segunda-feira, 30 de setembro de 2024

10 ,- DÉO SILVA

As pessoas um dia passarão. Deixarão este mundo físico e se encantarão em um indevassável além. Nós, que ainda estamos por aqui habitando este mundo terreno, nos tornamos responsáveis por guardar (n)a memória dos que já partiram.

As pessoas passam, as obras ficam. Lembro-me de que meu saudoso amigo Carvalho Junior, pouco antes de seu passamento, andava recolhendo informações sobre a vida e a obra do poeta  Déo Silva. Provavelmente, ele encontrou muitos documentos... Nunca saberei. 

O homenageado de hoje é o poeta Déo Silva, dono de uma dicção poética de altíssimo nível e que precisa se lido com atenção.




DÉO SILVA

José Neres 

(Para Wybson Carvalho)


De todos os ângulos deste mundo,

Parece-me o noturno o mais exato,

Pois ele me traz um vivo retrato

De um poeta batizado Raymundo.


Ele na arte adotou por nome Déo,

Era poeta de talento fecundo,

Fazia versos de tom tão profundo…

Parecem astros plantados no céu.


Sua “Equação do Verbo” confirmou

Como a arte pode ser simples e bela.

Poucos trabalhos ele publicou.


Grande poeta, agia com cautela,

As curvas da vida ele respeitou,

Mas um grave acidente a tirou dela.

LAURA ROSA 140 ANOS DE NASCIMENTO

NOVOS ARTIGOS DE SEGUNDA #05

O texto de hoje é uma singela homenagem ao  140⁰ ano do nascimento da escritora Laura Rosa. Ela nasceu no dia 1⁰ de outubro de 1884 e faleceu ao 92 anos, em 1976. Foi a primeira mulher a ingressar nos quadros de sócios efetivos da Academia Maranhense de Letras e deixou para a posteridade um consistente trabalho em prosa e em versos.
Infelizmente seu nome caiu no esquecimento, bem como sua obra. Mas, aos poucos, um trabalho de resgate de sua produção tem sido feito por alguns pesquisadores.
Seu aniversário será amanhã, mas a homenagem é feita desde hoje. 




LAURA ROSA - VIOLETA DO CAMPO
José Neres

Ei, preste muita atenção,
Que uma história vou contar,
Mas não se assuste não,
Pois serei breve ao falar
De uma mulher com missão 
De uma flor se tornar.

A história não vou contar
Com começo, meio e fim.
Sou tonto, só sei narrar
O que está dentro de mim…
Do coração vou tirar
O não, o talvez e o sim.

Em São Luís ela nasceu
Dia primeiro do mês 
De um outubro todo seu
Bem caloroso talvez,
Mas seu pai não conheceu,
Pois ele apenas a fez.

Cecília da Conceição 
Era sua mãe amada.
Parda, de bom coração,
Era por todos estimada.
Por não saber dizer não,
Acabou sendo enganada.

Mil oitocentos e oitenta
E quatro era aquele ano
Que Cecília apresenta -
Envolta em um limpo pano -
A menina friorenta 
A este nosso mundo insano.

Sem presença do pai,
Um dia foi batizada
Como Laura Rosa e vai
Ser pela madrinha educada
De casa quase não sai
Sem ser bem acompanhada.

Dona Lucy, a madrinha,
E o padrinho Antenor
Cuidaram da menininha
Com todo carinho e amor,
Fizeram-na uma rainha 
Num espaço de favor.

De estatura pequenina
Com a tez amorenada,
Laura Rosa era uma mina
De poesia acumulada,
Foi nossa musa divina
De história não contada.

Com a madrinha aprendeu
Muito bem inglês falar
A todos surpreendeu
Por gostar de estudar.
Tinha um sonho todo seu:
Professora se formar.

Encontrou em Antônio Lobo 
Um querido professor
Que ensinava com arroubo
De ilustre educador
Que além de ser homem probo
Ensinava com amor.

Ainda quase menina
Muitas aulas recebeu
Do professor Almir Nina,
Grande mestre do Liceu,
Por quem teve grande estima
E com quem muito aprendeu.

Ela escrevia poesia
Bem recheada de encanto 
Sob o sol ou maresia
Com sorrisos ou com pranto.
Um nome adotou um dia:
De Violeta do Campo.

