Novos artigos de segunda #03
ELAS INVADEM MINHA MENTE
José Neres
Não sei se acontece com vocês, mas comigo é muito comum.
Às vezes eu estou quietinho no meu canto procurando um pouco de paz ou executando alguma tarefa cotidiana, quando, de repente, algumas delas saltam do passado e invadem minha mente. Quase sempre fico atônito, sem ter o que fazer. Quase sempre me rendo a elas. Dou uma pausa no que estou fazendo e obedeço as ordens que vêm não sei de onde.
Tudo que sei é que elas quase nunca fazem parte do meu presente. Geralmente vêm de um passado distante do qual nem eu mesmo me lembrava. Mas como são belas! Mas como são boas companhias!
Mas quem são elas. Antigas namoradas que ainda povoam meus pensamentos? Dívidas a pagar? Dúvidas não sanadas? Nada disso… são algumas músicas que não respeitam hora nem lugar e teimam em tocar nos pontos mais recônditos de meu cérebro.
Um dia desses, mal acordei e uma delas veio implorar por um pouco de atenção. Era “Too late for goodbye”, que fez muito sucesso na bela voz de Julian Lennon. Confesso que me senti agradecido por ela ter se lembrado de me visitar. Uma delícia de composição! Se você ainda não a conhece, vale a pena fazer uma busca em um desses aplicativos de música.
Outra que vez ou outra dá as caras é “What a wonderful Word”, imortalizada na voz rouca de Louis Armstrong. Um verdadeiro bálsamo no meio deste mundo caótico.
“Rua Ramalhete”, de Tavito, quase todos os dias aparece em minha mente e fica a me provocar. O interessante é que, quando ela chega, não quer mais sair. Fica dando voltas e mais voltas em meu já cansado cérebro. Quando ela decide partir, deixa um ramalhete de saudades em meu coração, e jura que voltará no dia seguinte. E cumpre a promessa.
Quando meus filhotes eram crianças, eu os colocava para dormir ao som de “Carinhoso”, de Pixinguinha e Braguinha, um verdadeiro hino dedicado ao amor incondicional. Não sei se eles se lembram. Mas não consigo ouvir essa música sem rever a imagem daqueles dois anjinhos sob meu olhar de pai. Imagem sagrada!
Por falar em pai, como não tive a sorte e a graça de conviver com os meus (tive a honra de ter um pai biológico e um de criação - e amo os dois com grande intensidade), sempre recebo a emocionante visita de “Naquela Mesa”, de Sérgio Bittencourt, um clássico na voz de Nelson Gonçalves. Impossível não se emocionar com essa visita.
Um dia desses, assistindo a um telejornal pelo qual desfilavam problemas sociais, exemplos de corrupção, crimes de todos os tipos e uma série de infelicidades, minha mente foi praticamente invadida pelos inteligentes versos de “A cara do Brasil”, divinamente interpretado pelo magistral Ney Matogrosso. E não é que logo que essa música se despediu, recebi a visita de “ Alvorada Voraz”, estrondoso sucesso do conjunto RPM, capitaneado pela voz de Paulo Ricardo…. Pareceu algo combinado para me mostrar nossa conturbada sociedade contemporânea… mas acho que foi apenas coincidência…
Uma noite dessas, exausto depois de um dia intenso de trabalho, tudo o que eu queria era um pouco de descanso. Eis, que, sem a menor cerimônia, os arranjos de “Capitão de indústria”, dos Paralamas do Sucesso, na voz de Herbert Viana, invadiram minha mente, para fazer com que eu não me esquecesse da minha condição de proletário. Entendi o recado…
E assim, diariamente, essas e outras músicas aparecem para dar um pouco de alento ou para me lembrar de minha finitude humana. Elas são ruidosas companhias das quais não abro mão. E você, caro (e raro) leitor ou leitora, também de vez em quando também tem sua mente invadida por alguns acordes que fazem você perceber que a vida vale a pena?
Tomara que sim!