Novos artigos de segunda #7
QUEM ESCUTA OS PROFESSORES?
José Neres
Mais uma homenagem a uma escritora que muito contribuiu para nossa cultura, mas que agora está meio esquecida.
CONCEIÇÃO NEVES ABOUD
José Neres
(para Inaldo Lisboa)
Por entre seus dedos, um rio fluía…
O “rio vivo” da imaginação.
Ela todos os dias coloria
O mundo com a tinta da ficção.
Belo dia, na Ilha, soprou um vento
E ela, brincando em “ciranda da vida”
Criou as linhas que tecem o tempo
Em obra muito bem desenvolvida.
“Galhos de cedro”, “grades e azulejos
São outros romances seus publicados,
Mas, por falta de verba e de desejos,
Livros como “o preço” foram deixados
À espera de outros melhores ensejos,
Seguindo até esta hora ignorados.
Não me canso de homenagear os grandes escritores de nossa terra. Desta vez, trago o cronista, poeta, jornalista e contista Humberto de Campos, um escritor que marcou uma geração com a força de seus escritos.
HUMBERTO DE CAMPOS
José Neres
(Para Rinaldo de Fernandes)
As memórias não cabem num diário.
Elas são múltiplas e inacabadas,
São poeiras de vidas relembradas,
São crônicas em busca de um salário.
Tais memórias são lutas reprisadas,
É monstro esperando único sinal
Do tímido garoto Catimbau,
A esperar beijo em faces degoladas.
As memórias são frutos de cajueiro
Rodando o mundo em latas de conserva,
Revivendo de janeiro a janeiro
Tudo o que vivi em extrema reserva.
Mas eis que tive um sonho derradeiro:
Morrer tendo a verdade como serva.
Hoje, no dia das comemorações do 161⁰ ano do nascimento de Catulo da Paixão Cearense, deixamos aqui nossa homenagem a esse incrível escritor.
CATULO DA PAIXÃO CEARENSE
José Neres
(Para Vavá Melo)
Da cidade, ele cantou o sertão,
Dormiu e acordou ao som do luar,
Disse às moças as belezas do amar,
Usando apenas a voz e um violão.
Era Catulo da Paixão Cearense
Grande poeta de imenso talento
Para criar versos era um portento -
Grande orgulho do povo maranhense…
Catulo foi só poesia e paixão,
Sua obra hoje é livro, peça e canção,
É bom exemplo de boa poesia
Catulo - caso lido todo dia -
Mostra que o mundo é uma explosão
Que toca fundo mente e coração.
Novos artigos de segunda #06
ESCORAS
José Neres
Chegamos ao fim de mais um período eleitoral. Depois das comemorações, os municípios talvez voltem ao estágio de normalidade. Talvez!
Neste exato momento, todos nós já sabemos o nome de cada um dos eleitos. Não sei se algum dos vencedores voltou às ruas para agradecer pelos votos. Muitos já descobriram que as promessas recebidas nada mais eram do que palavras jogadas ao vento da enrolação. Mas enrolão que enrola enrolão, merece cem anos de perdão. Ou mais! Às vezes, alguém pensa que irá buscar lã e sai de seu hipotético curral eleitoral todo tosquiado. Sem dinheiro, sem votos e como motivo de chacotas. Muitas vezes nem mesmo é convidado para tomar um copo daquela cerveja que ele mesmo pagou.
Não foi nada bonito ver nossas ruas coloridas com os milhares de “santinhos” que foram jogados durante a madrugada. Contudo toda essa sujeira pode dar ao eleitor a agradável sensação de poder pisar na cara daqueles inoportunos sujões que só voltarão a caminhar entre nós no decurso do próximo período eleitoral.
Outro caso interessante é observar como diversos candidatos se escoravam (em alguns casos deu certo!) em pomposos sobrenomes já clássicos nos cenários políticos. Outros se escoravam no poder econômico e na certeza de que aquele voto comprado não seria motivo de veto a seu já encardido nome.