Foi por esse novo nome
Que ficou mais conhecida.
Versos que o povo consome…
Um dia foi bastante lida.
Depois de uma treva insone,
Acabou sendo esquecida.

Foi contista de primeira,
Mas não escrevia às pressas,
Com competência certeira
Publicou suas “Promessas”,
Obra boa e verdadeira 
Que não teve outras remessas.

Nesse livro pouco estudado,
Nossa grande Laura Rosa 
Mostra como ser tratado
Um sutil texto em prosa.
Livro bem elaborado 
Em escrita tão formosa!

Um dia subiu-lhe à pele
Sonho de ser imortal.
Entrou para a AML
Pela porta principal.
Ao discurso não repele,
Cumprindo todo o ritual.

Foi recebida com festa
Por Nascimento Morais
Então presidente desta
Casa de ilustres mortais.
A Academia era modesta
Como nos tempos atuais.

A Cadeira vinte e seis
Ela esse dia fundou
Fez tudo de uma só vez
Um sonho realizou
Não por falta ou escassez
De fãs se imortalizou.

Escolheu como patrono
Seu ilustre professor
Que fizera seu outono
De modo devastador
Que da Casa ficou dono
E seu eterno protetor.

Colaborou em jornais,
E em revistas também.
Poetou sobre animais,
Sobre coisas do além,
Ganhou aplausos demais,
Recebeu pouco vintém.

Logo depois de formada
Professora Normalista
Foi por muitos convidada
Como douta cientista
Para palestra marcada,
Pois era especialista.

Na palestra fez um passeio
Por países e culturas
Discutindo sem receio
Sobre as pequenas criaturas
Que deixam das mães o seio
Sempre cheio de ternura.

Tal palestra virou obra
Intitulada “As Crianças”,
Onde Laura se desdobra
Para trazer esperanças, 
Onde nossa autora cobra
Ensino de confiança.

Mas grande mistério há 
Sobre sua produção: 
De seus “Castelos no ar”
Não temos informação.
É preciso pesquisar 
Sobre essa publicação.

Breve folha a fenecer
Foi fonte de inspiração 
Para um soneto nascer
Depois ganhar projeção 
Seu “Esqueleto” foi ser
Sua maior criação.

Esse “Esqueleto de folha”
É um soneto perfeito.
Bela página de recolha
Escrita com muito jeito.
Uma excelente escolha,
Bons versos de bom efeito.

Professora concursada,
Foi em Caxias morar.
Lá foi idolatrada
E fez dali seu lugar.
Fixou sua morada,
Compôs ao som do luar.

Além de ser professora,
De ensinar tanto menino,
De escola foi diretora, -
Pra educar tinha tino -
Laura também foi inspetora 
Do sistema de ensino.

Nas letras, fez quase tudo…
Entre os símbolos e a forma,
Preferiu o conteúdo.
Sua obra segue a norma,
Mas precisa de estudo,
Pois a nós muito informa.

Os versos de Laura Rosa,
Habitam além do tempo
E também sua prosa
Servirá como um alento.
Sua obra caprichosa
Esbanja tanto talento.

Vida de noventa e dois
Anos teve nossa Laura.
Teve um antes e um depois,
Sempre de forma bem clara
Mas nosso tempo lhe impôs 
O que o tempo não declara.

Ficou bom tempo esquecida
Solta no limbo da história.
Bem raras vezes foi lida
Ou citada sua glória,
Teve ausência imerecida. 
Que falta ao povo? Memória!

Seus textos estão espalhados 
Por revistas e jornais
Do seu e de outros estados.
Alguns, parece, jamais
Serão recuperados,
Isso é triste. Nada mais!

Porém, é digno de nota
Todo um árduo trabalho
De busca da Islene Mota,
Do vate Wybson Carvalho,
Da grande Diomar da Motta -
Honrados guias nesse atalho.

Também Miriam Angelim,
E Denise Salazar
Têm pesquisado enfim
Os modos de divulgar
Todo dia até o fim
A Laura em todo lugar.

Por aqui já vou parando,
Eu satisfeito já fico,
Se há alguém escutando
Sobre a autora que indico
Eu rouco estou já ficando,
Dizem que com tudo intico.

Agora, antes de partir,
Peço apenas um favor:
Não deixem Laura sumir
Como se fosse um vapor.
De água a breve se diluir
No ano de Nosso Senhor.

