prazer de mediar uma mesa de conversa literária formada pela professora doutora Diomar das Graças Motta e pelo poeta Wybson Carvalho. O assunto era a vida e obra da escritora e educadora maranhense Laura Rosa, uma das homenageadas desta edição da Feira.
Hoje, é muito difícil alguém iniciar um estudo sobre a produção intelectual de Laura Rosa sem pelo menos citar os trabalhos da professora Diomar Motta, que é a principal responsável pela divulgação da obra da autora de As Promessas. Em sua fala, de modo bastante didático, a professora falou sobre a gênese de suas pesquisas e das dificuldades encontradas para localizar textos e documentos que ilustrassem suas descobertas.
Como incansável pesquisadora, a professora Diomar Motta também anunciou o lançamento de um livro contendo trinta e uma crônicas da Laura Rosa - textos garimpados em jornais e revistas com as quais a nossa Violeta do Campo colaborou desde tenra idade. Claro que essa notícia foi bem recebida e merece aplausos.
Já o poeta caxiense Wybson Carvalho se dedicou a comentar sobre suas experiências juvenis, quando visitava a professora Laura Rosa na casa onde ela residia em Caxias e falou nos ensinamentos que recebeu durante esses contatos. Foi um momento carregado de emoção e de reminiscências, pois a memória afetiva é algo sempre importante na construção daquilo que somos.
O palestrante deixou bem claro que na época era ainda muito jovem para perceber a importância daquela mulher tão respeitada pelas pessoas da cidade. Contudo, parece que essa experiência deixou marcas profundas na vida desse poeta. E essas marcas produziram bons frutos.
Porém, fora do espaço destinado às palestras, uma outra situação chamava atenção: algumas pessoas faziam a seguinte indagação: “Que é Laura Rosa?”, “O que ela faz para merecer tal homenagem?”, “O que ela escreveu?”
Confesso que essas questões me incomodavam (e ainda me incomodam), mas o encontro serviu para comprovar que não estou solitário nesse fosso de incômodos. Os dois convidados da tarde também demonstraram que muitas vezes também são alvos de perguntas semelhantes.
Em breves palavras, podemos dizer que Laura Rosa nasceu há 140 anos, em 1⁰ de outubro de 1884, na capital maranhense, e faleceu na cidade de Caxias, em 14 de novembro de 1976, aos 92 anos. Foi professora, conferencista, poetisa, contista, cronista e inspetora de ensino. Publicou textos em jornais desde sua adolescência e é autora do livro As Crianças - uma pesquisa sobre educação no Maranhão, no Brasil e em alguns outros países; As Promessas, livro de contos que recentemente foi reeditado e que está disponível na internet, além do livro intitulado Castelos no Ar, que infelizmente até o presente momento não foi localizado.
Laura Rosa foi também a primeira mulher a tomar posse na Academia Maranhense de Letras e fundadora da Cadeira 26 daquela Instituição. Mesmo mantendo intensa atividade intelectual em revistas e jornais, a obra dessa escritora acabou caindo no esquecimento e somente nas últimas décadas vem sendo resgatada e divulgada.
Não defendo a ideia de que Laura Rosa tenha ficado esquecida por ser mulher e por ser afrodescendente. Há tantos homens e mulheres brancos, mestiços, negros, indígenas… que também foram invisibilizados pelo tempo. Acredito que a principal causa do ostracismo desses escritores e dessas escritoras é que eles e elas ousaram escrever em uma sociedade que não valoriza seus autores. Isso parece ser imperdoável. Como assim ? Como alguém ousa desafiar a lógica e publicar livros que raramente serão lidos?
Ah, quando cheguei à Feira, para mediar as palestras, estranhei: “Nossa! Nenhuma das vagas está ocupada pelos carros!” Avancei uns metros e vi inúmeros veículos disputando vagas sobre as calçadas e uma multidão aos gritos. Era a transmissão do primeiro jogo da final de um campeonato. Ah, sim! Faz sentido! Dois times em campo sempre atraem mais público do que uma Violeta do Campo.
Difícil vencer essa batalha!
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