Houve também quem se escorasse nas sombras de pessoas de renome local, regional, nacional ou até internacional. Os eleitores mais ingênuos chegaram até mesmo a acreditar que aquela personalidade tão conhecida tenha parado por alguns momentos para posar para aquela foto notadamente modificada por algum programa de computador ou, como ocorre hoje, pela Inteligência Artificial. Há quem acredite em tudo!
Claro que houve quem se escorasse em um certo sucesso midiático. “Todo mundo me conhece…”, pensava o inocente candidato (existe essa categoria?) que descobriu, ao ler o relatório final, que não passa de um mero desconhecido com certa mania de grandeza. Megalomania pura ou impura.
Alguns candidatos se escoraram em (in)certas pesquisas sem o menor critério científico e que escondiam a falta de conteúdo com alguns nomes bonitos e palavreado cheio de indecifráveis termos técnicos. “Vi. Não entendi, mas, para não parecer burro, finjo que entendi”.
Principalmente houve quem se escorasse em polpudos fundos partidários, dinheiro coletado em impostos e que virou fumaça ou bens materiais. Já imaginaram se todos esses recursos fossem alocados de forma eficiente para combater a fome, a pobreza, o analfabetismo, as arboviroses, a mortalidade infantil, o abandono dos idosos, a falta de segurança?... Mas isso é um sonho…
Mas ontem, com a divulgação dos resultados, muitas escoras caíram. E, quando as frágeis escoras caem, surge uma breve oportunidade de o povo observar as escórias que se escondiam por trás delas.
Agora é respirar fundo e esperar. Daqui a dois anos, muitos desses grandes descobridores de solução para tudo estarão de volta. Beijarão crianças sujas, abraçarão idosos, beberão em copos de plástico, comerão em locais populares e estamparão aquele belo e ensaiado sorriso.
E nós - talvez - estaremos aqui, observando tudo com um sorriso cínico e vendo novas e velhas escoras ruírem ao som de irritantes musiquinhas de gosto duvidoso .
Só esperar!
Dia sei deste mês de outubro, comemoramos os dois anos da chegada do Levi. Eis nosso singelo presente, do qual ele só terá noção daqui a alguns anos.
Parabéns, Levi!!!!!
LEVI
José Neres
(Para Laura e Thomas)
Bolinho de carne. Toquinho de gente…
Como pode um ser tão pequenino,
Uma breve luz de sopro divino,
Alterar tantas vidas de repente?
Era madrugada, o mundo dormia,
Então a virgem lua empalideceu…
No céu, um anjo disse: “Levi nasceu!”
Outro gritou: “ Hoje é festa…Alegria!”
Ele olhou para um e para o outro lado…
“Papai? Mamãe?” - então, logo pensou:
“Estou protegido, ó Deus, Obrigado!”
Da criança aquele sono pesado
É de confiança em quem a gerou,
Certeza de que a alegria chegou.
Ela não deixou uma linha escrita, mas deixou exemplos de amor e de solidariedade. Sem nenhum gerar, criou vários filhos com todo carinho.
Dois dias antes do Dia das Mães, prestes a completar seu 95⁰ aniversário, ela, discreta como sempre foi, partiu rumo ao o finito.
Fica aqui nossa homenagem
DONA GENY
José Neres
Agora que já estás longe das dores,
Deitada em eterno sono profundo,
Encoberta por mil ramos de flores,
Sabes a falta que fazes ao mundo.
A cadeira permanece vazia,
E nosso olhar na parede também…
E nossos risos não têm alegria
E nossos lábios só dizem “Amém!”
Tão bem soubeste ler nosso mundo
Sem recorrer ao alfabeto mundano
Sem transformar ser sacro em ser profano.
Cicatrizes saram no corpo humano,
Mas, em nossa alma, a dor, em tom profundo,
Nos seguirá até um outro eterno mundo.
Sempre no propósito de homenagear nossos escritores, hoje trazemos Bandeira Tribuzi, um dos mais representativos nomes de nossa literatura.
São Luís, a natureza humana e as reflexões do dia a dia estão no centro da produção literária de Bandeira Tribuzi, um poeta sempre atual.
BANDEIRA TRIBUZI
José Neres
(Para Flaviano Menezes)
Ó, minha cidade, como viver
Vendo todo dia tua agonia?