Já faz cento e quarenta anos
Que Laura Rosa nasceu
Numa fábrica de enganos
Que tantos fios teceu
Para traçar longos planos -
Um dela, um seu e um meu.

Com meus botões acredito 
Que a homenagem maior
Que a vocês eu solicito
É ler a Laura sem dó 
Olhando para o infinito, 
Nem que seja um verso só.

Só me resta agradecer
Por tanta luz, tanto encanto 
Por poder ler e reler
A Violeta do Campo -
Mulher de muito saber
E de quem gosto tanto.


São Luís, 28 de setembro de 2024.






sábado, 28 de setembro de 2024

9 - VIRIATO CORRÊA

Embora com pouquíssima visibilidade, não desistimos de homenagear os autores da literatura maranhense. Trazemos hoje a encantadora figura de Viriato Corrêa, um dos mais férteis autores de nosso Brasil. Viriato é autor de muitas obras, mas em sua produção se destaca o livro Cazuza, um romance de formação que traz um magnífico recorte da história da educação brasileira. 


VIRIATO CORRÊA 
José Neres 
(Para Mhario Lincoln)

Era uma vez… um pequeno gigante
Que criava histórias como ninguém.
Um dia, abriu um baú velho também 
E de lá tirou um conto intrigante 

E as mais belas histórias do Brasil.
Remexeu com calma por um instante 
Com a varinha de condão restante 
E multiplicou dois contos por mil.

Para nós ele deixou uma Balaiada
E uma história sobre uma macacada,
Mas, ao tratar com o velho Cazuza,

De sua criatividade ele abusa,
E nos deixa doce história encantada
Que nos conduz ao choro e à gargalhada.


sexta-feira, 27 de setembro de 2024

8 - JOSÉ LOUZEIRO

 Continuando em nosso propósito de homenagear os autores maranhenses, hoje trazemos o jornalista, roteirista e prosador José Louzeiro, autor de diversos textos no qual retratava personagens saídos do dia a dia e mostrava uma realidade que quase sempre tentamos esconder.



terça-feira, 24 de setembro de 2024

NOTINHAS ALEATÓRIAS

 1 - Quando o sinal toca anunciando o final de uma aula não é apenas uma aula que acaba, mas também uma oportunidade que nos deixa. Uma oportunidade de aprender e de sonhar com dias melhores. Mas o que interessa é sair o mais rápido possível. 


2 - De repente, parece que determinadas pessoas descobriam a solução mágica para todos os problemas da Cidade. Mas tais problemas estão aí há décadas e, provavelmente, depois das eleições, continuarão. Porém essas pessoas que têm as fórmulas mágicas desaparecerão por mais tantos anos.


3 - Oh, uma "influenciadora" elogiou Machado de Assis! Oh, uma atriz falou bem da obra de Clarice Lispector! Que maravilha. Finalmente temos uma literatura... Há décadas ouço/leio/escuto pessoas falando bem de nossos autores, mas parece que precisamos da autenticação de alguém de fora para percebermos que estamos sentados sobre um tesouro.

Não conhecemos os frutos de nosso quintal, mas adoramos devorar os frutos dos quintais alheios. Será que um dia iremos perceber nossos valores?

Agora terei que torcer para algum "influenciador" (de fora, fique bem claro) elogie Gullar, Manoel de Barros, Patativa do Assaré, Raduan Nassar, Mario Quintana, Nauro Machado, Murilo Rubião, Fernando Sabino, Cora Coralina, Carolina Maria de Jesus, Josué Montello, Laura Rosa, José Lins do Rego,  Rachel de Queiroz, Murilo Mendes... Caso contrário, o brasileiro talvez nunca descubra que eles existiram e escreveram. E como escreveram!...


Ia falar mais, porém o sinal tocou... O importante é sair o mais rápido possível e aproveitar os vídeos com as dancinhas de trinta segundos...




segunda-feira, 23 de setembro de 2024

TUDO PASSA...

 

NOVOS ARTIGOS DE SEGUNDA #04

TUDO PASSA...

José Neres

 


                Tchau!

                Até Logo!

                Adeus!

                Não importa qual seja a palavra ou expressão escolhida, a hora da despedida é sempre dolorosa. Tão dolorosa que algumas pessoas preferem evitar as despedidas e saem discretamente, sem espalhafato, como se nunca tivessem passado por ali.

                Contudo, de alguma forma, estamos sempre nos despedindo de algo. Seja de uma pessoa, seja de um lugar, ou até de nós mesmos. O sábio Heráclito de Éfeso, o pai da Dialética, certa vez disse que nós não temos a possibilidade de entrar duas vezes no mesmo rio, pois, ao entrarmos novamente, já seremos outros, já seremos alguém com uma nova experiência, as águas do rio também já serão outras e, consequentemente, o rio já não será também mais o mesmo. Ou seja, nessa metáfora, ao mergulharmos nos rios da vida, deixamos para trás um pouco do que éramos e passamos a ser outra pessoa sem deixarmos que ser o que um dia fomos, como deixou gravado a escritora Cecilia Meireles em sue poema “O 4º Motivo da Rosa”, abaixo reproduzido:

Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verás, só de cinza franzida,
mortas intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que me vão lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

 

                Mas, voltando às despedidas, somos seres etéreos dentro de uma ilusão de perenidade. Um dia estamos aqui, dias depois estamos ali, e um dia estaremos longe daqueles que amamos, daqueles a quem admiramos, daqueles que queríamos que fossem eternos. Mas se nem a saudade é eterna, que dizer das pessoas. Somos “nuvem passageira” vagando em um infinito céu...

                Todos os dias, ocupamos lugares deixados por alguém, sentamo-nos em cadeiras que já foram ocupadas por tantas outras pessoas que talvez nem mesmo estejam neste mundo terrenos. Porém, em nosso tolo egoísmo, pensamos que somos os primeiros e até últimos a estar em algum lugar, a falar determinada frase, a amar, a ser amado, a odiar, a ser odiado... Mas, na verdade, estamos sempre em um ato de despedida. Até que a despedida se torne definitiva. Até que o “adeus” tome o lugar do “tchau” e do “até logo”. Estamos preparados para isso?

                Nem sempre. Nem sempre. Sempre queremos ficar um pouco mais. Nem que seja um pouquinho mais. Também queremos que nossos entes queridos permaneçam mais tempo conosco. Mas como cantava, com sua potente voz, o magistral Nelson Ned, “tudo passa, tudo passará e nada fica, nada ficará...” resta saber quando. Ou melhor, é bom nem saber quando...

                Fica então o consolo de saber que assim como os bons momentos passam, os maus também passarão. Também um dia se tornarão apenas uma vaga lembrança em um resquício de memória...

                Então o que fazer enquanto a despedida final não vem? Difícil responder...

                Mas que tal aproveitar os momentos presentes. Dar e receber aquele abraço carinhoso? Retribuir aquele sorriso singelo? Dizer eu te amo para as pessoas amadas? Fazer o bem até para quem achamos que não merece? Utópico? Claro que sim. Mas como um dia talvez nem tenhamos chance de dizer “adeus!”, as birras de hoje serão apenas um detalhe de um passado que nem deveria acontecer.

                Claro que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade não há”. Pois, depois do adeus definitivo, os versos de Raul Seixas – “tente outra vez” – Não terão mais a menor chance de aplicabilidade. Então... Carpe Diem... Se tudo passará, deixemos para o futuro pelo menos nossos bons exemplos.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

7 - JOÃO MOHANA

 Ainda imbuído no propósito de homenagear autores maranhenses, hoje trazemos o padre, professor, escritor e médico João Mohana, autor de livro como "Maria da Tempestade" e "O Outro Caminho", dois excelentes romances de nossa literatura.



JOÃO MOHANA
José Neres 

(Para Manoel dos Santos Neto)

Dizem: sempre existe um outro caminho
Em meio à tempestade que se forma.
Isso não é exceção, é pura norma…
Anotou o padre em seu caderninho

Onde, criou de pouquinho a pouquinho
Uma obra importante, imensa e bela,
Que toda a essência humana revela:
Fé, dúvida, medo, paixão, carinho…

Preparou mil filhos para o futuro,
Bispos e padres ele analisou,
O sofrer e amar tornou mais puro…

Até o bom Jesus radiografou.
Depois, combinando claro e escuro,
Sonhou com um mundo belo e seguro.


quarta-feira, 18 de setembro de 2024

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

ELAS INVADEM MINHA MENTE

 Novos artigos de segunda #03

ELAS INVADEM MINHA MENTE 

José Neres 


Não sei se acontece com vocês, mas comigo é muito comum.