Como irei tuas fontes esquecer,
Se elas são minhas fontes de alegria?
Plantaste uma rosa cheia de esperança,
Um dia, à sombra de belo pinheiro,
A safra não teve aquela pujança
Com que tanto sonhaste o ano inteiro.
Hoje aqueles sonhos pele e ossos são…
Hoje, nossa velha-nova cidade
Nos ensina uma grande lição:
Viver é também ter capacidade
De fingir não morrer só de saudade,
De sufocar dores no coração.
As pessoas um dia passarão. Deixarão este mundo físico e se encantarão em um indevassável além. Nós, que ainda estamos por aqui habitando este mundo terreno, nos tornamos responsáveis por guardar (n)a memória dos que já partiram.
As pessoas passam, as obras ficam. Lembro-me de que meu saudoso amigo Carvalho Junior, pouco antes de seu passamento, andava recolhendo informações sobre a vida e a obra do poeta Déo Silva. Provavelmente, ele encontrou muitos documentos... Nunca saberei.
O homenageado de hoje é o poeta Déo Silva, dono de uma dicção poética de altíssimo nível e que precisa se lido com atenção.
DÉO SILVA
José Neres
(Para Wybson Carvalho)
De todos os ângulos deste mundo,
Parece-me o noturno o mais exato,
Pois ele me traz um vivo retrato
De um poeta batizado Raymundo.
Ele na arte adotou por nome Déo,
Era poeta de talento fecundo,
Fazia versos de tom tão profundo…
Parecem astros plantados no céu.
Sua “Equação do Verbo” confirmou
Como a arte pode ser simples e bela.
Poucos trabalhos ele publicou.
Grande poeta, agia com cautela,
As curvas da vida ele respeitou,
Mas um grave acidente a tirou dela.
Embora com pouquíssima visibilidade, não desistimos de homenagear os autores da literatura maranhense. Trazemos hoje a encantadora figura de Viriato Corrêa, um dos mais férteis autores de nosso Brasil. Viriato é autor de muitas obras, mas em sua produção se destaca o livro Cazuza, um romance de formação que traz um magnífico recorte da história da educação brasileira.
Continuando em nosso propósito de homenagear os autores maranhenses, hoje trazemos o jornalista, roteirista e prosador José Louzeiro, autor de diversos textos no qual retratava personagens saídos do dia a dia e mostrava uma realidade que quase sempre tentamos esconder.
1 - Quando o sinal toca anunciando o final de uma aula não é apenas uma aula que acaba, mas também uma oportunidade que nos deixa. Uma oportunidade de aprender e de sonhar com dias melhores. Mas o que interessa é sair o mais rápido possível.
2 - De repente, parece que determinadas pessoas descobriam a solução mágica para todos os problemas da Cidade. Mas tais problemas estão aí há décadas e, provavelmente, depois das eleições, continuarão. Porém essas pessoas que têm as fórmulas mágicas desaparecerão por mais tantos anos.
3 - Oh, uma "influenciadora" elogiou Machado de Assis! Oh, uma atriz falou bem da obra de Clarice Lispector! Que maravilha. Finalmente temos uma literatura... Há décadas ouço/leio/escuto pessoas falando bem de nossos autores, mas parece que precisamos da autenticação de alguém de fora para percebermos que estamos sentados sobre um tesouro.
Não conhecemos os frutos de nosso quintal, mas adoramos devorar os frutos dos quintais alheios. Será que um dia iremos perceber nossos valores?
Agora terei que torcer para algum "influenciador" (de fora, fique bem claro) elogie Gullar, Manoel de Barros, Patativa do Assaré, Raduan Nassar, Mario Quintana, Nauro Machado, Murilo Rubião, Fernando Sabino, Cora Coralina, Carolina Maria de Jesus, Josué Montello, Laura Rosa, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Murilo Mendes... Caso contrário, o brasileiro talvez nunca descubra que eles existiram e escreveram. E como escreveram!...
Ia falar mais, porém o sinal tocou... O importante é sair o mais rápido possível e aproveitar os vídeos com as dancinhas de trinta segundos...