Às vezes eu estou quietinho no meu canto procurando um pouco de paz ou executando alguma tarefa cotidiana, quando, de repente, algumas delas saltam do passado e invadem minha mente. Quase sempre fico atônito, sem ter o que fazer. Quase sempre me rendo a elas. Dou uma pausa no que estou fazendo e obedeço as ordens que vêm não sei de onde.

Tudo que sei é que elas quase nunca fazem parte do meu presente. Geralmente vêm de um passado distante do qual nem eu mesmo me lembrava. Mas como são belas! Mas como são boas companhias!

Mas quem são elas. Antigas namoradas que ainda povoam meus pensamentos? Dívidas a pagar? Dúvidas não sanadas? Nada disso… são algumas músicas que não respeitam hora nem lugar e teimam em tocar nos pontos mais recônditos de meu cérebro.

Um dia desses, mal acordei e uma delas veio implorar por um pouco de atenção. Era “Too late for goodbye”, que fez muito sucesso na bela voz de Julian Lennon. Confesso que me senti agradecido por ela ter se lembrado de me visitar. Uma delícia de composição! Se você ainda não a conhece, vale a pena fazer uma busca em um desses aplicativos de música.

Outra que vez ou outra dá as caras é “What a wonderful Word”, imortalizada na voz rouca de Louis Armstrong. Um verdadeiro bálsamo no meio deste mundo caótico.

“Rua Ramalhete”, de Tavito, quase todos os dias aparece em minha mente e fica a me provocar. O interessante é que, quando ela chega, não quer mais sair. Fica dando voltas e mais voltas em meu já cansado cérebro. Quando ela decide partir, deixa um ramalhete de saudades em meu coração, e jura que voltará no dia seguinte. E cumpre a promessa.

Quando meus filhotes eram crianças, eu os colocava para dormir ao som de “Carinhoso”, de Pixinguinha e Braguinha, um verdadeiro hino dedicado ao amor incondicional. Não sei se eles se lembram. Mas não consigo ouvir essa música sem rever a imagem daqueles dois anjinhos sob meu olhar de pai. Imagem sagrada!

Por falar em pai, como não tive a sorte e a graça de conviver com os meus (tive a honra de ter um pai biológico e um de criação - e amo os dois com grande intensidade), sempre recebo a emocionante visita de “Naquela Mesa”, de Sérgio Bittencourt, um clássico na voz de Nelson Gonçalves. Impossível não se emocionar com essa visita. 

Um dia desses, assistindo a um telejornal pelo qual desfilavam problemas sociais, exemplos de corrupção, crimes de todos os tipos e uma série de infelicidades, minha mente foi praticamente invadida pelos inteligentes versos de “A cara do Brasil”, divinamente interpretado pelo magistral Ney Matogrosso. E não é que logo que essa música se despediu, recebi a visita de “ Alvorada Voraz”, estrondoso sucesso do conjunto RPM, capitaneado pela voz de Paulo Ricardo…. Pareceu algo combinado para me mostrar nossa conturbada sociedade contemporânea… mas acho que foi apenas coincidência…

Uma noite dessas, exausto depois de um dia intenso de trabalho, tudo o que eu queria era um pouco de descanso. Eis, que, sem a menor cerimônia, os arranjos de “Capitão de indústria”, dos Paralamas do Sucesso, na voz de Herbert Viana, invadiram minha mente, para fazer com que eu não me esquecesse da minha condição de proletário. Entendi o recado…

E assim, diariamente, essas e outras músicas aparecem para dar um pouco de alento ou para me lembrar de minha finitude humana. Elas são ruidosas companhias das quais não abro mão. E você, caro (e raro) leitor ou leitora, também de vez em quando também tem sua mente invadida por alguns acordes que fazem você perceber que a vida vale a pena


Tomara que sim!

sábado, 14 de setembro de 2024

6 - CELSO MAGALHÃES

 Mais uma vez estamos aqui em homenagem a um escritor maranhense que nem sempre é lembrado. Desta vez, trazemos Celso Magalhães, esse paladino da justiça que enfrentou os poderosos e levou Ana Rosa Ribeiro às barras dia tribunais 

Celso Magalhães foi também um grande pesquisador do folclore brasileiro e deixou, diversos textos em prosa e em versos.




CELSO MAGALHÃES 

(Para Fátima Travassos)


Dia e noite, lutava por justiça.

Apaixonado por literatura,

Fez da cultura sua irmã postiça

E da palavra uma eterna armadura.


Sua vida foi curta e muito dura.

Antes das três décadas completadas

Cruzou caminho de vil criatura

Que matava inocentes a garfadas.


Patrono do Público Ministério 

De sua província tão bem querida

Onde lutou contra cruel império,


Onde teve sua honra tão ferida,

Onde já recebeu tanto impropério,

Onde sua obra é tão esquecida…

terça-feira, 10 de setembro de 2024

5 - MARIANA LUZ

 MARIANA LUZ

Dando continuidade ao projeto de homenagear os autores maranhense que acabaram caindo no esquecimento, deixamos aqui o texto relativo à escritora itapecuruense Mariana Luz, autora do livro Murmúrios


Imagem retirada da Internet


MARIANA LUZ

José Neres


(Para Jucey Santana)


Ela se chama Mariana Luz,

Escritora de brilho grandioso,

De estilo bem límpido, poderoso

Que muito encanta, sempre nos seduz.


Foi mestra de fibra, mulher de garra.

Na vida, a pobreza foi sua cruz,

Mas tinha no peito um nome - Jesus…

Virou dona Professora-Cigarra…


Dizem que sua obra nem foi tão vasta,

Mas, pra ser poeta, um bom verso basta,

Desde que tenha a força do mercúrio,


Que seja suave como um Murmúrio,

Que seja uma pedra que só se engasta

Onde tênue fresta de luz se arrasta.


domingo, 8 de setembro de 2024

O NOVO LIVRO DE BENEDITO BUZAR

 NOVOS ARTIGOS DE SEGUNDA #02


O NOVO LIVRO DE BENEDITO BUZAR

José Neres

 

Mesa composta por Benedito Buzar, Lourival Serejo e Claunísio Amorim

                Na noite de 05 de setembro de 2024, na sede de Academia Maranhense de Letras, diante de mais de uma centena de pessoas, o jornalista e escritor Benedito Bogéa Buzar apresentou ao público seu novo livro, intitulado Roda Viva – 1972, dividido em dois volumes (o primeiro com 373 e o segundo com 426 páginas, perfazendo um total de 799 páginas), no qual faz um mergulho nos movimentos sociais, políticos e culturais daquele ano e traz de volta aos olhos do público, mais de meio século depois, algumas notícias que frequentaram as páginas dos jornais maranhenses.

                Muitas das pessoas presentes na plateia viveram a época retratada no livro e possivelmente leram as notícias e observações que eram publicadas em uma das mais importantes colunas políticas da história do jornalismo maranhense. Outras, porém, nem eram nascidas quando aquelas linhas foram escritas divulgadas. De qualquer modo, agora, com a publicação desses textos no formato de livro, torna-se possível um breve retorno no tempo para que todos possam (re)ler e analisar – sem as paixões, temores e tremores da época – alguns detalhes que talvez não tenham chamado tanto a atenção no momento em que frequentaram as páginas dos jornais.

                O estilo elegante e escorreito de Benedito Buzar chama a atenção do leitor desde as primeiras linhas do livro. As frases são breves e refletem exatamente aquilo que o escritor “quis dizer” em determinada situação. Ao passar os olhos pelas notas, artigos e observações que compõem o material recolhido, temos a impressão de entrar em um túnel do tempo e reviver algumas passagens e acordos que foram decisivos para a compreensão de diversos pontos das conjunturas políticas atuais. Interessante que, quando nos deparamos com livros dessa natureza, percebemos a quantidade de acontecimentos que passam por nós de modo aparentemente imperceptível, mas que impactam diretamente na vida de cada um de nós.

                O editor e organizador da obra – o historiador Claunísio Amorim – foi muito feliz em dividir a obra em dois volumes, em não censurar passagens que hoje poderiam parecer comprometedoras e em organizar o texto dia a dia. Com isso, o leitor tanto pode ir direto a determinada data de interesse, como pode também seguir a linha cronológica e mergulhar nos altos e baixos da vida social-cultural-política daquele início de década de 1970, época de profundas transformações em todas as esferas da vida pública do Maranhão e do Brasil como um todo.