NOVOS
ARTIGOS DE SEGUNDA #04
TUDO PASSA...
José Neres
Tchau!
Até
Logo!
Adeus!
Não
importa qual seja a palavra ou expressão escolhida, a hora da despedida é sempre
dolorosa. Tão dolorosa que algumas pessoas preferem evitar as despedidas e saem
discretamente, sem espalhafato, como se nunca tivessem passado por ali.
Contudo,
de alguma forma, estamos sempre nos despedindo de algo. Seja de uma pessoa,
seja de um lugar, ou até de nós mesmos. O sábio Heráclito de Éfeso, o pai da
Dialética, certa vez disse que nós não temos a possibilidade de entrar duas
vezes no mesmo rio, pois, ao entrarmos novamente, já seremos outros, já seremos
alguém com uma nova experiência, as águas do rio também já serão outras e,
consequentemente, o rio já não será também mais o mesmo. Ou seja, nessa
metáfora, ao mergulharmos nos rios da vida, deixamos para trás um pouco do que éramos
e passamos a ser outra pessoa sem deixarmos que ser o que um dia fomos, como deixou
gravado a escritora Cecilia Meireles em sue poema “O 4º Motivo da Rosa”, abaixo
reproduzido:
Não te
aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verás, só de cinza franzida,
mortas intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos,
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que me vão lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
Mas,
voltando às despedidas, somos seres etéreos dentro de uma ilusão de perenidade.
Um dia estamos aqui, dias depois estamos ali, e um dia estaremos longe daqueles
que amamos, daqueles a quem admiramos, daqueles que queríamos que fossem eternos.
Mas se nem a saudade é eterna, que dizer das pessoas. Somos “nuvem passageira” vagando
em um infinito céu...
Todos os
dias, ocupamos lugares deixados por alguém, sentamo-nos em cadeiras que já
foram ocupadas por tantas outras pessoas que talvez nem mesmo estejam neste
mundo terrenos. Porém, em nosso tolo egoísmo, pensamos que somos os primeiros e
até últimos a estar em algum lugar, a falar determinada frase, a amar, a ser
amado, a odiar, a ser odiado... Mas, na verdade, estamos sempre em um ato de
despedida. Até que a despedida se torne definitiva. Até que o “adeus” tome o
lugar do “tchau” e do “até logo”. Estamos preparados para isso?
Nem sempre.
Nem sempre. Sempre queremos ficar um pouco mais. Nem que seja um pouquinho
mais. Também queremos que nossos entes queridos permaneçam mais tempo conosco.
Mas como cantava, com sua potente voz, o magistral Nelson Ned, “tudo passa,
tudo passará e nada fica, nada ficará...” resta saber quando. Ou melhor, é bom
nem saber quando...
Fica
então o consolo de saber que assim como os bons momentos passam, os maus também
passarão. Também um dia se tornarão apenas uma vaga lembrança em um resquício de
memória...
Então o
que fazer enquanto a despedida final não vem? Difícil responder...
Mas que
tal aproveitar os momentos presentes. Dar e receber aquele abraço carinhoso? Retribuir
aquele sorriso singelo? Dizer eu te amo para as pessoas amadas? Fazer o bem até
para quem achamos que não merece? Utópico? Claro que sim. Mas como um dia talvez
nem tenhamos chance de dizer “adeus!”, as birras de hoje serão apenas um
detalhe de um passado que nem deveria acontecer.
Claro
que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você
parar pra pensar, na verdade não há”. Pois, depois do adeus definitivo, os
versos de Raul Seixas – “tente outra vez” – Não terão mais a menor chance de
aplicabilidade. Então... Carpe Diem... Se tudo passará, deixemos para o
futuro pelo menos nossos bons exemplos.
Ainda imbuído no propósito de homenagear autores maranhenses, hoje trazemos o padre, professor, escritor e médico João Mohana, autor de livro como "Maria da Tempestade" e "O Outro Caminho", dois excelentes romances de nossa literatura.
Novos artigos de segunda #15 E se Pound lesse o “Arabesco” de Laura Amélia Damous?... José Neres Em um de seus estudos sobre literatura, o...