                Provavelmente, durante a leitura de Roda Viva – 1972, alguns leitores poderão considerar uma ou outra passagem desnecessária e/ou supérflua. Mas é importante notar que, quando foi publicado em jornais, aqueles textos faziam parte de um painel prismático que trazia em seu bojo diversos interesses. Desse modo, ao serem lidas, mais de cinquenta anos depois, cada uma dessas notinhas pode despertar emoções e interesses também distintos, podendo todo mundo sentir-se contemplado em alguma página. Assim, quem tiver interessado nas mudanças paisagísticas da cidade poderá encontrar algumas preciosas observações; quem tiver como foco de pesquisa a educação poderá se deparar com o tom crítico, e até certo ponto desesperançoso, de Buzar com relação aos aspectos educacionais do período descrito. Da mesma forma, o livro pode atingir pessoas interessadas em política, economia, sociedade em geral, literatura, picuinhas e articulações eleitoreiras, personalidades, querelas jurídicas etc. Tudo isso e muito mais tem presença garantida nas quase oito centenas de páginas que compõem a obra.

                A parte ruim do livro é que ele desperta no leitor o desejo de saber como se desenrolaram algumas questões que tiveram início naquele ano, mas que devem ter se arrastado por meses a fio. Fica então duas soluções para equacionar esse problema: 1) frequentar a hemeroteca da Biblioteca Pública Benedito Leite para ler a coluna nos jornais dos anos seguintes; ou 2) torcer para que os demais volumes não demorem muito a chegar em nossas mãos. Certamente eles serão recebidos com o mesmo entusiasmo e com os aplausos que iluminaram o são nobre da Academia Maranhense de Letras. Parabéns ao escritor e jornalista Benedito Bogéa Buzar, por deixar esses registros para a posteridade!


CLIQUE AQUI e leia o artigo anterior





sexta-feira, 6 de setembro de 2024

4 - ADELINO FONTOURA

 Continuando no projeto de homenagear alguns escritores maranhenses que acabaram caindo no esquecimento, trazemos hoje o poeta, ator e jornalista Adelino Fontoura, que apesar de haver vivido apenas 25 anos, deixou-nos alguns poemas interessantes


ADELINO

(Para José Ewerton Neto)


É Filho ilustre da bela Axixá,

Foi jornalista, poeta e ator,

Perseguido por pensar e falar,

Usou ironia como arma e motor 


Nos palcos contra forte opositor,

Cuja esposa gostava de matar

Crianças com garfos, ódio e terror,

Como forma do espírito acalmar.


Mesmo esquecido quase por inteiro,

Da ABL é patrono primeiro.

“Antes de partir”, fez celestes versos


Que por aí continuam dispersos.

São sonetos e trioletos certeiros

Desse esquecido vate brasileiro.

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

O PRÓPRIO NOME PRÓPRIO

 NOVOS ARTIGOS DE SEGUNDA #01

O PRÓPRIO NOME PRÓPRIO

José Neres

 


                Não consigo parar de admirar quem, mesmo diante das adversidades, não deixa de se preocupar com seu próprio nome. Não falo aqui do nome como sequência de letras e sílabas, nem como forma regimental de apresentação ou de preenchimento de fichas e documentos. Falo do nome como algo que vai além das palavras, que vai até mesmo além da própria pessoa representada por aquela complexa cadeia fonêmica. Falo do nome como fonte de história e de orgulho de ser aquilo que tanto lutamos para ser.

                Em muitos momentos de nossa conturbada vida, tudo o que temos para nos proteger das intempéries sociais é o nosso próprio nome. A certeza de que ele é limpo e capaz de nos elevar à condição de semideuses, mesmo que nossos bolsos e bolsas estejam vazios e sem perspectiva de receberem algum centavo nos próximos dias. A sensação de dormir bem, sem a preocupação de ser acordado às seis da manhã sob a ameaça de um mandado de busca e apreensão ou sob acusações difamatórias, faz a pele ficar mais suave e rejuvenesce até mesmo um corpo cansado das lides diárias em busca da sobrevivência.

                Há quem, talvez movido por questões estéticas, não goste do próprio nome. Mas é sempre bom lembrar que nosso nome foi um presente carinhosamente oferecido por nossos pais ou por alguém que nos amava de verdade e que, naquele momento, achou aquele nome bonito, sonoro e perfeito para oferecer para uma criança que acabava de chegar ao mundo. A nosso nome, bonito ou feio, estão as marcas de uma história que, si-len-ci-o-sa-men-te, se repete cada vez que somos chamados.

                Você ainda se lembra do frio na espinha quando nossa mãe nos chamava pelo nome completo? Geralmente, ela o pronunciava pausadamente, sílaba por sílaba. Uma coisa era certa: Havíamos aprontado alguma coisa. E – pior! – ela havia descoberto algum de nossos deslizes. Garanto... Se você já não pode ter esses entes queridos a seu lado... como seria bom tê-los novamente pronunciando aquele nome e dando aquela bronca caprichada. Mas... nem sempre isso é possível. Infelizmente...

                Nomes são perigosos. Na escola, entre os meninos principalmente, quando o nome da mãe de um deles era descoberto, tinha início uma série de brincadeiras (quase todas de mau gosto) que na época eram tidas como algo grave, mas que hoje talvez arranque belas gargalhadas quando aqueles colegas de escola se encontram já com cabelos brancos ou, quem sabe, já sem cabelos a ostentar.

                Por falar em escola, nem sempre nos lembrávamos do nome dos professores na hora de preencher o cabeçalho das provas. Ali não havia João, Maria, Juarez, Paula, Francisco... Todos eram nominados como o professor de Matemática, a professora de Português, o professor de Inglês... e assim por diante. Por outro lado, em muitas escolas, a chamada era feita por número. Número 01 – presente; Número 02 – Número 03 – faltou; Número 04... Dessa forma, quando um professor ou professora nos chamava pelo nome, isso poderia indicar a glória: - “Ele sabe quem eu sou!!!” Ou o fim de uma carreira de bagunça: -“Meu Deus, ele já sabe meu nome, estou frito!!!”

                De alguma forma, tudo começava com um nome. Com um nome que precisa ser preservado das más influências e dos usos inadequados. Fizeram bem em, na hora da eleição, deixar apenas um número frio e opaco. Porém, digitado o número, antes da confirmação, o que temos ali na tela é uma imagem e um nome. Às vezes dá vontade de chorar: Por trás de um nome tão pomposo se esconde tanta sujeira! Será que você se lembrará daquele nome daqui a dois, quatro ou seis anos? Talvez sim, talvez não. Será que nas próximas eleições o seu nome, hipotético (a)leitor ou (e)leitora, ainda continuará puro e limpo? Ou ele estará contribuindo para sujar ainda mais nossa cidade ao ser impresso e distribuído em forma de abjetos “santinhos”, que de santo nada tem.

                Não consigo parar de admirar quem, mesmo diante de adversidades, sabe que seu nome não pode ser arrastado pela lama da perdição, da corrupção ou de um mau uso. Nosso nome é parte de nossa história. Falo de nosso nome, um tesouro que não pode ser corrompido.

domingo, 1 de setembro de 2024

3 - Odylo Costa, filho

 Continuando no intuito de homenagear escritores maranhenses hoje esquecidos, apresentamos abaixo o jornalista, poeta e pesquisador Odylo Costa, filho. Escritor muito festejado que fez parte da Academia Brasileira de Letras


ODYLO 

(Para Dino Cavalcante)


Vírgula em nome é coisa de estranhar,

Mas estranho mesmo, em terra de cultura,

É ver um órgão que tinha estrutura

Viver abandonado ao Deus-dará.


O talentoso Odylo Costa, filho, 

Jornalista, poeta, prosador,

Dedicou a Nazaré, seu grande amor,

Mil poemas de superior brilho.


De estilo leve, claro, encantador,

Uma faca e um rio eternizou,

Bem como bichos que moram no céu…


Grande Centro Cultural se tornou:

Homenagem que ficou no papel 

Pois o Centro, há tempos, vive ao léu.





25 - FERREIRA GULLAR

 Fim de ano e também fim de projeto. Ao longo de vários meses, homenageamos duas dezenas e meia de escritores maranhenses.  Tudo começou qua...